quinta-feira, 28 de março de 2013

12 a 26 de Março de 2013. Diário da cidade dos leilões de escravos




12 de Março
Duas horas e trinta e oito minutos da manhã. Acordo e oiço doze tiros de pistola, parece, ali para a zona do Largo Primeiro de Maio. Há intensa vozearia humana, seguem-se mais doze tiros de pistola. A mesma vozearia prossegue. Mais outra vez uma dúzia, ou mais de tiros de pistola. Depois os tiros acabaram, e as vozes paulatinamente também.
13 de Março
Alexandra Semeão, acaba de dizer na LAC – Luanda Antena Comercial, em Elas e o Mundo, que quem importa jornalistas estrangeiros são os patriotas.
12.43 horas. Mais um apagão.
14 de Março
Sem um milhão de casas, sem um milhão de nada, mas com um milhão de apagões.
A luz chegou às 00.10 horas.
15 de Março
Ana Amorim no Facebook. Tou farta. Pago luz à Edel sem a ter, gasto combustível pago caução dos "bidons", manutenção em casa, nas lojas e viva a vida.
Água não tenho desde 2006, e uma conta absurda.... porra que esta merda cansa mesmo. A chuva transformou Viana em lama água e porcaria.
Para onde vão os impostos que pagamos? taxa de circulação mais irt etc etc ...?
Cansei. Ah! E a merda da dstv quando chove perde o sinal, unitel nada, movicel nem pensar. Havemos de voltar? Não! Já voltámos.
Mais um infindável apagão às 10.14. A energia eléctrica foi restabelecida às 21.14 horas.
16 de Março
Outro apagão às 11.36, a luz voltou às 13.12 horas.
17 de Março
Nenhum governante tem o direito de impor a miséria às populações, e por isso mesmo elas têm o direito legítimo de se manifestarem. Governantes que usam e abusam do mentir descaradamente que em Angola não existe corrupção, pois basta analisar uma conta bancária de um qualquer governante e lá está a prova mais do que suficiente, porque os constantes apagões, o emblema nacional, é o mais sórdido que se pode oferecer a uma população, e como ninguém consegue opor-se com verticalidade e frontalidade aos que recebem por direito hereditário todas as riquezas, e como se não bastasse, as terras e as praias, conversa, conversa e mais conversa, sem energia eléctrica a miséria é um facto consumado, pelo que nada mais há a exigir ou a reclamar. Manos e manas, isto acabou, ponto final!
18 de Março
O escravo durante a sua curta vida repete incessantemente: melhores dias virão.
Angola não é um país, é um campo de exploração de petróleo.
Angola, a República da Idade da Pedra.
Angola é uma colónia de matérias-primas para abastecimento dos países escravocratas. No dia em que os angolanos e outros africanos aprenderem a saírem às ruas para manifestarem o seu desagrado e para reivindicarem os seus legítimos direitos, então sim, serão finalmente livres, independentes e democráticos.
No caso da energia eléctrica, quando um governo é incapaz do seu abastecimento, a saída ideal é a sua resignação e a convocação de eleições não fraudulentas.
A função deste regime é arrasar Luanda e arredores. Continua aterrador o grau de destruição que emana dos seus tentáculos. Provocar apagões constantes a fingir que temos energia eléctrica que afinal é esotérica, e para obrigar à compra de geradores, para que fiquemos mais uma cidade chinesa irrespirável, a transbordar de morte. A produção petrolífera incrementa-se, nada-se num mar de petróleo de dólares. A economia e a riqueza deles aumentam, a nossa miséria é de tal grandeza que não se vê o fim. Não há Poder para governar mas apenas para nos pilhar. Eis o sombrio panorama anunciado: Ontem o Mali, hoje a República Centro Africana, e a seguir?
19 de Março
Denúncia de uma fonte devidamente identificada. Três chineses estão nas traseiras da Pomobel, na rua Rei Katyavala, próximo do Zé Pirão, Luanda, a estudarem qual é a melhor, isto é, a pior maneira de destruírem tudo o que se encontra por aqui, ao serem encarregues?, da continuação do desabamento do prédio do general Ledi de construção ilegal, clandestina. Evidentemente que os chineses só querem é facturar, e se esta merda desabar, é que vai mesmo desabar, eles já receberam o deles. De lembrar que o Hotel Katyavala do general está penhorado, e as obras embargadas. Mas como ele só obedece ao comandante-em-chefe…
20 de Março
Que o caso de Chipre, Portugal, Grécia, Espanha etc, nos sirva de exemplo: enquanto as quadrilhas democráticas teimarem no Poder, não deixem dinheiro depositado nos bancos porque ficarão sem ele.
21 de Março
02.30 horas da manhã. Estou a dormir na varanda. Acordo com a chuva a bater-me. Fujo-lhe, depois encosto-me na porta a observar a intempérie. Em seguida vem forte ventania que obriga as árvores a vergarem-se em risco de desabamento. Tudo o que é telhados de chapas de zinco vibra fortemente, algumas voam. Depois cai chuva diluviana, assustadora. E de repente o pensamento voa-me ao encontro dos deportados do bairro Mayombe/Cacuaco em Luanda, e de todos os outros campos de concentração de Angola. As chapas voaram-lhes ficando à mercê do céu, na nudez da miséria. Às crianças, imagino-lhes os choros do sofrimento, as mais vulneráveis da corrupção vigente, o petróleo nunca lá lhes chegará, porque foi-lhes desviado, espoliado pela religião dos senhores dos escravos.
22 de Março
A energia eléctrica faleceu às 14.57, e ressuscitou às 16.17 horas. Às 20.27 disse-nos adeus e renasceu às 21.46 horas.
Cerca das 23.00 horas, depois de um mais ou menos violento vendaval a Net foi-se. Creio que o vento derrubou a antena, outra vez, da Angola Telecom.
23 de Março
A Net apareceu por volta das 15.00 horas. Cerca das 20.30 a Net lá se foi mais uma vez.
24 de Março
A luz foi-se, onde é que eu já li isto?, às 01.10, e sorriu-nos ás 02.08 horas. Tornou a fugir às 07.01, cansou-se e voltou para o nosso seio às 07.43 horas. Sumiu às 08.01 e por artes mágicas luziu-nos às 08.26 horas. Fugiu-nos às 10.28 e regressou ao lar às 11.51 horas.
25 de Março
07.39, tem lugar mais um apagão.
26 de Março
E a luz reencontrou o caminho de casa e nela reentrou às 11.43 horas. Voou às 15.54.
O uso de geradores tem que ser proibido, e obrigar ao uso da energia solar, mas não, por aqui se vê a malvadez deste regime.
Um país apagado é um país de cegos.
Onze anos de paz, ou de guerra contra as suas populações?
Os apagões do nosso dia-a-dia provam a fraude governamental. Há fraude generalizada sim senhor!
E brevemente Luanda ficará uma cidade do mato.
Mas os tipos são mesmo terríveis, senão vejamos: então gastam o tempo nas rádios e nas televisões - coisa que não ligo já há vários anos, porque não estou interessado em tirar cursos de idiotice e acefalia – a promoverem vários projectos disto e daquilo. Por exemplo: O tal projecto do agente rural da ministra do Comércio, Rosa Pacavira, da intermediação entre os produtores agrícolas para o escoamento dos seus produtos, nunca irá adiante. Nada irá adiante neste país enquanto não existir energia eléctrica.
Estive na Net no sítio da EDEL e não vi nada sobre o actual colapso - mais um, nunca acabam – sobre a desgraça da energia eléctrica que desgraça Luanda.
Onze anos de paz prenhes de rendimentos petrolíferos, de centralidades, de palácios, de milionários e bilionários donos do Estado, e pasme-se, donos das nossas vidas. E nós sem petróleo para os nossos candeeiros, ou para as velas de cera de fabrico chinês que acabam céleres, como tudo o que é contrafacção, nesta RAA – República Africana dos Apagões. Não será muito mais proveitoso entregar a energia eléctrica de Luanda à sua congénere portuguesa? Paspalhos! Sem energia eléctrica nada funciona! O meio mais eficaz da destruição de um país e das suas populações, é o corte no abastecimento de energia eléctrica, para depois entregarem definitivamente Angola e os seus escravos ao desbarato estrangeiro. Ao menos que haja a honestidade de afirmarem publicamente que são incapazes - já há muito que o provaram - de nos fornecer energia eléctrica, para ficarmos descansados e não mais pensar nessa coisa da luz e apagões. Uma cidade capital em onze anos de paz a funcionar dia e noite com geradores? Ah!ah!ah!

Imagem: autor desconhecido.

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