domingo, 10 de junho de 2012

O Cavaleiro do Reino Petrolífero (16). Reino Jingola, algures no Golfo da Guiné



Ainda existem reinos que por vontade própria regressam, vivem, revivem, convivem na Idade Média. Este é um desses reinos.

Capítulo XI
A Reunião dos R-7

«A armadilha que prende os pobres é impressionante. Os pobres são muitos, e votam. E como são muitos, o que se fizer pelos pobres rende votos. Logo, qualquer medida que favoreça os pobres constitui demagogia, autêntica compra de votos. Ah, se os pobres não pudessem votar, seria ideal, pois poderíamos fazer políticas para os pobres sem que isso deformasse a vontade popular e pesasse nas eleições. Mas votam, e como há eleições a cada dois anos, pode-se fazer política para os pobres uma vez a cada dois anos. Considerando que a desigualdade é de longe o principal problema do país, tentar travar políticas que a reduzam não é oposição, é sabotagem.»
In Oposição a quê? Ladislau Dowbor http://www.dowbor.org/

A atenção de Epok desviou-se pelo som de dois Bips provenientes do ER. E-mail Real. Olhou para o monitor e tentou lembrar-se das teclas de acesso. Esses das escolas ensinam mal, mas com um pouco de esforço conseguirei. Tecla para ali, tecla para aqui e já está. O primeiro e-mail vinha da Rádio Real. Falava de um pai que num mercado ali para os lados do condado de Viana, perguntou ao filho de sete meses porque é que ainda não andava. Muito chateado deu-lhe pontapés. Elevou-o e esmagou-o de encontro à parede. Justificou-se nas calmas. «O filho é meu, faço-lhe o que quero.»
E continuou calmamente a passear pelo mercado.
O outro e-mail dizia que o rei estava no reino Burundi. No Burundi?!! Ah!.. Não está de férias no Brasil?!! Esta é boa! Foi lá passar férias?!! Não entendo…
O texto completo dizia:
Do templo perdido na selva do reino dos Genocídios aconteceu a reunião dos R-7, os sete reinos mais teimosos do mundo. Jingola, Zimbabué, Níger, Burundi, Sudão, Somália, e Reino do Ruanda. Permitiram ao rei Jingola fazer o discurso de abertura. Isso seria apenas o único trabalho da reunião porque confessaram estarem – sempre – muito apressados. Preocupados por se ausentarem dos seus reinos. O rei Jingola sofre um ataque de pânico:
- Temos que acabar com isto rápido… tenho muitos casebres para partir.
- Não sei se a rainha já conseguiu arranjar alguma coisa para o almoço, ninguém tem nada para comer. – Lamentou o rei do Níger.
- Deixei um massacre a meio no Darfur. – Garantiu o rei do Sudão.
- Estão à minha espera para bombardear o aeroporto. – Desabafou o bélico rei da Somália.
- O meu avião está quase sem combustível. Vou espoliar um bocado nos depósitos do avião do meu colega Jingola. Combustível não lhe falta. Esmolou o rei do Zimbabué.
- Tenho que acompanhar a invasão do Ruanda. – Disse em tom marcial o rei do Burundi, preparando-se para se levantar.
- Vou dar-te um monte de socos na merda da tua cara infeliz rei do Burundi – Ameaçou o aguerrido rei do reino do Ruanda.
O rei Jingola pediu-lhes calma. Levantou-se e devido às pressas dos presentes improvisou um discurso:
- Camaradas reis! Temos que acabar com as nossas preocupações pessoais. Temos que escolher um desporto mais saudável. Deixarmos… acabemos com essa dos gladiadores no circo africano. Acabar com o desporto de nos matarmos uns aos outros. Não conseguimos entender o porquê da fome que aumenta. As nossas populações fogem dos campos. Ninguém quer trabalhar. Fogem para as capitais, vendem qualquer coisa, sentem-se felizes. Será que é assim tão difícil acabar com a fome? Temos que efectuar mudanças urgentes…
O discurso é interrompido pelo rei do Ruanda.
- Peço desculpa… acabo de ser informado que o Burundi está a invadir o meu reino.
Os reis abandonam o local em correria, receosos de ao chegarem aos seus reinos, estes já tenham os tronos ocupados por outros usurpadores.
Epok assusta-se com o barulho na porta.
- Abre esta merda!
Reconheceu a voz. Lembrou-se que a porta estava fechada por dentro, abriu-a.
- Ó pinturas horríveis e mal-educadas!
- Fechaste a merda da porta porquê?!
- Para não te aturar… diz-me como ficou o trabalho nas cozinhas.
Como resposta ela pegou numa lima e começou a limar as unhas. Apontou com a cabeça para o cozinheiro, este diz:
- Chefe, os géneros acabaram. Estava quase tudo estragado. Vinte quilos de…
- Couve, tomate, etc… já sei. Só sabem é roubar... aprenderam com quem?! A Pinturas esteve lá a fazer o quê?
- Ai é!? Não sabes ler? Isso não faz parte do meu perfil ocupacional.
- Pára de limar as unhas! O rei saberá que são muito mal-educadas?
- Se não gostas tens que te habituar! Melhor que nós não há!
- Há sim! As piranhas. Só que com as tuas pinturas vais poluir a água e as piranhas não sobreviverão. Entretanto o teu belo corpo de real súbdita será um belo petisco. Faremos boas latas de conserva para exportação. Negras com piranhas enlatadas. Ah! Ah! Ah!
- Grande sacana, desgraçado. Vou preparar um relatório para o rei.
Epok marimbou-se e encara o cozinheiro que treme de medo.
- A partir de agora quero ver os géneros estragados!

Capítulo XII
La Padep e a princesa

O cavaleiro La Padep, depois das injustas marteladas que levou nos ossos conseguiu solidificá-los. Foi a sua amada princesa que conseguiu surripiar dos seus pais o dinheiro necessário para pagar a um físico amigo, e a outro muito conhecido pela fama dos seus unguentos. Tinha-lhe recomendado para evitar a todo o custo as pretensões de qualquer feiticeiro, que não curavam nada, pelo contrário, faziam imensos estragos. Graças aos cuidados da sua querida, que não poupou esforços, sentia-se como um peixe raro, desses dos aquários reais que não lhes falta nada. Incluindo água e temperatura sempre agradáveis, livres de poluição. Como os cães reais, que têm uma clínica privada para o tratamento de uma simples verruga, ou da comida excessiva. Enquanto os súbditos aguardam com impaciência fora dos portões triplamente reforçados com os melhores aços importados, os restos das latas importadas.
La Padep, imprudente, assomou à janela. Viu a imagem habitual do reino. A negra, para sempre a negra, carrega para sempre uma criança às costas. Apanha qualquer lixo do chão e dá na criança que come e ri. Quer dizer, negros e negras para sempre confundem-se com o lixo. Fazem parte dele.
La Padep considerou: os juristas, economistas, advogados e empresários nacionais, que já não existem, políticos que se engasgam ao pronunciar uma palavra, contratam empresários estrangeiros degredados. Bem protegidos vendem-nos toda a merda. Com defeitos de fabrico, estragados, os restos das fábricas alimentares, de bebidas, tudo o que é importado. Toda a merda do seu lixo industrial aqui chega. Os lucros abissais dos dólares do inferno são carregados em malas pretensamente diplomáticas. Parece que ninguém se lembra que esta lavagem de dinheiro alimenta directa ou indirectamente os circuitos do terrorismo internacional. Impunemente já não pagam salários. Ninguém tem direito a receber pelo trabalho digno. Só os que roubam têm direito a salários pagos no estrangeiro. Se alguém reclama, não faz sentido, porque os canos das pistolas aparecem em qualquer momento encostados nas cabeças. Manifestações são proibidas. Ainda bem! Porque fazem aumentar a raiva, o ódio do juízo final, à espera da guilhotina no final da Monarquia Francesa, tal e qual igual como aqui.
São bobos da corte, bobos do rei. Que faremos de alguém que nunca leu um livro?
Toda a família tem uma ovelha ranhosa. Sempre foi assim, certo?
Não! São duas. Um homem ou uma mulher que arruínam a nossa vida. Depois aparece outra para saborear o que resta das ruínas. Sempre assim. Depois mais outra, até que ousamos dizer, se o conseguirmos, basta!
Os fundamentos da vida estão em procurar. Saber procurar e aprender. Essa é a verdadeira essência. Depois de cansados, pontapeados, desprezados, encontramos finalmente o derradeiro Caminho. Essa verdade última, que poucos conseguem descortinar. Finalmente viver em paz com Deus, com o Universo. Mas isso ainda é um pouco da suprema Verdade. Quando estamos prestes dela, o Criador ordena que seja para sempre parado o motor da vida, que é o nosso coração cansado das nossas angústias devido aos pecados cometidos. Porque na nossa vil e vã existência fomos ensinados a odiar.
Subverter a opressão de meia dúzia ao serviço de interesses estrangeiros que nos escravizam, é fazer a revolução. A população aguarda ansiosa.
La Padep desfez o embrulho que a princesa lhe enviara. Era a indumentária vermelha e negra dos mosqueteiros do secreto Santo Oficio. A temida polícia secreta do rei. Vestiu-se e lembrou-se que faltava a espada especial dos paladinos do rei. Isso não seria difícil porque no mercado primevo Roque Santeiro existe tudo. É apenas uma questão de dinheiro. Pediu a uma jovem, das muitas que esperançavam serem suas namoradas. Tantas pretendentes que se lhes perde a conta. Ela aconselhou:
- Olha, vê só La Padep, este dinheiro não vai chegar!
- Fofinha, faz só confusão com o vendedor, quem sabe…
- Não sou dessas. Se faltar algum dinheiro vai exigir que namore com ele, sabes como são esses gajos, não é?!
- Deixa-te disso. Pronto, compra uma espada usada, sei lá.
- Estou no negócio de espadas há muito tempo. Olha, vou comprar uma dessas feitas na Nigéria. Se tiveres o azar de a usar, desfaz-se.

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