República
dos Estrangeiros, algures no golfo da Guiné
Introdução
“Caveant consules! Acautelem-se os cônsules! Primeiras palavras de uma fórmula que se completa por ne quid detrimenti respublica capiat
(para que a república nenhum dano sofra), e pela qual, nos momentos de crise, o
senado romano investia os cônsules de um poder ditatorial. Emprega-se no
figurado: o descontentamento do país aumenta caveant cônsules.”
“Cedant arma togae, que as armas cedam à toga. Primeiro hemistíquio
de um verso composto por Cícero em memória e louvor do seu próprio consulado.
Aplica-se hoje para exprimir que o poder civil deve ter supremacia sobre o
poder militar na administração do Estado.” (In Locuções Latinas e Estrangeiras.
Dicionário Prático Ilustrado Lello, de 1977.)
Dizem que os corruptos e os
estrangeiros trabalham muito, sim, é verdade, há quem trabalhe muito para o
mal, e com isso se delicie, sinta um enorme prazer em ver os sofrimentos
daqueles que de si dependem mergulhados na mais infame miséria, fome… mergulhados
no caos total, completo. E que nem uma tábua de salvação lhes é atirada, muito
pelo contrário, todo o poder bélico lançado contra pobres almas indefesas que
nada têm, isto é, quanto mais os detentores do poder o têm, mais as populações
ganham em miséria e fome. Não deixa de impressionar nos tempos que correm o apoio
internacional dado à exterminação de povos como o que acontece em Angola. É um macabro
extermínio, e ainda por cima o aclamam de regime democrático, quando na verdade
já há muito ultrapassou a linha vermelha dos direitos humanos, de todos os
direitos na Constituição que rasgaram. Nenhuma manifestação é permitida, até o
acender de uma vela é considerado um acto atentatório contra a soberania do
Estado e castigado como acto de conspiração. “Malesuada fames, a fome ruim conselheira. Virgílio (Eneida, VI,
276), enumerando os monstros que guardam a entrada dos Infernos, qualifica a
fome de ruim conselheira, isto é, de inspiradora de crimes e de más acções.”
Não, não existe crise económica em
Angola, como o governador (creio que a pessoas sem história se torna
desnecessário mencionar-lhes o nome, porque dos fracos não reza a História). Não
há crise económica?!
“Sandra Gomes. Bom dia...cartão BNI Pré-Pago
alguém que esteja a conseguir fazer levantamentos ou pagamentos. Hugo Mendes.
Eu tentei, mas não consegui! Parece que desta vez é mesmo de
vez! frown emoticon. Luís Carvalho .. nada. Sandra Gomes.
Nada frown emoticon. Filipa Sena Nunes. Nada tb!”
Um país engolido de lixo e de
corrupção, e logo pelo terror, é o brilhante promotor do êxodo das suas populações
que para sobreviverem, facilmente são recrutadas para acções terroristas e de
refugiados na esperança de chegarem à Europa, a Terra Prometida.
Quando até padres são presos nas igrejas
em plena homilia, eis o que naturalmente virá depois: Patere quam ipse fecisti legem, sofre a lei que tu próprio fizeste.
O autor de um princípio deve suportar as consequências dele.
Numa manhã de cacimbo que nunca mais
acabava, vinha altaneiro na sua montada pendendo da sua cintura a justiça da
sua espada. Carregava numa mão a bíblia dos democratas intitulada, Como Exorcizar
um Ditador, na outra, uma candeia acesa significando que procurava um homem
honesto na República dos Estrangeiros. O cacimbo subiu de tom, isto é, aumentou
o caudal. A humidade estava a mais de oitenta por cento, o que fazia com que o
corpo se descontentasse, se esfriasse. O nevoeiro apertava, se cerrava, a visão
turvava. Num instante não se sabe saído de onde, um comboio de viaturas de
todos os ramos militares, paramilitares, milícias civis, agentes secretos,
armados com todos os modelos de armamento existentes no mundo, cercaram o
cavaleiro Luaty, arrastaram-no a si e à sua montada para local incerto. Eram
muitos os que o vigiavam atentamente e de armas sempre preparadas para o abaterem
ao mínimo gesto suspeito. Ninguém lhe dizia nada, até que ele perguntou-lhes:
«Prenderam-me porquê?» «Bom, és acusado de conspirar contra o Estado e de
atentares contra a vida do nosso Grande Inquisidor. Devido à tua indumentária e
meio de transporte e dos três objectos, uma arma de extermínio na tua cintura e
o que transportavas nas mãos, porque na nossa república isso é considerado
muito subversivo, altamente suspeito de terrorismo, não sei se estás a ver. Mas
não te preocupes com isso porque nós temos sempre preparado um libelo
acusatório do qual te apresentamos um exemplar e no qual poderás ler bem
explícitos a composição dos crimes contra a segurança do Estado. Toma e lê, e
não vale a pena contares com advogado ou quem quer que seja porque não te
servirá de nada. Apodrecerás na prisão aos poucos sem clemência nem
sensibilidade, que nisso nós somos imbatíveis. Aqui, quem faz e desfaz as leis
é o Grande Inquisidor.»
E o cavaleiro Luaty começou a ler o infindável
rol de acusações que há muito estavam redigidas: Corrupção. Desvio de fundos do
erário público. Desvio de fundos da reserva especial. Eternidade no poder.
Enriquecimento ilícito. Esbanjamento dos bens do Estado. Baixa em crescendo dos
preços do petróleo Brent Crude e WTI Crude. Venda de Angola (parece que já nada
resta, parece que já está toda vendida). Transporte de malas com milhões de
dólares para a China e Portugal. Repressão desmedida. Extinção do amor.
Perseguição e nalguns casos mortes de zungueiras. Espoliação de terras e de
terrenos. Abuso de poder. Falência do sistema dos serviços de ensino. Falência
do sistema dos serviços de saúde. Falência do sistema dos serviços de justiça. Caos
económico, social e político. Miséria e fome generalizadas. Intolerância
política. Apoio descarado da Igreja e das igrejas à corrupção. Desemprego
generalizado. Emprego só para estrangeiros. Escravidão de crianças por parte
dos chineses e de alguns nacionais. Tudo o que é Angola concentrado em poder de
uma família. Privatização da faixa litoral de Angola… de toda a Angola.
Destruição de casas e casebres com uso de financiamentos ilícitos sem direito a
indemnizações e essas populações tratadas como escravas e abandonadas nos matos
sem hipótese de sobrevivência. Chacinas de populações. Prisões arbitrárias.
Extinção dos partidos políticos da oposição. Desinformação sistemática com
campanhas dignas do sistema Nazi, (como aquela cena do filme dos nazis na Segunda
Guerra Mundial a tomarem banho num rio no inverno russo, como se fossem
vencedores, quando na verdade estavam em debandada e milhares de mortos
estendidos pelas estepes russas). Salários elevadíssimos para estrangeiros sem
justificação (exceptuando-se os catedráticos comprovados, engenheiros, médicos
e similares, claro) e nós com um salário mínimo que nem dá para sustentar a
fome. Meninas crianças nas ruas a venderem os seus corpos a pedófilos para não
morrerem à fome. Não prestação de contas a todos os níveis, ou quando o fazem,
as contas estão viciadas. Desordem e caos no sistema bancário. Lixo por todo o
lado. Uso exclusivo das parcas receitas petrolíferas só para a nomenclatura.
Desprezo pela vida do próximo. Abandono dos cidadãos à sua sorte. Subida diária
dos preços dos bens de consumo que faz com que a moeda nacional, o kwanza, não
tenha valor, pouco faltando para fazer companhia ao lixo, essa outra maravilha
de Angola. Moscas e mosquitos de todas as cores que nos infestam de doenças e
epidemias. Constituição rasgada. Constantes falhas no abastecimento de água e
energia eléctrica. Abandono definitivo dos mais elementares direitos humanos.
Não ter direitos, só deveres. Terror constante no dia-a-dia, além de podermos
ser presos sumariamente, também nos sujeitamos a todo o momento a sermos
assaltados, e com sorte se sairmos vivos. Universidades que vão fechar porque
os alunos não têm dinheiro para pagar as propinas. Despedimento de milhares,
muitos, muitos milhares de trabalhadores. Muitas, muitas, muitas falências de
empresas. Risco de falência do Estado. O agigantar da delinquência pela
falência do sistema económico. Tumultos permanentes. O vertiginoso rumo para um
estado selvagem de facto e de jure. Associação de malfeitores. Protecção
descarada da justiça aos delinquentes de crimes económicos e da endémica
corrupção. E muito, muito mais!
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