“Dat veniam corvis, vexat censura
columbas. A censura poupa os
corvos e persegue as pombas. Verso de
Juvenal (Sátiras , II, 63). Cita-se todas
as vezes que
são perseguidos os inocentes
e se deixam impunes os culpados.”
Num país onde se mata a bel-prazer, onde se
dispara a matar pelo mais fútil motivo contra as populações. Um governo
moribundo no seu estertor dispara indiscriminadamente sobre a população. A
ordem é o terror, matar, matar. É muito urgente extirpar esse terror. Nós
temos, vemos por todo o lado o poder da morte instalado. O banco millennium na
rua rei Katyavala é um dos agentes da morte do CAOS, corruptos angolanos
organizados em sociedades. O fumo dos geradores já faz palpitações cardíacas.
Isto é só para loucos Com o fumo do seu gerador a trabalhar dia e noite, cumpre
a palavra de ordem do Grande Inquisidor, que é espalhar a morte sobre toda a
população e que dela ninguém escape. E não há onde nos queixarmos porque a
justiça está toda politizada, está tudo politizado. E como tal surgem de imediato
os pelotões da morte para nos fuzilarem. Não é possível viver num país de
chacinas e de prisões/cemitérios. E isto arrasta-se prevendo o seu fim não com
rosas mas com petardos e violentas explosões, que pelos vistos é isso que se
quer. Os reinados chegam ao fim, mas para muitos reis não, têm que levar tudo à
sua frente a tiros de canhão. E como eles se sentem felizes ao contemplarem as
carnificinas finais dos seus reinados. Com repressão permanente não é possível
o diálogo, e se o poder pensa que pode ir mais além com tão imparável violência
está redondamente enganado porque quem assim procede está acabado. Uma família
real que quer preservar as suas riquezas e as suas inúmeras empresas,
proprietária de Angola e dos angolanos, o futuro não lhe pode ser promissor,
muito pelo contrário será o seu estupor.
A Igreja é por excelência o veículo da miséria e
da corrupção porque onde ela habita tudo ao seu redor se corrompe, se
injustiça. Chamando a si o controlo absoluto do poder, porque religião é o
supremo poder, a Igreja corrompe as mentes e sente-se felicíssima quando correm
para as igrejas multidões de miseráveis e de esfomeados que ela sancionou
através do poder de uma ditadura, da qual ela beneficia, pois ditadura e
corrupção fazem parte da sua instituição. E assim a Igreja sobrevive,
podendo-se facilmente concluir que a actividade da Igreja é criminosa, porque
não defende os injustiçados, também na religião os prende. Oh!, como a Igreja
se sente divertida e felicíssima em ver o sofrimento de presos políticos
sabendo de antemão que eles são inocentes. E a Igreja o que faz? Nada! Mantém o
seu criminoso silêncio sepulcral.
Já o Cavaleiro Luaty se tinha libertado do
comité de especialidade dos bajuladores, eis que outro comité se apresta na vã
tentativa de o demover do seu direito de livre expressão consagrado na
Constituição, dizem. Uma personagem trajada de negro, com um colarinho branco e
com uma falsa bíblia na mão, vê-se logo quem é e o que pretende, ludibriar as pobres
almas que neles não acreditam, mas perante a descomunal hipocrisia os prelados
tecem as malhas da sua fantasia. A Igreja é a permanente visão do Apocalipse e
dela não se espera mais nada. A Igreja é o bocado de madeira em cruz com que
ela abençoa os náufragos da vida que ela apadrinhou. E extasiados os
desgraçados contemplam essa coisa sem valor, pois mais nada há para os
socorrer. E com sorriso de lobo matreiro aproximou-se da pobre ovelha Luaty e
logo teceu o seu sermão:
- Meu filho, sou um enviado especial do comité
da Igreja e das igrejas, o todo-poderoso deus Grande Inquisidor encomendou a
tua pobre alma e estou aqui para testemunhar isso. Deus nunca te abandonará. Trago-te
a Boa-nova, a anunciação do nosso eleito por Deus, o divino Grande Inquisidor,
o nosso Redentor Moisés que salvou, libertou o povo angolano da escravidão e
lhe concedeu a independência. Meu filho Luaty, não abandones o rebanho do nosso
senhor Grande Inquisidor. Ele é o ponto de partida e de chegada dos povos da
nação angolana. Amem-no e ele se inspirará para nos orientar, mostrar o caminho
da eterna salvação. Todas as obras que ele concebeu, orientou e mandou executar
são obras-primas de Deus, pois só Ele sabe quem são os verdadeiros homens da fé
inquebrantável. E sem tais homens, Angola e o mundo há muito teriam perecido
nas trevas do demónio. É bem verdade que com a baixa do preço do petróleo
Brent, as coisas estão podres, muito, muito podres, mas o nosso deus Grande Inquisidor
encontrará como sempre a solução, a saída airosa. O rumo a um futuro melhor, à
nova vida. Acredita meu irmão em Deus que as coisas vão melhorar, aliás com a diversificação
da economia – e o Grande Inquisidor conseguiu mais esse milagre – já há
milhares de empregos. A construção civil está a renovar-se em força e os milhares
de despedidos já retomaram as suas actividades. Angola e o nosso Grande Inquisidor
são a nossa salvação. Deus não permitirá que Angola e os angolanos sejam
abandonados e entregues ao braço secular da fome que a todos quer levar para o
seu abismo. A vitória da nossa economia será certa. E dando graças aos nossos
senhores, Deus e o nosso Grande Inquisidor, em sua homenagem e por eles inspirados
a Igreja de Angola construirá mais uma imponente catedral, e muitos locais da
sua estrutura serão guarnecidos com ouro. Para isso já temos o terreno, mais população
será espoliada das suas terras, mas isso não importa porque tudo o que se faz
em nome de Deus, a Ele devemos dar graças.
Luaty engoliu em seco algumas vezes, pensou que
enquanto tais aberrações persistirem, Angola será palco das chamas dos tumultos
dos abandonados à fome pelo poder da Igreja e pelo poder do Grande Inquisidor.
Nem as suas ruínas escaparão à depredação tal como os abutres fazem com os
cadáveres abandonados na terra ensanguentada depois de uma sangrenta batalha. O
Cavaleiro respirou fundo, decidiu que tinha que dar uma resposta ao enviado do
cataclismo humano.
- E se acontecer uma manifestação de
criancinhas, as coitadinhas gritarão: «Queremos, exigimos flores, porque elas
são os nossos esplendores, os nossos amores, os nossos futuros, puros.» Claro
que também sofrerão violenta repressão, e se decretará a sua extinção. Serão
crianças presos políticos. A Igreja todo-poderosa/ é muito mafiosa/ é muito
maldosa/ sempre muito criminosa. No jardim zoológico da Europa reina a
felicidade, fora dela reina a barbaridade. Fora da Europa há muitos estados
islâmicos e Angola é um deles. No mercado dos congolenses os taxistas têm medo
de lá entrar e deixam os seus passageiros afastados, porque as multidões de esfomeados
de que ninguém fala varrem tudo. Um esfomeado é como um animal monstruoso,
sequioso de sangue que tudo faz para saciar a sua sede de fome.
O clérigo não ligou, a prédica de Luaty
desprezou, pois para quem só vê Deus em tudo, de mais nada sabe. Afinal a
bíblia nas mãos desta gente não é sagrada é demoníaca. É como os especuladores
imobiliários que quando chegam também vêm com a bíblia convencer que trazem a
felicidade das populações que vão desalojar, mas que depois surge o demónio e
os sacerdotes apressam-se em convencer os pobres idiotas que têm que rezar
muito para que Deus ouça as suas preces e os livre da miséria.
- Meu irmão, acredito que és um fervoroso crente
de Deus e como tal não passas de mais uma ovelha tresmalhada na demanda do seu
santo nome. Jamais te esqueças. Ama o senhor teu Deus acima de todas as coisas,
caso contrário não serás escolhido no dia do Juízo final.
Luaty não estava mais para o aturar, pois onde
há hipocrisia há corrupção e vice-versa. Tratou de o despachar com a sua
teologia.
- Se o preço do petróleo faliu, a Igreja e as
igrejas são como as empresas mwangolés, são empresas falidas. A democracia sempre
esteve envenenada. A Polícia é do terror. O m agoniza como uma ratazana dos esgotos
moribunda. Num país de presos políticos, de fome e pretender aniquilar por
falta de intelectos os seus opositores políticos, é a derrocada, é o dilúvio
que sem dó nem piedade vos afogará.
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