terça-feira, 14 de maio de 2013

03 A 09 de Maio de 2013. Diário da cidade dos leilões de escravos




03 de Maio
Trabalhadores da Paviterra na província do Bié estão há oito meses sem salários. (Rádio Ecclesia.)
Os assaltos durante o período de engarrafamento têm vindo a somar pontos preocupantes nas estradas de Luanda, sob olhar silencioso da polícia nacional que nada faz. As mulheres representam as principais vítimas deste processo que muitas vezes acaba com sessões de espancamentos ou até mesmo em mortes. Troços como a Deolinda Rodriques, 21 de Janeiro, estrada da Samba, Comandante Gika, Avenida de Portugal, Avenida Brasil são os mais aliciados pelos marginais e onde se assiste assaltos com tanta regularidade. Os praticantes destes actos são jovens, que na maior parte das vezes, se fazem acompanhar das conhecidas “moto rápidas” e com armas de fogo e brancas. Eles batem no vidro da viatura com tamanha agressividade e ao meio de ameaças e ofensas exigem tudo de valor que a pessoa tiver em sua posse. In Domingos Bento de Faia. Facebook
Luanda. Cacuaco. 3 meses sem água
Hoje lá tive que dar os meus ricos 10.000Kz por 1 cisterna. A EPAL anda a fazer concorrência à EDEL, só fazem mer..
Estou a pensar ir “chatear” a sra administradora Rosa Janota, será que me vai devolver o dinheiro da água? Tenho factura. Veremos, mas que lá vou… vou mesmo. In Ermelinda Freitas. Facebook.
04 de Maio
Quisemos comprar peixe, mas as quitandeiras disseram-nos que hoje não saiu peixe do mar.
Afinal Angola importa cacusso da China? A empresa é a Hygiene procurement, Holdin Limited. www.hphlimited.com
Empresa com escritórios em Lisboa. Uma empresa que vende tudo. E sabem quem são os sócios? Não é difícil de adivinhar: Banco BPA Europa, Banco BIC, BPI, Byblos Bank, Commerzbank, Standard Bank, e o famigerado millennium bank. Claro que isto cheira a grande trampa, como os bancos estão na falência, decidiram-se pelos negócios escuros. Aguardemos que Rafael Marques de Morais se pronuncie.
Luanda, onde até os semáforos do trânsito automóvel não funcionam. Nada funciona, excepto a conversa política do nada se resolve. Já cansa, esgota, ouvir há uma eternidade de anos sempre os mesmos lamentos, e disto não se passa. Pobre gente, pobre povo.
05 de Maio
O conflito na Síria faz-me lembrar quando Hitler invadiu a Polónia. Ninguém ligou. Eram conversações para aqui, para ali e Hitler desprezava, ganhava tempo, avançava, assassinava, exterminava impunemente, até que…
Mais barulheira no prédio - o habitual, o mwangolé só sabe fazer barulho – mais um vizinho que parte paredes para alugar o apartamento, que coitados, dos apartamentos, já estão tão velhos, a caírem aos bocados. É necessário que mais prédios desabem para a equipa especuladora imobiliária do Poder entrar em acção? Por vezes penso que isto é um campo de treino de terroristas internacionais.
Como é possível, prédios a caírem aos bocados e neles se façam obras de vulto no seu interior e se aluguem apartamentos? Isto não é o anunciar de mortes antecipadas?
06 de Maio
E na entrada do prédio - não sei se assim se lhe pode chamar, porque de parecença com um prédio há muito que já não tem nada – ouve-se um grito assustador, desses que há muito já estamos habituados, essas coisas não se sabe quando acabarão, e quem o sabe? Ninguém!
«Ai! Escapei de morrer!»
Luanda, Largo da Rua das Sirenes, cerca das vinte e uma e trinta horas. A jovem vizinha, vinte e quatro anos de idade, estaciona o seu carro, e de súbito, é sempre assim, dois jovens gritam-lhe: «É assim que estacionas o carro? Não vês que está mal estacionado?» E ela cai na armadilha, e um dos jovens lança-lhe a habitual mensagem consagrada na constituição da gatunagem, de pistola em punho: «Estás colocada, não te mechas!» Mas porque é que será que esta gatunagem não tem imaginação? Sempre repetitivos como a nossa classe política? Levaram-lhe o computador portátil, desses dos mais caros, e o saco com alguns valores, documentos pessoais e outras coisas diversas, tralhas próprias de mulheres. Depois os seguranças foram ao local do infortúnio e por sorte encontraram o saco abandonado. Só levaram o computador que depois venderão por duzentos dólares para beberem uns copos, conforme discurso abalizado de uma mais velha, que mais acrescentou: «Os assaltantes agora estão divididos em áreas de actividade, uns assaltam só mulheres, outros roubam carros, etc.
Mas, há uns meses passados, a UNITA disse que faria manifestações de Cabinda ao Cunene, se não se realizassem as eleições autárquicas, e que em Maio faria também manifestações pelo desaparecimento dos jovens, Alves Kamulingue e Isaías Cassule.
07 de Maio
A energia eléctrica enviou-nos para as velas chinesas às 19.13 horas. Regressou às 19.33 horas.
08 de Maio
Os ciclos dos apagões mantêm-se, destruidores, outra vez das 09.04 às 10.16 horas. É necessário incentivar a venda de geradores e deixar-nos todos às escuras.
Quinze horas e trinta e nove minutos. Sempre também outra vez, na constante actividade do partir paredes doutro mau vizinho. Nunca sonhei com tanta estupidez sob a face desta terra.
Não há intelectos para reverter as inúmeras situações negativas que se nos apresentam. Há alguns intelectuais que de vez em quando dão uma dica depois de um sono de hibernação, claro, outros, dois ou três, são verdadeiros revolucionários, mas não conseguem mobilizar as massas, porque todos os dias, noites e dias, estão preocupadas a carregar água, a venderem qualquer coisa para sobreviverem e a defenderem-se dos constantes assaltos, a que já não se consegue resistir. Portanto neste ocidente nada de novo. Na realidade não existem intelectos políticos, apenas intelectos bibliotecários.
17.43 horas. Um avião passou por aqui a tão baixa altitude que pensei ia chocar contra os prédios. O barulho foi assustador, instintivamente baixei-me ao recordar-me do 11 de Setembro nos EUA. Que se teria passado? O avião perdeu altitude devido a avaria? Não sei se era um avião de passageiros, mas pelo estrondo dos reactores era um desses aviões grandes.
09 de Maio
Entretanto, há nove dias que o banco millennium Angola prossegue na sua missão evangelizadora, na matança de crianças e adultos pelo fumo cancerígeno do seu gigantesco gerador. Coisa já provada, mas como em Angola ainda estamos no período da ceifa de vidas humanas, a impunidade e o à-vontade com que se mata neste país são dignos do actual regime sírio. É isto a civilização ocidental, depois lamentam-se do terrorismo que já lhes sacode as portas com força. Assim é-me difícil ver como se vencerá tão perdida batalha. E a cada dia tudo se descontrola, e não existe ninguém com vontade de endireitar o que há muito anda torto. Não, não, isto não está nada agradável de se ver. O perigo espreita-nos, ronda-nos como feras.










                                                                             

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