A tempestade era intensa e as ondas do
mar pareciam um corcel sem domador. Mas mesmo assim embarcámos no nosso navio
do amor dispostos a enfrentar os poderes da Natureza, pois há muito sabíamos
que nada, ninguém vence o poder do amor. Sim, os poderes da natureza e do amor
são invencíveis.
Quando o amor se solta ninguém o prende
E parece que até hoje isso ninguém
aprende
Receio que muito poucos saibam amar
Porque o amor não está nos copos de um
bar
Quando estamos presentes todos os dias
na companhia da pessoa amada o amor fica como de abalada. Mas quando nos
ausentamos, do nosso amor nos afastamos, carregamos o peso da nostalgia dessa
pintura e ao olharmos para as paisagens que nos rodeiam facilmente vemos que elas
nos acenam com tristeza. Há como que uma intensa actividade eléctrica que em
tudo interfere. Quando os circuitos do amor se interrompem não há fusíveis que
os reponham pois facilmente se fundem. Do amor não nos podemos afastar
demoradamente, pois se o fizermos ele nos repudiará premente.
No amor sem carris os comboios não
circulam
Ficam pejados de corações que neles
deambulam
Como um navio que sulca o desconhecido
mar
Navio fantasma com passageiros do
além-amar
O vento forte dos promontórios agita a
tua beleza enquanto o teu cabelo ondula oprimido. Escuta-se o tremor da água
que furiosa quer libertar-se dos carcereiros das prisões das paredes de pedra.
Há milénios que o fragor desse som nos persegue, nos apela que salvemos as
ondas que desejam às outras dos seus amores no alto mar se juntar.
Há muitos tempos que não te vejo
Conservo incólume o nosso desejo
Estou num castelo muito distante
Como Lancelot no amor errante
Muitas crianças assombram-me o cavalgar
Dos seus corpinhos abandonados sem lugar
Vítimas dos abates dos funestos caçadores
Com hipocrisia lhes chamam meus amores
Foto: Carmen dos Santos (Carmen Cardin)
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