“C. Estermann assegura que o chefe de Evale tinha poderes mágicos para atrair
a chuva. Mas
só os conseguia se sacrificava uma jovem mãe cujo filho era entregue a outra mulher. Juntamente com
a vítima, sacrificavam também uma vaca
negra, antes
do sacrifício, o leite
da mulher e o da vaca
eram aspergidos várias vezes por terra, como prenúncio
da chuva. A mulher
era assassinada com
um golpe
de lança e, com
o seu sangue,
aspergiam as árvores da chuva. O seu cadáver ficava insepulto
e ninguém podia chorar
a sua morte nem guardar luto.
São prodigiosos tanto
o conhecimento que
os adivinhos e curandeiros
guardam sobre os venenos
tão variados, como
a prática pericial consumada
que adquiriram para
dosificá-los. «Conhecem com certeza diversos
venenos pouco
conhecidos fora
do mundo especial
dos toxicólogos competentes, e talvez tenham encontrado outros
que a ciência
nem sequer
suspeita que
existam. Entre os venenos,
alguns produzem efeitos
imediatos; outros
ficam sem acção visível
durante meses; outros
ainda, causam sintomas
idênticos a doenças
bem conhecidas». «Observe-se que
há 570 plantas africanas conhecidas pela ciência ocidental como
venenosas de um modo
ou outro.
Sem dúvida
os curandeiros e adivinhos
conhecem muitas mais.”
In Cultura Tradicional Bantu. Pe. Raul Ruiz de Asúa Altuna. Ed. Paulinas
Ela levanta-se:
- Aguarda um momento, vou à cozinha.
Voltou e afirma triunfal:
- Aqui tens o teu
afrodisíaco. A Kakulu disse-me que
gostas muito de gambas com quiabos,
coentros… e o molho está aqui.
Ele agradece-lhe e
retoma a conversa:
- Se a raça
humana acabar
Deus sobreviverá?
Ela afirma de modo evasivo:
- É uma coisa bela esta civilização que
nos deixa
felizes, e em nome dela destruir
tudo o que
vive. Não, não
são somente
os animais, peixes
e plantas. São
as pessoas… os seres humanos que
estão a ser exterminados. E nós
aceitamos isso com uma naturalidade invulgar.
Estamos a ser consumidos num suicídio
colectivo. O cristianismo tal como profetizou
quer o apocalipse.
O que está escrito
tem que ser
cumprido. Não podemos aceitar
isto. Que
a Igreja sucumba mas que não nos arraste. Já
não acredito no cristianismo, isto é, nas pessoas
que o representam.
- Então em quem acreditas?
- Na verdade
em tudo
o que é verde.
Refiro-me às árvores, às plantas… estão sempre
vivas, a ondular
com o vento. Isso é o verdadeiro
Deus. O resto é coisas que alguns seres humanos
inventaram para fazerem negócios. Isto deve acabar, tem que
acabar.
Ele humoriza:
- Os dólares são verdes, enfeitiçam os nossos
governantes.
- Um dia destes
vamos vê-los a serem arrestados em qualquer país.
Acho que não
deviam viajar.
Mas ele
insiste:
- Dizem que essa cor verde lhes dá sabedoria.
Ela recorre à história:
- O filósofo Bias, um dos sete sábios da Grécia, quando
Priene estava ameaçada pelos exércitos de Ciro, e a população
fugia com tudo
o que pudesse levar.
Como ele
não se preocupava, perguntaram-lhe porquê. Ele
respondeu que levava todos os bens consigo. Os bens eram a sua sabedoria.
Mas ele reage, lembra-lhe
os perigos da riqueza:
- A riqueza
é sempre ilícita
e perigosa porque quem
tem, quer sempre
ter mais. Só têm um pensamento… dinheiro. E isso dá-lhes poder. Então,
tornam-se desumanos, avarentos, e para atingirem
os seus objectivos corrompem aqueles que
se vendem facilmente. A vida que levam é diferente
das outras pessoas. Porque estão possessos,
permanentemente ávidos e demoníacos. E quanto mais
enriquecem, mais a miséria
aumenta. Este
é o maior mal
do mundo. É a civilização
da democracia.
- Prefiro Barrabás a
Jesus. – Disse ela convicta.
Encontravam-se desinibidos
devido ao efeito
do afrodisíaco e da bebida.
Olhavam-se com paixão.
Em silêncio, ela
retirou-se e entrou no quarto. Alguns
minutos depois
reapareceu. Caminhava lentamente como se desfilasse numa passarela
num convite mudo a apresentar, para comprarem a sua moda. A luz fluorescente
chamava a atenção para
o azul-escuro do seu baby-doll. A cor do batom nos lábios
condizia com o vestuário.
Ele fascina-se:
- Se todos os feitiços
fossem assim nunca
deixaria que terminassem.
Ela pega
nos telemóveis e desliga-os. Diz ofegante:
- Assim não
seremos incomodados, vamos acamar-nos.
- E se a
Kakulu-Ka-Humbi liga?
- Não te
preocupes, deve estar no poleiro
da águia.
Ele confirmou que ela era uma obra-prima
do prazer. Continuavam deitados a sorrirem e a acariciarem-se
enlevados de farto prazer. Ele de repente levanta-se e augura:
- Que
horas são?!
- São
duas da manhã.
- Ma Yuan tenho que ir.
- Já…
tão febrilmente cedo?
Vestiu-se rapidamente e já estava
na porta de saída. Ela antes de lha abrir beijou-o e murmurou-lhe:
- Quero ser
tua sócia… detective para os casos
amorosos.
Ele não
lhe prestou atenção.
Já no jipe
e antes de o pôr em movimento ligou o
telemóvel e pressentiu que Kakulu-Ka-Humbi lhe
tinha ligado. Enquanto
conduzia, sentia-se muito preocupado com
a recepção dela quando chegasse a casa.
Accionou o comando
da porta da garagem,
ela não se moveu. Saiu do jipe e foi para a porta de entrada. Estava lá
um anúncio.
PROCURA-SE!
Jovem solitária e muito
sensual procura
jovem honesto
para noites inesquecíveis. Guarda-se sigilo.
Experimentou abrir a porta,
mas não conseguiu. Resignou-se e pensou em
dormir o resto
da noite no jipe.
Quando se preparava para
isso lembrou-se que
geralmente as mulheres
costumam esquecer-se sempre de um pormenor. E
é sempre bom ter
um homem
ao seu lado para colmatar
esses lapsos.
Com um
sorriso triunfal foi para
a pequena janela
que servia para
arejar o ginásio.
Estava fechada apenas com um ligeiro trinco interno. O gradeamento
estava aberto por
esquecimento. O porta-bagagens do jipe tinha um saco de lona com diversos utensílios.
Retirou um arame
de aço, dobrou-o a custo
na ponta deixando-lhe um intervalo e
enfiou-o pela borda
da janela até
conseguir encostá-lo no trinco.
Puxou e a janela abriu-se. Penetrou com dificuldade…
e já estava em
casa.
Movendo-se quase
como um
gato abriu a arca
congeladora e retirou um bocado de gelo que achou suficiente.
Tirou do refrigerador um bocado de manteiga que
colocou num plástico. Silenciosamente dirigiu-se para
o quarto dela e deixou o gelo
e a manteiga na cama
junto às suas
nádegas.
Ele
acordou assustado com o grito
dela. Dava-lhe vontade de ecoar risadas fortes mas conteve-se. Recostou-se e voltou a adormecer
feliz.
A meio da manhã
ele assistia a um
filme na parabólica.
Ela entra muda
e com ar
muito sério.
Ele calmamente
saúda-a:
- Querida, espero sinceramente que tenha dormido bem.
Ela
lançou-lhe um olhar
de ódio. Ripostou com dureza:
- Mukaji é muenió? (Tua mulher é essa mesmo?)
- Só gosto
de uma mulher.
- Akaji. (Mulheres, amantes,
esposas, amigas?)
Ele tentou
cativá-la:
- Querida, acho que está uma bela manhã para trovar.
Ela foi para a cozinha e
ouviu-se o som de pratos
e panelas que
pareciam voar.
Ele sabia muito bem que quando
uma mulher está com
ciúmes não
adianta falar-lhe. É que as coisas
complicam-se. Por isso escudou-se no mutismo.
Ela seguiu-lhe o exemplo
e não se falaram mais.
À noite, enquanto ele jantava, ela aproveitou-se do interlúdio e embrenhou-se no quarto dele.
Levava um frasco
com perfume
ao qual juntou água
com jindungo préviamente moído e coado.
Aspergiu o lençol e por
baixo do travesseiro
da cama dele com
quantidade quanto
baste. Disfarçou colocando outro lençol por cima.
Enquanto aguardava que o sono chegasse, ocupou-se a arrumar
as suas roupas.
O sono veio
e deitou-se. Minutos depois foi a vez
dele que retirou o lençol e sentiu cheiro forte não habitual a perfume. Disse para si:
- Aqui está a prova
de que ela
gosta muito
de mim. Também
gosto muito
de ti querida.
Deitou-se satisfeito convencido de que
tudo tinha
voltado ao normal.
De manhã ela
encontra-o na sala enxovalhado no sofá. Não dorme.
Pelo aspecto vê-se que a noite não lhe correu nada
bem. Os olhos estão vermelhos.
Nota-se rubor em
algumas partes do corpo.
De vez em
quando afasta a roupa
dos órgãos genitais
porque ainda sente ardor.
Ela cumprimenta-o com
o ar mais
cínico possível:
- Querido, estou convicta que a noite foi muito
agitada para si.
Ele quase não sentia
forças para falar. Fixou o olhar triste no tecto. Ela
fez-lhe um pedido
veemente:
- Querido, sinto-me muito
desconfortada, porque não me canta uma trova?
Imagem: o feitiço da bebida, “caçada” no Facebook
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