domingo, 2 de junho de 2013

Ascensão e queda do império de uma jovem




- Olha, vês, aquele ali é o meu carro! Olha o meu telemóvel, é desses dos mais caros. Subi, agora sou a responsável das finanças e do pessoal.
- Muito bem Juliana estou muito contente contigo, os meus parabéns.
A Juliana era minha amiga desde quase que nasceu. Agora, já com quase trinta anos, baixa, forte, antes era muito magra, parece que ficou assim desde que passou a frequentar um ginásio desses da maiuia de conquistar homens, e dos remédios que tomou para aumentar os seios, as nádegas e as pernas, coisa esta aliás perigosa, pois  executa-se sem vigilância médica, mas como quem manda são os homens, para os conquistar e conseguir o dinheiro para sobreviver, é o vale-tudo para modificar o corpo e despertar o manjar sexual dos machos sempre prontos para as batalhas das inúmeras ofertas dos corpos femininos despudorados.
Eu sabia que Juliana era uma perita na caça ao homem, do tipo qualquer um serve, e não me surpreendi quando ela orgulhosa me apresentou a sua barriga inchada. Faltavam poucos meses para o bebé nascer. O futuro pai tinha muito dinheiro, era responsável numa empresa dessas de serviços - só que ela nunca me soube explicar, ou não o quis – que serviços eram esses. Com altivez, ela confessava-me que ele tinha muitos carros, um dos tais bosses. Afinal a riqueza de uma pessoa parece que se vê apenas pelo número de carros que possui.
A Juliana foi mesmo bafejada pela sorte. Quando o bebé nasceu, a ela e a ele não lhe faltavam nada. Até criada lhe foi disponibilizada para apoio no pós-parto. E as coisas continuavam maravilhosas, como naquelas abundantes telenovelas de ricos que casam com mulheres pobres e depois são felizes para o resto das suas vidas, sempre a viverem em mansões servidas por criadagem, carros de luxo e férias nos locais mais exóticos do mundo, como as ilhas da Polinésia.
Durante um ano e tal não tive mais notícias da Juliana. Afinal as coisas são mesmo assim, pois quando estamos bem na vida os outros que se lixem, porque este mundo fez-se apenas para o antagonismo de duas classes: os espertos e os burros. Ela aparece-me toda cheia de superioridade própria da sua actual condição social. O tempo passado da miséria esqueceu-se, desapareceu, como se nunca tivesse existido:
- Dá-me um copo de água e um guardanapo de papel para limpar a boca. O que é que tens aí para comer? Serve-me comida!
A comida do almoço estava pronta. A propósito, porque é que as pessoas aparecem sempre às horas das refeições, especialmente do almoço? Assim fiz, servi-lhe e ela continua a ordenar-me:
- Não gosto desta colher e deste garfo, dá-me outros… aqueles ali!
Ela apontou para um conjunto de talheres que raramente utilizava, porque os achava pesados, incómodos. Entreguei-lhos, e lembrei-me da criança:
- E a criança, onde está?
- Está na creche, vou quase ao fim da tarde buscá-la.
- Está tudo bem contigo?
- Está sim!
É claro que não estava nada, ela escondia-me algo, muita coisa. Arrisquei-me a perguntar-lhe:
- Nunca mais te vi, porquê só agora… depois de um ano?
- Já não estou mais com aquele gajo, ele é matumbo… oh! Afinal os homens não prestam. Ele tem muitas mulheres. Quando lhe digo para casarmos ele responde-me que vai pensar nisso quando tiver cinquenta e tal anos. Eu não quero mais saber de homens… nunca mais os vou aturar!
- Mas continuas lá a trabalhar, numa das empresas dele. – Perguntei-lhe.
- Sim, mas vou sair. Tirei um curso de informática… desses que têm o Word. E estou a acabar outro de secretariado. Tens sumo? Serve-me um por favor.
Preparei-lhe o sumo, desses em pó usados pelos pobres que vêm em pacotes. Ela não ficou nada satisfeita porque já não estava habituada a esses sumos à toa, mas resignou-se. Pouco depois e como despedida disse-me:
- Daqui a pouco vou para o ginásio, depois vou na creche buscar a criança.
Alguns meses depois, Juliana procura-me e aborda-me com estupor:
- Olha, quero perguntar-te uma coisa.
- Sim, diz.
- Fazer sexo oral num homem com sida pode infectar?
- Claro que sim.
E foi rápida, nem se despediu. Nunca mais a vi.
Soube muito mais tarde que a Juliana baixou de categoria no serviço, gastou todo o dinheiro nos hospitais e foi em tratamento para o Brasil com o filho.



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