sexta-feira, 24 de maio de 2013

17 A 23 de Maio de 2013. Diário da cidade dos leilões de escravos




17 de Maio
Se a criminalidade fosse só nas ruas, mas não, ela está por todo o lado, reflecte a outra criminalidade nas várias estruturas que compõem um governo. Por exemplo: a corrupção por si só faz a criminalidade de um país, e ele não poderá manter-se por muito tempo em tal situação, porque onde a corrupção comanda a criminalidade torna-se incontrolável e o país cai por terra. É só ver como os que têm dinheiro e os chefes actuam, não respeitam nada nem ninguém. E é mais do que claro que assim não dá para patriotismo mas sim para o banditismo. Só o de pensar que alguém faz uma obra em qualquer lado, ou parte o seu apartamento, indirectamente partindo o do vizinho de cima e o do vizinho de baixo, com o maior à vontade, portanto, a criminalidade não vive só nas ruas, alimentam-na os que estão fora delas.
E como está tudo doente, isto já não tem cura.
Em Luanda, a EPAL é acusada de não abastecer com água os moradores da urbanização Nova Vida para vender a mesma aos proprietários de cisternas – os candongueiros que distribuem água por Luanda. Isto é verdade? In Sousa Jamba no Facebook
19.59 horas. Parece na zona da Avenida Comandante Valódia, ex/Combatentes, ouvem-se doze tiros de pistola.
18 de Maio
Conversa captada entre dois mwangolés, uma jovem e um segurança: disse a jovem: «Assisti uma negra que atropelou um branco que vinha numa mota. Ele estendeu-se no chão, o sangue escorria-lhe do corpo. O polícia de trânsito não ligou, não prendeu a negra, deixou-a ir embora, a polícia não quis saber. Ninguém lhe ligou. Depois apareceu um grupo de jovens em motorizadas que disseram que o conheciam e carregaram-no, levaram-no para onde, ninguém sabe. Aquilo foi mas é para lhe roubarem a mota e tudo o mais que pudessem.»
O segurança disse: «Numa loja, os assaltantes levaram tudo o que puderam e o que quiseram, incluindo os bens dos clientes que lá estavam.»
19 de Maio
Oh! Como são tão curiosos os anúncios de algumas empresas angolanas e estrangeiras: «E também vendemos geradores.»
20 de Maio
13.44 horas. A minha rua está sem trânsito automóvel, não sei o que se passa. E também nas imediações, não se ouve o buzinar de carros. Há silêncio como se fosse domingo, hoje é segunda-feira.
Afinal estão em obras, as tais obras.
Será que Angola, como um bom exemplar da “fauna” africana, também imporá a pena de morte aos homossexuais? E o porquê de dizer que isso dos homossexuais é só na Europa e que aqui não há disso, nunca o permitiremos, e outras jacobices, então desconhecem que o homossexualismo é universal, milenar? E que grandes génios de todas as artes e ciências foram, ou são homossexuais? Porquê perseguir este estigma e não calendarizarem a corrupção como acto não permitido em África, e condenável com a pena de morte? E esses paladinos da luta contra os homossexuais, quando alguém da sua família o confessar, também os matarão? Creio que sim, porque a única coisa que sabem fazer é eliminar o próximo. Então, mais rigorosamente falando, muitos animais praticam ou são homossexuais, e se acabarem com eles, o que não me surpreende, creio que a vida animal se extinguirá e os homófobos também.
21 de Maio
As obras revolucionárias do berbequim parte-tudo prosseguem no vizinho do terceiro esquerdo.
22 de Maio
Os angolanos da imprensa controlada contrataram os romanos para aniquilarem o nosso Asterix da informação ainda não comprada, não controlada, não estatizada: o Folha 8 e a Rádio Despertar. Conseguirão os romanos aniquilar o reduto do nosso Asterix? Não! Claro que não!
Descontrolo total? Cerca das vinte e duas horas, para aí vinte e tal miúdos de rua divididos em dois bandos passam na rua e quando se cruzam com alguém dizem ameaçadores: «Vamos dar tiro!»
23 de Maio
Parece-me que já há mais de duas semanas que andamos nisto da Polícia antiterror patrulhar as ruas de Luanda. Só que fico assim um tanto ou quanto embaralhado, senão vejamos: será do terror governamental ou do populacional? Significa que disto não sairemos? E como é que isto terminará, sabendo que quando um Governo assim procede é porque vem aí muita trampa. Quem é que não lhe sente o cheiro?
A Polícia antiterror está preparada para combater situações de emergência declaradas, visíveis, e não para combater a criminalidade invisível. Essa Polícia estaciona, está umas horas no local, nos locais, tudo está calmo, e assim que abandonam o teatro das operações, os delinquentes junto com os ratos e os gatos saem das tocas em força. Quanta mais desgovernação mais criminalidade. Se não há combate contra a miséria, pelo contrário o Governo incrementa-a, ela torna-se epidémica, incontrolável, tal e qual como o Governo está, incontrolável.
As desigualdades sociais são tão intensas, tão escravas que incitam à revolta, e se não houver contenção, pelo contrário, há mais crispação, a coisa vai mesmo explodir, tem que rebentar, já rebentou, basta ver a insegurança nas ruas, das pessoas, qualquer está sujeito a um ataque, a um assalto mortal, preferencialmente estrangeiros brancos portugueses, porque são os que andam mais nas ruas, alvos apetecíveis, sempre com alguns bens? Há um ódio muito intenso, porque os estrangeiros tratam os angolanos como inferiores, escravos, quotidianamente maltratam-nos a todos os níveis, desrespeitando a sua cultura. E isto é uma guerra silenciosa, uma guerrilha. Nós por aqui estamos entregues à nossa sorte. Sempre todos os dias no: «Hoje tivemos água?!» Agora até nos roubam os saldos dos telemóveis.
Angola mais parece um navio-fantasma, desses navios errantes que deambulam pelos mares sem comandante nem tripulação.
Esta sociedade está em agonia.
Lá vão, sem pão, para os campos de concentração. Uma chinesa ou vietnamita vinda de tão longe, com indumentária anti-epidemia, parece participar nas filmagens de uma cena de um filme de ficção científica. Vende mata-baratas, mata-ratos, mata- tudo.
Uma jovem mwangolé vai pela rua com um bebé branco, aí dos seus três a quatro anos. Nota-se claramente que é empregada. Ela intencionalmente abandona a criança à sua sorte na rua, muito envergonhada por ser criada de brancos, fingindo que está a tomar conta dela, porque alguém lhe fez pouco, do tipo: «Sua burra, então tomas conta dos filhos dos brancos, manda foder essa merda!» A cena torna-se triste, revoltante, porque a criança apela para ela, estende-lhe a mão e a mwangolé despreza-a. Entretanto um superintendente da Polícia observa a tragédia silenciosamente. De repente, está fardado, sai do seu carro particular dirige-se na direcção da jovem, pega-lhe fortemente num braço, percebe-se que lhe fala num tom muito ameaçador, e ela pega na mão da criança, protege-a e condu-la para local seguro, tratando-a com carinho mas ainda vigiada pelo superintendente.

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