sexta-feira, 11 de julho de 2014

Há seis anos na viagem interminável





Fizeste muitas viagens e sempre regressaste, mas da última que iniciaste, há nove anos que guardas silêncio. Há viagens eternas sim senhor com navios carregados de comida e outras coisas confortáveis para que a viagem pelas ondas do mar seja o mais agradável possível. E os corações em terra destroçados sempre se lembrando de ti e da tua vivência entre nós. A mais dolorosa coisa das nossas vidas é a despedida eterna. Resta-nos as tuas imagens gravadas nas nossas memórias e a saudade inconsolável.  
É o navegar onde nunca se vai chegar.
Não abandonei as plantas que cuidavas que muito bem tratavas, acarinhavas e de água alimentavas, continuam rejuvenescidas, florescidas como se a falta da tua presença não notassem. Só o jasmim teima em não me presentear com um só rebento. Parece que é por causa dos pardais que aprenderam muito bem o parasitismo humano. Deixam algumas plantas como se fossem esqueletos. Quando não está ninguém invadem a cozinha, procuram comida e onde a encontram festejam com um chilrear banquete.
Aqui está frio e muita humidade, clima muito doentio que gera doenças respiratórias. O sol está escasso, fraco, não chega para fazer a manutenção do corpo que anda sempre coberto com uma montanha de roupa. À noite é pior porque a humidade aumenta e provoca-nos ataques de tosse. Com este caldo não é nada difícil imaginar aquelas pessoas que fumam, que não têm amor pelos seus pulmões e pelos seus corações.
Nós os vivos que creio há muito estamos mortos e não nos damos conta disso, porque deixamos, não nos interessamos, tornámo-nos apáticos, desligámo-nos por completo dos políticos, esses ardilosos monstros que destroem as nossas vidas no desfile, no concurso democrático pela obtenção do primeiro lugar da corrupção. E consolidaram outro desporto violento: o massacre de crianças com reportagens em directo que mostram a pedofilia, as torturas, as acusações de feitiçaria, o uso como escravas, crianças soldados, o esquartejamento como num talho para posterior venda como poderes mágicos a feiticeiros. As mortes pela fome, por bombardeamentos, por armas químicas, sem escola, órfãs de pais, de pátria, sem lugar neste mundo, apenas no outro. São nados-mortos.
A democracia da hipocrisia está muito desenvolvida sim senhor. É a democracia das matanças universais, da convivência pacífica e do bom relacionamento entre estados e governos tirânicos. Como é possível uma democracia manter relacionamento normal com ditaduras que reprimem, que escravizam, que liquidam as suas populações? É sim, é possível, é o pesadelo democrático do nosso dia-a-dia.
Parece que foi ontem, mas não, nove anos depois a miséria cresce, os bancos levam até ao fim a sua cruel missão: destruir o sistema financeiro. Parece que a palavra futuro desapareceu. Antes ainda se falava muito nela, agora só ocasionalmente. Destruir o outro por todos os meios possíveis é a  lei vigente. Nove anos de solidão.

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