quinta-feira, 3 de julho de 2014

Que esta despedida seja o fim da vasta solidão





Não me chames, pai
Não me procures
Não me chames
Nem desejes o meu regresso.
Estamos num caminho desconhecido
O fogo e o sangue apagaram a rota.
Voamos nas asas dos relâmpagos
Para não mais desembainhar a espada.
Todos nós tombamos em batalha
Para não mais voltarmos.
Haverá um reencontro?
Não o sei.
Sei apenas que devemos
Continuar a lutar.
Somos grãos de areia no Infinito
E nunca mais veremos a luz.

Adeus, meu filho
Adeus, minha consciência.
Minha juventude e meu consolo
Meu único filho.
Que esta despedida seja o fim
Da vasta solidão.
Pois não há ninguém mais só.
Lá permanecerás
Para todo o sempre
Longe da luz e do ar.
A tua morte não será contada.
Não contada e não atenuada a morte
Para não mais ressuscitar.
Para todo o sempre
Um rapaz de 18 anos.
Adeus, então.
Nenhum comboio chega dessa região
Com ou sem horário.
Adeus, então
Nenhum avião pode aí chegar.

Adeus, meu filho
Pois milagres não acontecem.
E, neste mundo
Os sonhos não se realizam.
Adeus.
Sonharei contigo
Quando eras bebé.
Caminhando pela terra
Com passos fortes.
Pela terra onde já tantos
Estavam enterrados.
Esta canção, meu filho,
Chegou ao fim.

In O Mundo em Guerra, 11ª parte. A Rússia 1941-1943.
Imagem: Lago Baikal, Rússia. Wikipedia







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