sexta-feira, 21 de setembro de 2012

AS CINCO MAGNÍFICAS (12) Contém cenas eventualmente chocantes




Não estava disposto a participar no enlace que me estava a ser preparado. Olhei para o relógio e fingi:
- Tenho um compromisso que não posso adiar.
Ela insinua:
- Vais adiar o leite dos meus cocos?
- Infelizmente sim. Leite com cerveja é muito indigesto.
- Não me consideras bonita?
- Pareces uma pintura de Renoir.
- Renovar? Não achas que estou bem assim?
Tive que sair quase a fugir. Na saída ela diz-me:
- Depois vou-te ligar.
- Está bem.
Como previ, ela tornou-se incómoda porque me ligava a qualquer hora. A desculpa que lhe dava era sempre a mesma:
- Quando conseguir ficar disponível, vou-te dedicar algum tempo.
Numa tarde parado no trânsito automóvel, noto sinais de luz vindos de trás. Olho para o espelho e vejo que é ela. Parece que faz sinal para depois parar onde houver lugar. Põe a cabeça de fora, faço o mesmo, ela grita:
- Paramos em frente à minha casa!!!
Assim que chegámos ela mostra-se aborrecida. Repete o que antes me dizia:
- George, porque não atendes os meus pedidos?
- Já te expliquei.
- Evitas-me?
- Não.
Repeti-lhe que estava muito atarefado, e quando surgisse uma oportunidade ser-lhe-ia prestável. Estava quase no fim da rua quando surge uma jovem que me obriga a parar. Pensei que fosse alguma prostituta, ou uma tentativa de assalto. Olhei para os lados e não vi ninguém. Ela aproxima-se e pelo vidro entreaberto diz-me:
- Senhor deixa-me entrar.
Fiquei indeciso. Olhei-a bem e não vi nenhum objecto estranho. Ela diz-me de modo convincente:
- Abra a porta, a sua vida corre perigo.
Arrisquei, desconfiado abri a porta, entrou e sentou-se. Tinha entre vinte a vinte e cinco anos. Tranquilizou-me:
- Não sou mulher da vida. Como lhe disse o senhor está em perigo. Siga e pare mais à frente.
Consegui estacionar num local discreto. Fiz-lhe uma proposta:
- Acho que estaremos mais à vontade numa esplanada.
- Não, aqui ficamos bem, ninguém nos vê.
Ela viu que estava muito preocupado. Começou por dizer:
- Não me posso demorar muito. Quero alertá-lo que essa senhora é muito perigosa. Ela e a irmã formaram uma quadrilha, andam à caça de estrangeiros.
Fiquei alarmado. Exclamei:
- Não me diga!
- O estratagema que utilizam para os abordar é o chocar com o carro. A partir daí criam intimidade até conseguirem o que pretendem.
Ela adivinhou o que ia perguntar-lhe, respondeu:
- Chamo-me Sunny.
- George.
- Quando um estrangeiro lhes interessa, vigiam-no discretamente e depois com o carro, zás! Roubam-lhes tudo o que podem, de preferência os carros. Se a casa é deles, obrigam-nos com ameaças de morte a porem a casa no nome delas.
Disse-lhe com uma certa ternura:
- Sunny, você caiu do céu.
- Não, simplesmente acho a conduta delas horrível. Sou bastante religiosa e não posso aceitar uma coisa dessas. É a moda que elas agora criaram para enriquecer.
- Muito reprovável.
- Sabe George, são tão ardilosas que até lhes surripiam o dinheiro das contas bancárias.
- E a polícia?
- Muito difícil. A rede está bem montada. O importante é que evitem as suas malhas.
- Sunny, o interessante é que a Ninféia não aparenta nada disso.
- Qualquer pessoa desconfia quando entra na casa dela. As paredes estão cobertas com espelhos, para vigiar as vítimas. Está sempre a mudar de carro para passar despercebida. A média é um homem… uma vítima, por mês. Estão muito ricas, costumam passear muito na África do Sul, também em Portugal, onde tem casas, de vez em quando na Inglaterra e Estados Unidos.
Sunny despediu-se. Disse-lhe que estaria sempre ao seu dispor. Pedi-lhe a sua morada e o número de telefone. Ela não aceitou, abriu a porta do carro e pôs-se a andar.
Perguntei a George:
- Não te preocupaste mais com a Sunny?
- Preocupei. Tentei fazer tudo o que pude para a encontrar, para falar com ela. Esforcei-me imenso, e acabei por desistir. Convenci-me que era uma alma do outro mundo.

CAPÍTULO VI
JANDIRA

Já há muitos anos que a conhecia. Nasceu no Lubango. O seu pai abandonou-a imediatamente. Até hoje não sabe quem é aquele que lhe deu origem. A sua mãe não tem meios para a sustentar. Envia-a para Luanda onde fica entregue aos cuidados do seu avô. O ambiente em casa não é dos melhores, pois que se juntam vários filhos, de várias mulheres, como manda a tradição africana. Sai um filho, uma filha e surgem mais outros de outras mulheres. Cedo é violentada por um dos seus tios. Ameaçada por este, que se falasse, levaria uma grande pancadaria. Ela com medo, fica muda, e continua a ser violentada no silêncio de quatro paredes. Mais tarde mantém relações sexuais com outro tio. O seu avô vem a saber disso, e expulsa-o para a Europa. A sua ocupação principal em casa, é carregar água do rés-do-chão para o terceiro andar. Deixa de estudar porque não lhe dão dinheiro. Diziam, que se nós não estudamos, tu também não estudas.
Jandira tem vinte e três anos. É muito baixa e muito magra. Anda quase sempre a rir. É a minha vizinha da porta em frente. Costuma ficar com a chave da minha casa. Diverte-se a ver filmes. É honesta. Digna de confiança. Ofereceu-se para fazer alguns pequenos serviços domésticos. Gosta muito de estar na minha presença. Costumava dizer-me:
- Aqui estou bem, longe da confusão da minha casa. Mas não me deixam ficar muito tempo. Estão sempre a chamar-me. Jandira para aqui, Jandira para ali. Se não fosse a comida que aqui como já teria morrido à fome. Quase nunca me dão comida. És um verdadeiro pai para mim:
- George compra outra água mineral, não gosto desta.
A nossa amizade prosseguia. Tratava-a como uma filha. Jandira passava a maior parte do tempo agarrada ao telefone. A conta das chamadas subia imenso. As suas amigas telefonavam constantemente a dizer que queriam falar com ela. Eu passava o tempo a chamá-la para atender o telefone. Era muito engraçada. Pesava pouco, facilmente podia-lhe pegar e colocar no meu colo.
Abriu a porta, entrou. Sentou-se e pegou numa revista. Pouco tempo depois ouve-se a voz da sua tia:
- Jandira! Jandira!
- Poças! Não me deixam sossegada. Parece que não há mais ninguém em casa. George arranja filmes, estes já os vi todos. Vou levar duas maçãs e uma gasosa.

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