sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O cavaleiro Mwangolé e Lady Marli na demanda do Santo Graal (11)


Acredito que não é possível descrever os quadros pintados que povoam a nossa alma sem o toque da centelha divina do simples contacto dos lábios, a força do incentivo do destino, a presença inspiradora, arrebatadora do amor de uma mulher. É que o escrever, o descrever, o narrar, o desvendar dos segredos das coisas que nos inundam, e das quais receamos lançá-las, como se nos movêssemos num caminho desconhecido, como antes diziam que para além dos mares só existiam monstros ou paisagens celestiais, o paraíso terrestre com maravilhosas mulheres, deusas nuas.
O amor é a deusa mulher que não permite que as portas da perseverança se fechem. Ela é o mundo, o Universo do jasmim que perfuma, ruma, o movimento do nosso sistema neuronal, e nele lá sempre tendo-o como morada desvenda os universos das palavras e as converte numa doce, ela é a heroína melodia da nona sinfonia.

Eis o noticiário do diário Jingola e do seu futuro mórbido que nos espreita: recebeu ameaças de morte. Foi assassinado. Roubaram-lhes os terrenos. Partiram-lhes as casas. Desaparecerem trinta e dois biliões de dólares. Os bancos apoiam o bem-estar e o futuro das populações. Os Tsin arrasaram-lhes tudo. As eleições e o registo eleitoral são uma grande fraude. O edifício recém-constituído, construído, pelos Tsin está em risco de desabar. Houve uma manifestação contra a insustentável fome e as forças de segurança atacaram ferozmente. A nossa vida vai melhorar. Nós temos responsabilidades acrescidas. O nosso futuro depende das centralidades. Todos os nossos actos estão dentro da legalidade. E já inaugurámos muitas estradas, pontes, escolas, hospitais, fontenários, etc., mas não conseguimos concluir com a corrupção. Com os investimentos em curso, a curto prazo criaremos mais um milhão de empregos. Dependemos da ajuda, do apoio desinteressado dos nossos amigos tsins, devido à recusa do apoio da conferência internacional de doadores. Há muito que o nosso povo sabe para onde vamos. Os nossos jornalistas devem primar por uma informação plural e isenta, de acordo com as regras da doutrina marxista-leninista, que é sem sombra de dúvidas onde reside a pureza, os ideais da libertação de um povo. E por isso mesmo, um só povo, uma só libertação, uma só corrupção. Estamos livres e independentes. Faremos de Jingola uma pátria de centralidades. E sem provas não podemos combater a corrupção, só ouvimos falar, mas até agora ninguém apresentou provas convincentes, exceptuando alguns casos que deram entrada na nossa Procuradoria-geral da República, mas não lhes damos crédito porque nota-se claramente que são eivados por motivos políticos. As estradas reconstruídas transformam-se em morte para os peões. Acordo especial de vistos de entrada de tsins, pães-de-açucar, emboabas, outros promotores de centralidades e outras máfias estrangeiras e jingolanas.

Uma jingolana sexagenária embalava-se no ritmo do tanque e lavava, dançava com a roupa. Próximo de si colocou arroz e os pardais aproximavam-se dela, debicavam os grãos e trinavam felizes.
Nunca vi em lado algum pretender que a corrupção acabe com a miséria. Para acabar com os corruptos é necessário acabar com a corrupção, e como os corruptos estão na sua origem.
Errar é humano, mas persistir conscientemente na maldade do erro é desumano.

E Lady Marli sente-se, elevasse, voa, paira e: Despertei, no sonho continuei, me enlevei, há muito que o não consigo, estou presa, algemada no destino do deus sem amor que os homens inventaram. E dele não ouso libertar-me porque não o desejo. Quero nele acordar, nunca dele me separar e sempre o procurar, procurar, perseguir e sugar o elixir armazenado nos meus seios.
O teu amor, é os milénios dos tempos ignorados das misteriosas mensagens cavernais, das réstias das claridades que alimentam o sonhar da Humanidade e que ainda subjugam as nossas almas.
E sempre de mãos entrelaçadas percorríamos, corríamos e sentíamos o gosto da infindável, sempre renovável areia que moldava os nossos passos. E cansados, já depois sentados, atraídos pelo movimento da atracção universal dos nossos corpos, sonhávamos com a antevisão da tela pintada pelas correntes da sonoridade marítima. Um ou outro peixe ferreirinha agitava, saltava para escapar a um qualquer predador, na insistência de que mar sem peixe não é concebível.
Um flamingo caminhava com as suas longas pernas, caçava alguma mabanga aberta, distraída, ou algum minúsculo caranguejo. A maré crescia e inundava os mangais e mostrava como que outro mar, outra vida, da qual de vez em quando nos lembramos.
Um barco a motor aproxima-se bem rápido, o barulho do seu movimento misturado com a vozearia humana, perturbam, agitam, revoltam a vida marinha que num ápice desaparece, esconde-se. E o barco parou, silenciou, alguém atirou uma corda com uma pedra amarrada, bem pesada. A bordo três ocupantes, que lestos preparam as suas canas de pesca, iscam-nas e lançam os seus fios de náilon bem distantes. Depois poisaram-nas nos descansos de bordo e a rirem como crianças, pegaram cada um na sua cerveja, sentaram-se e começaram a comer sanduíches. Eis que a civilização chegou.
E a perturbação perdurava, não acabava, prosseguia, o nosso amor afligia, e a nossa concentração nos fugia. E do mar pareceu-nos sair, ouvir um som que nos prevenia: naveguem, naveguem marinheiros nos oceanos do amor. E o sol, como que obedecendo a algum comando desconhecido, abriu-se, soltou-se, e tudo pareceu ficar, primeiro amarelo, depois muito branco, transparente, e tudo rejuvenesceu, de vida se encheu.
Encostámo-nos mais à nossa intimidade ansiando que estes momentos a eternidade acolhesse. Mas as convenções dos seres humanos não permitem, fabricam corridas de obstáculos para que o amor pereça. Mas não… não é possível porque basta apenas alguém acreditar nele, e ele surge como que por encanto, avassalador, querido, amado, eterno louvor. O amor é a chama que ilumina o farol daqueles que perdidos na escuridão da selva da vida, guia os perseguidos, os caçadores da paixão do amor.

No comité de especialidade dos religiosos, cada vez que um da sua governação abre a boca, há um incêndio social.
Quanto mais tempo o ditador permanecer no poder, mais problemas pós-ditadura surgirão. O que está reprimido há muitos, muitos anos, virá à superfície e nela explodirá.
Na verdade vos digo meus irmãos e irmãs, que o céu está infestado de padres pedófilos e de outros que vendem os seus crentes apenas por um litro de petróleo.
Para levarem avante as suas manifestações, é curial afastarem, exterminarem as populações que os incomodam imenso, para depois construir, continuar, isto é: destruir, destruir. É a praga universal que se resolve com um potente mata-ratos. Isto não é deles, é nosso.
O aquecimento global destrói a natureza, e os padres da igreja pedófila destroem as sociedades, e provam que afinal a religião é a reencarnação do demónio. Afinal o demónio é pedófilo.
Afinal não era para nos libertarem, era para nos mais guerrear, nos infernizar. Até o elefante disse: «Deixem um bocado para nós.»
Quando um médico entra na política, está tudo mal medicado, porque confunde o paciente como um opositor político.
Mas quando a igreja intervêm a favor de um partido, isso é incitação à violência, e a igreja não é condenada.
E o nosso estranho poder, não havendo mais espaços livres, afinal Jingola é muito pequena, quase microscópica, implementa um, novo modelo de gestão urbana na cidade de Jingola: estaleiros e oficinas nas traseiras dos prédios. É o que se pode chamar de terrorismo contra a segurança do Estado. É o deixa andar, que depois o vento Norte resolve?!
A governança da abastança resvala todos os dias nas crateras de explosão, mas o seu olhar está programado para detectar os lucros do petróleo.
Há uma ala da igreja jingolana que se apaixonou pelo petróleo corrupto.

Pai e filho estão abancados nos destroços do mobiliário que milagrosamente escapou dos que têm azar de viverem em casebres, e da raiva incontida dos destruidores do património ganho honestamente. Quem é corrupto tem inveja de quem é honesto. É de noite, o céu está limpo, as estrelas oferecem a sua nitidez cintilante. A criança olha para o céu de Pitigrilli, a TVR – Televisão Privada do Rei, dos espoliados, e pergunta: «Pai, é verdade que nos outros planetas e nos outros países há vida inteligente?» «Sim meu filho, em todo o lado há vida inteligente, só em Jingola é que não.»

Nesta democracia unipessoal, os jingolanos residentes no estrangeiro estão proibidos de votar. É uma democracia interior, de fraude eleitoral e empresarial.
Para evitar a fraude eleitoral, a verificação, a fiscalização não é no final, mas antes, tal como o automóvel e o navio se aprestam para a viagem. Claro que haverá fraude, ou não fossem os Lordes os campeões mundiais invictos da grande corrupção. E sem a extensão do sinal da Rádio da Confiança Tchavola a toda a Jingola, a fraude eleitoral é mais que garantida, mais uma vitória certa.

Para cada corrupto todos os dízimos do petróleo são poucos, porque a avidez é crescente. Os horrores vividos no campo de concentração de Jingola são inéditos na actualidade. Cortar o abastecimento de água à população não é genocídio passível de juízo no TPI? Ah! Esqueci-me de um pormenor muito importante que resolve de uma vez por todas o problema da insolubilidade do mineral mais precioso. Não, não é o petróleo: portanto, o melhor sistema de abastecimento normal de água às populações… é fechar-lhes as torneiras.
Para quê precipitar mais um holocausto, e ensanguentar ruas com o sangue de milhares de cadáveres. Se os Lordes não conseguirem a fraude eleitoral, vão para as urnas de armas na mão, de acordo com os mais elementares preceitos marxistas-leninistas. Os Lordes são um falso cordeiro vestido de defender a pele.

Conforme noticiado na Rádio da Confiança Tchavola, os fiscais do saque das populações, seguindo os exemplos dos seus superiores hierárquicos e muito especialmente o célebre senhor X das ordens superiores, saquearam todos os haveres aos seres inferiores às duas da manhã, armazenados de cidadãs no Centralizanga. No mais puro fascismo hitleriano partiram as residências com martelos de ferro. E nem a oficina de um jovem serralheiro escapou. Se isto não é o mais puro estilo nazi, então o que é? E com tantas igrejas que proclamam o amor ao próximo e exigem dos seus crentes que orem pelos seus governantes.

Os Lordes não mudam, pelo contrário, reforçam o aparelho repressivo. As manifestações intensificam-se até ao entrosamento do encontro final. Em Jingola a única coisa que funciona em pleno, é a repressão.

Oh, meu Cavaleiro Mwangolé! Tantos inventos para nos beneficiarem a vida e nos encantarem. Tantas maravilhas que até as nossas almas privatizam. Tantas promessas que nos atrofiam os espaços e os nossos passos. Já não há ninguém que consiga (esqueceram-se?) de inventar o amor?
Depois de mais um dia vertiginoso, a noite ruidosa aproxima-se. Os olhos cansados fecham-se repousados no agitado silêncio do amor perdido.
A publicidade que nos assedia a cada momento mostra-nos o paraíso, a anunciação, o clímax do finalmente regresso do Senhor. E qual é o dia da redenção, da filiação do nosso amor?
As escadas das nossas vidas estão solenemente partidas. A escada prometida para o reino do céu também. Resta-nos a escada do amor. Mas, quem será o seu construtor?
Fugimos de um lado para o outro, na constante procura da tranquilidade que ansiamos, mas não encontramos. Na realidade fugimos do amor que transformámos, monstruoso. Fugitivos do desespero, do amor enterrado.
E chovia intensamente, como normalmente. Dois jovens apaixonados molhados refugiaram-se numa acolhedora árvore. E a chuva não parava, aumentava, parecia outro dilúvio que se aproximava. E eles alheios na paixão, enlevados. Um dilúvio de amor inigualável se instituía, prometia.
Continua
Imagem: escola no Zaire, Angola.

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