terça-feira, 22 de julho de 2014

Náufragos sem luar





Tão corrompido que está isto
E ainda há quem acredite nisto
Como é possível este Poder seguir
Se tudo é para destruir?

Neste mar naufragado lá vou como Ulisses, já várias vezes dele escapei de afundar afogado. Há muitos milhares de milhas, quase há infindáveis quarenta anos delas, que anseio pelos braços, familiares abraços de Penélope. Receio que nunca mais a verei, e também da minha família que nunca mais saberei. Ordeno à minha tripulação que escolha o rumo certo e siga os melhores ventos do mar que nos levem de feição. Mas por mais que navegue, de milha em milha há perigos que me esperam, terríveis homens armados saem das profundezas e impedem-me a marcha. A nossa luta pelo viver - já não é, agora é sobreviver - é a constante batalha contra os monstros que nos desejam subjugar, é o confronto eterno do livro da nossa liberdade.

Eu estou longe, muito longe, mas isso não impede que o meu espírito navegue, e te encontre, reencontre, pois não há distâncias que separem a amizade, ela fica tão curta, tão curtíssima, quanta mais longa a distância, mais o abraço da amizade se conforta. Tão distantes e contudo tão próximos nos nossos inseparáveis destinos.

Nos tempos passados havia tempo para nos amarmos, agora resta-nos muito tempo para nos odiarmos e nos armarmos.
Tanto tempo perdido nas estações do ódio, nas montanhas da morte.
Sabem, já existiu um tempo glorioso de magia com músicas maravilhosas, e que esses tempos se perderam, mas as suas músicas perduram porque abandonaram o mundo alienado e refugiaram-se na dimensão, Lay Down Candles In the Rain, Here Come the Sun, In the Search of the Lost Chord, 2000 Man, Fare Thee Well 10,000 Miles etc, etc. “Oh, o corvo que é tão preto, meu amor, mudará a cor para branco”.

E oiço uma trompete solitária que me recorda os rios, as montanhas, as águias e outra imensidão de aves, a pureza da chuva que regava a vegetação, agora rega poluição, as ondas do mar que batiam nas praias, agora já não batem, desfazem-se, desfazem as torpes negociatas das construções à beira-mar, abençoadas por clérigos que obrigam as populações a orarem porque assim está escrito.
Os sacerdotes como porta-vozes de Deus afirmam categoricamente, tal como Deus lhes faz crer, que Ele gosta de todos e de tudo, excepto os homossexuais, Deus odeia-os. Mas que sacerdotes mais libertinos, porque em boa verdade nunca lançariam tais labaredas das suas bocas fedorentas, porque Deus ama-nos – na verdade Deus apenas ama sacerdotes, pois foram eles que o inventaram – então se Deus é abundante de amor, como é possível que rejeite homossexuais? Há religiosos que não mudam o seu pensamento porque se o fizerem o seu tempo de hipocrisia terminará. De qualquer modo a impureza da religião não triunfará, e na verdade perecerá, porque a mudança dos tempos não perdoam, e enganar os seres humanos analfabetos através da religião é a coisa mais fácil que existe, e a sua aliada democracia e os seus aliados democratas testemunham-no.

Sem dúvida alguma que os seres humanos foram inventados por um louco, o péssimo invento de todos os tempos. Só assim se explica a extrema crueldade, a incrível selvajaria que em nós reina. A todo o momento corremos desesperados na busca de um refúgio, porque a selvajaria humana sempre em maioria, há milénios que implacavelmente nos persegue.
“Sou um filho do universo?” De qual universo? Deste não sou com toda a certeza absoluta, porque de maneira nenhuma me identifico com os promotores das carnificinas diárias. E aqui já não há tempo para começar porque já há muito se findou. Este nosso tempo é de desespero, do tem cuidado, porque até já o céu não é livre, também já o colonizaram. Já não posso declarar o que sinto, porque um exército de forças especiais me aponta armas, porque sou um perigoso terrorista. Em nome do terrorismo qualquer coisa que escreva que não seja do agrado dos bancos, enviam-me para a única liberdade que agora me resta: a morte!
Tenho que me deslocar com imenso cuidado, porque os computadores da democracia estão sempre atentos, com os seus programas que me espiam, vigiam dia e noite. Nestas democracias somos todos terroristas, porque já não se consegue distinguir quem é honesto e desonesto, quem trabalha e quem não trabalha. Mas os espiões electrónicos da democracia não conseguem detectar, vigiar os corruptos porque deles e dos bancos é este reino democrático.
Esta democracia já chegou ao fim, estamos à espera de quê para encetarmos os nossos caminhos da liberdade e democracia sem políticos? Esta classe de sacerdotes que fizeram da democracia a sua religião e colocaram as multidões como seus crentes, serventes. Este é o tempo das multidões que governam, sem necessidade de governo, sem eleições. Aos corruptos que destroem o nosso planeta - não é deles não, se fosse ele seria bem estimado – façamos um abaixo-assinado e que depois eles entrem calmamente nas prisões que os esperam, e que de lá jamais saiam. É necessária outra Inquisição para perseguir os corruptos, e os conduzir ao moderno braço secular. Enquanto um corrupto se mantêm activo, milhares de vidas perecem, porque os políticos democráticos fazem parte da sua confraria.

Já virei a esquina e não encontro a vida que lá me disseram ser a sua morada. Encontrei o terror do nosso dia-a-dia, porque democracia há muito que está adiada.





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