«O país pobre tem reservas limitadas. O Brasil tem
reservas da ordem de 30 bilhões de dólares, a Argentina algo como 10 bilhões.
Para comparar, um especulador médio como Edward Jones maneja, segundo o
Business Week, 255 bilhões de dólares, a Merril Lynch algo como um trilhão de
dólares. Mohamed el Erian, que tanto contribuiu para quebrar a Argentina, algo
como 180 bilhões. Joseph Stiglitz, premio Nobel de economia de 2001, explica o
processo de forma meridiana, usando o exemplo concreto de uma operação na
Tailândia. Um especulador de Wall Street pede um empréstimo de um bilhão de
dólares aos bancos tailandeses, em moeda local. Como se trata de um grande
investidor internacional, os bancos locais ficam encantados. Com este bilhão, o
especulador sai comprando dólares no mercado local. Vendo o dólar sumir do
mercado, outros banqueiros e especuladores locais também passam a comprar
dólares, cuja cotação sobe vertiginosamente. Depois de um tempo, o especulador
revende parte dos dólares para pagar o empréstimo local, e sai com um lucro
líquido de 400 milhões de dólares para cada bilhão empatado. Não produziu nada,
não precisou movimentar um centavo seu, e como o controle do movimento de capitais
é pecado mortal na doutrina dos que Stiglitz chama apropriadamente de
“fundamentalistas do mercado”, o dinheiro sai do país. O especulador não
precisou sair de Manhattan. A poupança de um país é transferida para outro.
Isto se chama “globalização”.» In Altos juros e descapitalização da economia. Ladislau
Dowbor http://www.dowbor.org/
- Muito obrigado queridos
republicanos. Isto é uma ditadura. O imperador
é o culpado disto tudo. Para
a semana vamos fazer
uma manifestação na embaixada
dos EUA. Vamos perguntar pelas contas
do líquido negro.
Os esfomeados e as esfomeadas, elas mesmo assim sempre muito
belas, parece que a fome
as faz ficar mais
bonitas, de tal modo
que fazem inveja
à mais famélica
modelo nas passarelas
da moda. Aproveitaram mais uma vez e carregaram as piranhas.
Ainda a luz
da manhã não
tinha sido convidada,
e já se ouviam os pregões
nas ruas.
- Comprem, comprem! É peixe
do rei, faço bem
barato!
As piranhas
vendidas a baixo preço
depressa desapareceram. Graças à piscicultura real os esfomeados nesse dia não
passaram fome. Uma zungueira reconhece
saracoteando o rabo.
- Vivam as ajudas
humanitárias do reino da ONU!
Ao raiar do dia na torre de
menagem, Epok com potentes
binóculos pretende observar
o que resta
do corpo de La Padep. Vê
a corda que
flutua ao sabor do vento.
Comenta para quem
quiser ouvir:
- Porra!
Estas piranhas são
demais, nem a corda escapa.
Aponta os binóculos
na direcção da água, na esperança de ver algum osso a
flutuar, mas o fosso está seco.
- Filhos da
puta de guardas. GUARDAS!!!!!
- Sim chefe,
favoreça!
- Baixa a ponte levadiça!
- Atenção, ordens do chefe
Epok, atirar as tábuas para
baixo!
- Não foi isso que eu disse caralho!
- Chefe… é a nossa
palavra-chave.
Depois de passar a ponte levadiça e antes
de chegar ao fosso, um
guarda junto
da Grande Muralha
alarma. Epok aproxima-se, interroga-o:
- Quem roubou
as piranhas?
- Ninguém sabe, ou
não quer
responder.
Epok olha para baixo. Vê um grande buraco cavado por baixo do Grande
Muro. Agora
já sabe como
os géneros e as piranhas desapareceram. Junto ao túnel
estava um papel pendurado
com uma espinha
de peixe que dizia: OS PESCADORES DO
ROBIN ALAMEDA SQUAD. Epok previne o chefe da guarda:
- Ponham guardas
de metro a metro.
- Já fizemos isso.
- Ponham arame
electrificado.
- Quase há cinquenta anos que a luz está sempre a falhar.
- Temos os geradores.
- Roubam as baterias e o combustível.
- Se isto
acontece na Grande Muralha
do Grande Palácio
Castelo-forte, não quero imaginar
como será no reino
e vice-reinos.
Capítulo XIV
O Real Santo
Ofício
«Esta aliança de interesses empresariais moderados com
uma estrutura mafiosa de poder está na base do fato de sermos hoje o país com a
distribuição de renda mais injusta do planeta, de não conseguirmos alimentar o
povo numa terra tão bem dotada de recursos naturais, de sermos balançados pelos
esquemas de especulação financeira como qualquer república de banana. A verdade
é que a estrutura mafiosa de poder, e a corrupção sistêmica que a sustenta,
tornam inviável qualquer esforço de reforma do Estado, de modernização
institucional, de evolução para uma sociedade civilizada.
Entretanto, a anunciada manifestação
dos estudantes republicanos, que apenas
pediam os passes de acesso
aos transportes reais,
apesar destes estarem autorizados há seis meses – sempre
os seis meses – proibiu-se. Parece que ninguém se
lembra, ou é cego,
que existe espalhado por todos os
cantos do reino o seguinte:
NÃO SÃO
PERMITIDAS MANIFESTAÇÕES NO REINO!
Mesmo assim os jovens republicanos não
desistem. Animados do mais profundo ideal, com o sangue a escorrer e a ferver nas artérias
juvenis do corpo ávido
de patriotismo, marcharam contra os diabocratas. O Real Santo Oficio
aguardava-os, prevenido pelo zeloso
alcaide-mor, vice-rei do condado Jingola.
A guarda
pretoriana conduzida em quadrigas puxadas
por quatro
cavalos brancos simbolizando a vitória
real, investiram contra o que lhes tinham
dito, que eram milhares de jovens leões
esfaimados. Pescaram vinte. Treze leões
e sete jovens
leoas que parecendo peixes atiraram-nos
a esmo para debaixo dos pés
dos condutores. Conduzidos à presença do grande
inquisidor, antes passaram por um túnel que
lembrava as noites muito escuras das
ditaduras. Ratos e morcegos
circulavam felizes na liberdade oferecida a baratas e restos
de lixo. Ouviam-se gemidos
que qualquer
coração não suporta. Pararam junto a um altar de sacrifícios.
O grande inquisidor oferece aos olhares a tranquilidade das suas
vestes brancas, que
acompanha com uma cruz
papal. Levanta-a e começa
o interrogatório:
- Acaso
procurais o Santo Graal?
Uma jovem pensa que foi
transportada para o local
errado, devaneia:
- Se procuramos o santo
hospital?! Porra! Este
gajo está drogado.
Ai meu Deus!.. viemos parar num hospital
de loucos!
- Silencia-te herege!
Outra jovem reclama
das condições.
- Isto não é lugar para uma donzela.
Devem interrogar os patrões
que criam falsos
empregos. Porque
trabalhamos e há vários meses que não nos pagam. Isso
sim! Seria um
trabalho sério.
Ah!.. deixem-nos em paz.
Ele lançou um olhar insinuante para a pretensa donzela. Viu a profundidade
das pernas abertas
na curta saia que
ela sem
notar (!) deixava ver o início
da claridade do prazer eterno. Devia ter quinze anos. Notou que
as restantes ofereciam o mesmo quadro que só a mãe
Natureza sabe criar. Perguntou para
todos:
- Acreditam em Deus ou no rei?
Ao que todos responderam.
- Em Deus!!!
- Estamos mal. Bom, vamos fazer assim. Donzelas
para a esquerda,
os outros para
a direita. Vão
ser levados para o braço secular.
Uma voz feminina descontente
ouve-se:
- Desculpe, mas
não abraço
desconhecidos.
- Vão levar tais torturas que jamais ousarão desafiar o rei. Guardas!
Levem-nos para o santo
lugar.
O grande
inquisidor escolheu para o inspirar,
um que
tinha sido seu
antecessor. O seguidor
dos prazeres da carne
na fogueira que antes
experimentara desnudadas aventuras nos corpos indefesos entregues
ao sabor de um
Deus inexistente.
Suplício delicioso
num pensar demente.
O padroeiro Santo
Torquemada do nosso Real Santo Oficio. O
grande inquisidor deu ordens para prepararem sete leitos. Um noviço
baralha-se:
- Sete? E o que fazemos dos outros?
- Sei lá. Também não te interessa. Nunca
ouviste falar da lenda
das sete magníficas? E o maldito chefe dos
Templários que foi queimado num dia treze?
- Não.
- Essa lenda
diz, que por
causa delas o mundo
nunca terá paz.
Noviço quem
faz os filhos?
- São os homens.
- Pobre espírito corrompido. Quem
faz os filhos são
elas. É por
isso que
não as queremos na Igreja.
No dia em
que isso
acontecer será o nosso fim. Elas quando produzem dois filhos, um é sempre pior que o demónio. Entendes agora
porque não
as queremos na Igreja?
- Sim, mestre Torquemada.
- Os treze levai para a grande tortura divina. Vai para lá e aguarda até
que trate da purificação
destas virgens. Duvido muito disso, acho que
há muito alguém
tratou da sua desflorestação. Desde quando
existem florestas virgens
hoje em
dia? Vai rachando os ossos a esses
republicanos.
Sete noviças preparam-se para o
martírio das jovens.
Ordenam-lhes:
- Dispam-se!
- O quê?! Não me dispo na
presença de homens!
Imagem: A pobreza é
algo triste, muito triste que não ocorre somente em nosso país, ...
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