quinta-feira, 14 de junho de 2012

O Cavaleiro do Reino Petrolífero (18)



«O país pobre tem reservas limitadas. O Brasil tem reservas da ordem de 30 bilhões de dólares, a Argentina algo como 10 bilhões. Para comparar, um especulador médio como Edward Jones maneja, segundo o Business Week, 255 bilhões de dólares, a Merril Lynch algo como um trilhão de dólares. Mohamed el Erian, que tanto contribuiu para quebrar a Argentina, algo como 180 bilhões. Joseph Stiglitz, premio Nobel de economia de 2001, explica o processo de forma meridiana, usando o exemplo concreto de uma operação na Tailândia. Um especulador de Wall Street pede um empréstimo de um bilhão de dólares aos bancos tailandeses, em moeda local. Como se trata de um grande investidor internacional, os bancos locais ficam encantados. Com este bilhão, o especulador sai comprando dólares no mercado local. Vendo o dólar sumir do mercado, outros banqueiros e especuladores locais também passam a comprar dólares, cuja cotação sobe vertiginosamente. Depois de um tempo, o especulador revende parte dos dólares para pagar o empréstimo local, e sai com um lucro líquido de 400 milhões de dólares para cada bilhão empatado. Não produziu nada, não precisou movimentar um centavo seu, e como o controle do movimento de capitais é pecado mortal na doutrina dos que Stiglitz chama apropriadamente de “fundamentalistas do mercado”, o dinheiro sai do país. O especulador não precisou sair de Manhattan. A poupança de um país é transferida para outro. Isto se chama “globalização”.» In Altos juros e descapitalização da economia. Ladislau Dowbor http://www.dowbor.org/

- Muito obrigado queridos republicanos. Isto é uma ditadura. O imperador é o culpado disto tudo. Para a semana vamos fazer uma manifestação na embaixada dos EUA. Vamos perguntar pelas contas do líquido negro.
Os esfomeados e as esfomeadas, elas mesmo assim sempre muito belas, parece que a fome as faz ficar mais bonitas, de tal modo que fazem inveja à mais famélica modelo nas passarelas da moda. Aproveitaram mais uma vez e carregaram as piranhas. Ainda a luz da manhã não tinha sido convidada, e já se ouviam os pregões nas ruas.
- Comprem, comprem! É peixe do rei, faço bem barato!
As piranhas vendidas a baixo preço depressa desapareceram. Graças à piscicultura real os esfomeados nesse dia não passaram fome. Uma zungueira reconhece saracoteando o rabo.
- Vivam as ajudas humanitárias do reino da ONU!
Ao raiar do dia na torre de menagem, Epok com potentes binóculos pretende observar o que resta do corpo de La Padep. Vê a corda que flutua ao sabor do vento. Comenta para quem quiser ouvir:
- Porra! Estas piranhas são demais, nem a corda escapa.
Aponta os binóculos na direcção da água, na esperança de ver algum osso a flutuar, mas o fosso está seco.
- Filhos da puta de guardas. GUARDAS!!!!!
- Sim chefe, favoreça!
- Baixa a ponte levadiça!
- Atenção, ordens do chefe Epok, atirar as tábuas para baixo!
- Não foi isso que eu disse caralho!
- Chefe… é a nossa palavra-chave.
Depois de passar a ponte levadiça e antes de chegar ao fosso, um guarda junto da Grande Muralha alarma. Epok aproxima-se, interroga-o:
- Quem roubou as piranhas?
- Ninguém sabe, ou não quer responder.
Epok olha para baixo. Vê um grande buraco cavado por baixo do Grande Muro. Agora já sabe como os géneros e as piranhas desapareceram. Junto ao túnel estava um papel pendurado com uma espinha de peixe que dizia: OS PESCADORES DO ROBIN ALAMEDA SQUAD. Epok previne o chefe da guarda:
- Ponham guardas de metro a metro.
- Já fizemos isso.
- Ponham arame electrificado.
- Quase há cinquenta anos que a luz está sempre a falhar.
- Temos os geradores.
- Roubam as baterias e o combustível.
- Se isto acontece na Grande Muralha do Grande Palácio Castelo-forte, não quero imaginar como será no reino e vice-reinos.

Capítulo XIV
O Real Santo Ofício

«Esta aliança de interesses empresariais moderados com uma estrutura mafiosa de poder está na base do fato de sermos hoje o país com a distribuição de renda mais injusta do planeta, de não conseguirmos alimentar o povo numa terra tão bem dotada de recursos naturais, de sermos balançados pelos esquemas de especulação financeira como qualquer república de banana. A verdade é que a estrutura mafiosa de poder, e a corrupção sistêmica que a sustenta, tornam inviável qualquer esforço de reforma do Estado, de modernização institucional, de evolução para uma sociedade civilizada.
In O mosaico partido.» Ladislau Dowbor http://www.dowbor.org/

Entretanto, a anunciada manifestação dos estudantes republicanos, que apenas pediam os passes de acesso aos transportes reais, apesar destes estarem autorizados há seis meses – sempre os seis meses – proibiu-se. Parece que ninguém se lembra, ou é cego, que existe espalhado por todos os cantos do reino o seguinte: 
NÃO SÃO PERMITIDAS MANIFESTAÇÕES NO REINO!
Mesmo assim os jovens republicanos não desistem. Animados do mais profundo ideal, com o sangue a escorrer e a ferver nas artérias juvenis do corpo ávido de patriotismo, marcharam contra os diabocratas. O Real Santo Oficio aguardava-os, prevenido pelo zeloso alcaide-mor, vice-rei do condado Jingola.
A guarda pretoriana conduzida em quadrigas puxadas por quatro cavalos brancos simbolizando a vitória real, investiram contra o que lhes tinham dito, que eram milhares de jovens leões esfaimados. Pescaram vinte. Treze leões e sete jovens leoas que parecendo peixes atiraram-nos a esmo para debaixo dos pés dos condutores. Conduzidos à presença do grande inquisidor, antes passaram por um túnel que lembrava as noites muito escuras das ditaduras. Ratos e morcegos circulavam felizes na liberdade oferecida a baratas e restos de lixo. Ouviam-se gemidos que qualquer coração não suporta. Pararam junto a um altar de sacrifícios. O grande inquisidor oferece aos olhares a tranquilidade das suas vestes brancas, que acompanha com uma cruz papal. Levanta-a e começa o interrogatório:
- Acaso procurais o Santo Graal?
Uma jovem pensa que foi transportada para o local errado, devaneia:
- Se procuramos o santo hospital?! Porra! Este gajo está drogado. Ai meu Deus!.. viemos parar num hospital de loucos!
- Silencia-te herege!
Outra jovem reclama das condições.
- Isto não é lugar para uma donzela. Devem interrogar os patrões que criam falsos empregos. Porque trabalhamos e há vários meses que não nos pagam. Isso sim! Seria um trabalho sério. Ah!.. deixem-nos em paz.
Ele lançou um olhar insinuante para a pretensa donzela. Viu a profundidade das pernas abertas na curta saia que ela sem notar (!) deixava ver o início da claridade do prazer eterno. Devia ter quinze anos. Notou que as restantes ofereciam o mesmo quadro que só a mãe Natureza sabe criar. Perguntou para todos:
- Acreditam em Deus ou no rei?
Ao que todos responderam.
- Em Deus!!!
- Estamos mal. Bom, vamos fazer assim. Donzelas para a esquerda, os outros para a direita. Vão ser levados para o braço secular.
Uma voz feminina descontente ouve-se:
- Desculpe, mas não abraço desconhecidos.
- Vão levar tais torturas que jamais ousarão desafiar o rei. Guardas! Levem-nos para o santo lugar.
O grande inquisidor escolheu para o inspirar, um que tinha sido seu antecessor. O seguidor dos prazeres da carne na fogueira que antes experimentara desnudadas aventuras nos corpos indefesos entregues ao sabor de um Deus inexistente. Suplício delicioso num pensar demente. O padroeiro Santo Torquemada do nosso Real Santo Oficio. O grande inquisidor deu ordens para prepararem sete leitos. Um noviço baralha-se:
- Sete? E o que fazemos dos outros?
- Sei lá. Também não te interessa. Nunca ouviste falar da lenda das sete magníficas? E o maldito chefe dos Templários que foi queimado num dia treze?
- Não.
- Essa lenda diz, que por causa delas o mundo nunca terá paz. Noviço quem faz os filhos?
- São os homens.
- Pobre espírito corrompido. Quem faz os filhos são elas. É por isso que não as queremos na Igreja. No dia em que isso acontecer será o nosso fim. Elas quando produzem dois filhos, um é sempre pior que o demónio. Entendes agora porque não as queremos na Igreja?
- Sim, mestre Torquemada.
- Os treze levai para a grande tortura divina. Vai para lá e aguarda até que trate da purificação destas virgens. Duvido muito disso, acho que há muito alguém tratou da sua desflorestação. Desde quando existem florestas virgens hoje em dia? Vai rachando os ossos a esses republicanos.
Sete noviças preparam-se para o martírio das jovens. Ordenam-lhes:
- Dispam-se!
- O quê?! Não me dispo na presença de homens!

Imagem: A pobreza é algo triste, muito triste que não ocorre somente em nosso país, ...
studiomusicblog.blogspot.com


Sem comentários:

Enviar um comentário