domingo, 17 de junho de 2012

O Cavaleiro do Reino Petrolífero (19). Então anuncia-se a realização do 1º Congresso dos Feiticeiros Petrolíferos



Forçam-nas a tirarem as roupas. Resta o refúgio das duas peças íntimas. Torque exclama descontrolado:
- Um conjunto da Triumph!!!
- Não velho chalado… é Chanel!

Capítulo XV
Os feiticeiros

Apesar dos convites que os feiticeiros lhe fizeram, Epok preferiu ignorá-los. É certo que tinha muitos feiticeiros na família, mas não queria nem era aconselhável que os nobres soubessem disso, porque decerto criariam intrigas para lhe lixar a vida e ocuparem o seu lugar. As invejas eram muitas. Conseguiu sobreviver a muitos feitiços porque o dele era muito forte, mais poderoso que o petróleo, mais brilhante que o mais valioso diamante.
Então anuncia-se a realização do 1º Congresso dos Feiticeiros Petrolíferos, no Palácio dos Feitiços. Diz a lenda que o Palácio nasceu devido ao esforço conjunto da unidade mental quando todos ainda viviam em harmonia. Fizeram um grande feitiço e do nada surgiu a obra, que ainda continua a ser motivo de orgulho e coesão mental. Os trabalhos do congresso dividiam-se em quatro capítulos.

Capítulo um
Abertura dos trabalhos feita pelo Grande Feiticeiro. Ele entra acompanhado por várias jovens feiticeiras seminuas. Lançam-se dezenas de morcegos, cobras, galinhas, corvos, mochos, ratos, aranhas, baratas, porcos, pregos enferrujados, caveiras e ossos à sua passagem. O corredor central é ladeado por panelas com água a ferver, junto com mistelas para que sejam efectuados alguns feitiços como prova de organização. No púlpito o orador começa a palrar. «A Nação está completamente enfeitiçada. Quem quiser ser general, ter uma óptima mulher, um emprego, apanhar o marido da outra, apanhar a mulher do outro, tem que pedir-nos um feitiço. Vou desvendar-lhes um grande segredo: conseguimos enfeitiçar o rei. É por isso que não conseguimos ir em frente. Pelo contrário, cada vez mais para trás. O rei está bem enfeitiçado porque nunca nos deu valor. Tem o que merece. Isso prova que somos muito poderosos. Mas, um dos maiores e mais bem sucedidos feitiços que fizemos foi sobre o SPR, Sistema de Pagamentos do Reino.
Um feitiço feito à meia-noite, onde reunimos e invocámos todos os trovões e faíscas do mundo. Resultou em cheio. Toda a gente trabalha e ninguém recebe nada. Na realidade estão como desempregados. Depois aperfeiçoaremos este feitiço para atingir a nossa meta que é entregar o reino aos estrangeiros e obter cem por cento de desempregados. Temos que avançar mais. Estamos a ser ultrapassados pelos grandes feiticeiros brancos da genética e da clonagem. Temos que estar atentos ao que se passa no mundo. Temos que estudar muito. Proximamente enviaremos uma delegação para aprender as modernas técnicas dos feiticeiros brancos.» Levanta o seu bastão encimado por uma caveira que lança raios de luz. Dezenas de crianças escolhidas como as melhores na arte da feitiçaria, entram e cantam. «O nosso rei e rainha já não têm nada para nos dar. Acabaram-se os nossos sonhos, nada mais há para enfeitiçar.»
- Declaro o início dos trabalhos. – Sentenciou o Grande Feiticeiro.
- Pelo Poder! Do Feitiço! A Luta! Pelo Feitiço!

Capítulo dois
Intervém o Feiticeiro do Norte: «Trabalho não nos falta. A aderência é digna de Cátaros. A Católica sente receio devido à escassez de fiéis. Os militares preocupam-se, os partidos políticos também. Isto é novo para nós. As crianças perseguem-nos aos milhares. Temos que aumentar os nossos honorários. Nunca imaginei ver tanta gente na feitiçaria. Temos que formar quadros urgentemente, porque podemos perder o controlo da situação. Uma universidade já está a ser construída. Conseguimos erguer um grande armazém onde estão amontoados ossos aos milhares. As ruas já se iluminam com velas em caveiras. O combustível retira-se dos corpos que tombam com a fome. Devido à falta de apoio está tudo nas mãos de estrangeiros. Em breve correremos com eles respeitando as nossas leis em vigor. Por todo o reino um só!» Feitiço! – Confirmaram em uníssono os presentes.

Capítulo três
O Feiticeiro do Centro com ares de intelectual e cérebro bem lavado pela propaganda estalinista repete-se: «Camaradas e compatriotas. Membros do glorioso partido dos Feiticeiros. A nossa grandiosa luta de libertação nacional, os nossos heróis que tombaram não derramaram o seu sangue em vão. Alguns de nós tombaram nas esquinas devido aos assaltantes dos telemóveis e às espoliações e destruições dos nossos casebres e ancestrais bens. A nossa luta ainda não terminou. Agora a nova guerra de libertação nacional orienta-se sabiamente contra os esfomeados. É uma luta sem tréguas…»
Alguém da assistência interrompe, faz-se ouvir.
- Porra! Este gajo veio para aqui por engano! Vai para o Palácio do rei!
O orador sente que alguma coisa está errada. Verifica os papéis e justifica-se.
- Desculpem, enganei-me no discurso. Vou continuar... como dizia: a nossa luta de libertação nacional, sabiamente conduzida pelo nosso Grande Feiticeiro fez com que a exclusão e escravidão…
- Olha o gajo! Agarra! Atrás dele!
Uma turba, qual vulcão, cai em cima do orador. Este torna-se num minúsculo ser. Pancadaria cai-lhe no corpo. O Grande Feiticeiro aparta os ânimos. A vítima recompõe-se. Um exaltado esclarece:
- Pensas que estamos em 1975?! Essa conversa já não dá. Mesu ma jikuka… (já abrimos o olho) vai directo ao assunto.
- Está bem, já sei o que querem… oiçam por favor: As brigadas do bilhete de identidade estão sem plastificação. Roubaram-lhes um mês de vencimento. Não têm alimentação, “esqueceram-se” de pagar-lhes os vencimentos. O dinheiro dos carros para os apoiar desviaram-no. A desmotivação avança. O feitiço para sabotar as eleições resultou. Tudo está definitivamente enfeitiçado, para que não hajam eleições. Quem as quiser, que invente outra nação ou vá para o reino do Gabão... tenho dito.
- Vês que quando queres sabes falar? Muito bem! Muito bem!
E premeiam o orador com uma grande chuva de feitiços.

Capítulo quatro
«Sou o Feiticeiro do Sul. Posso afirmar que o Santo Oficio perdeu as forças para nos combater. Temos feiticeiros infiltrados nos centros de decisão. Não há actividade sem feitiço. Temos escolas que formam bons feiticeiros. Somos rigorosos com os nossos remédios. Conseguimos acabar com famílias inteiras. Finalmente conseguimos o respeito e admiração que merecemos.»

Conclusões
O Grande Feiticeiro prepara-se para encerrar os trabalhos.
Camaradas Feiticeiros e… desculpem isto dos camaradas. Sabem… foi tanto tempo que por vezes não esquecemos… Feiticeiros e Feiticeiras finalmente realizámos o nosso sonho com este primeiro congresso. Devidamente legalizados já podemos atirar as pernas para a frente. A feira dos feitiços aqui perto é um êxito. No topo de vendas está o feitiço da fome, do roubo e dos poetas. Estamos em todo o lado, somos imparáveis. Há ainda quem não tenha as suas quotas em dia. Tem trinta dias para as pagar. Findo o prazo serão contemplados com um poderoso feitiço. Às delegações estrangeiras dizemos: bem-vindos e roubem-nos à vontade.
Apelo ao pessoal de serviço para limparem a porcaria que fizemos. O cheiro está insuportável. Limpem com lixívia nacional, importada não dá. Ah!.. Antes disso convém lembrar: A nossa capital é a mais exótica do mundo. As nossas esposas bem enfeitiçadas passeiam nas ruas apresentando o nosso genuíno folclore nacional. Com as oferendas em qualquer recipiente ficam bem enfeitadas com o que carregam na cabeça. Esse é o seu penteado tradicional. Nunca se esqueçam do mais importante! Para que o feitiço do dinheiro funcione, basta matar um familiar. E um feiticeiro infiltrado na Igreja fugiu com a família para o estrangeiro, levando os quinhentos mil dólares dos donativos. Outro feiticeiro digno de menção é o que está na EDVR, a Empresa Distribuidora das Velas do Reino que deixará de as fornecer. Ninguém paga as contas.
O Feiticeiro do Centro interrompe.
- Como é que os coches vão andar nas ruas sem velas? Sem luz os esfomeados pilharão tudo.
- O Santo Oficio já criou esquadrões da morte.
- E os mosquitos?
- Apanhem-nos e comam-nos. Contém o mínimo de minerais essenciais à saúde.
- O Nosso Feitiço! Voa! Voa! Um só! Feitiço! Escravos para sempre! Da fome e do feitiço! Garantiram todos os feiticeiros.
Nos três dias que duraram os trabalhos, as áreas circundantes do Palácio viveram momentos de grande terror. Logo no início a luz e a água foram-se. Um denso nevoeiro pairava no céu e na terra constante, fazia os vultos parecerem fantasmas. As noites eram tão escuras que quem se aventurasse a circular, sentia-se como dentro de um poço sem fundo. Como se não bastasse, raios e fortes trovões vindos do céu iluminavam a cena desencorajando mesmo os mais audazes transeuntes. As mães em pânico não sabiam o que fazer com as crianças. As pobres alminhas imploravam:
- Mamã tira daqui os feitiços! Não quero mais brincar com eles. Mamã, gosto mais da TPA, os feiticeiros dela são muito engraçados. Fazem-me rir bwé!
- Não posso fazer nada, estes feiticeiros são poderosos.
Sobre a água e a luz as vozes concordavam:
- Como se não bastasse o rei e os cortes constantes que os nobres nos fazem, agora aparecem estes feiticeiros.

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