terça-feira, 11 de setembro de 2012

Os Jasmins da Lwena (32) Viver no luxo e nos gastos supérfluos também é um crime contra a humanidade.




No dizer de Aquilino Ribeiro: «Homens inteligentes, com boa cultura política e jurídica, não passam disso». Impostores que lêem Shakespeare… são assim os grandes actores»
Falamos, criticamos… e nunca nos cansamos?! Os românticos abolicionistas lutavam contra a desigualdade. Lutar para abolir a escravidão é uma coisa, a sua formação é outra. Libertarem-me e continuar escrava é puro romantismo. Liberta no cativeiro, cativa da liberdade da chama trémula da vela. Os campos de concentração angolanos são um imenso oceano, onde só navios da fome navegam.
As roupas muito justas no meu corpo sensual despertam a sensualidade no olhar dos homens. E esquecem as formigas transportando comida na vertical parede. As plantas mostrando a sua beleza ao seu namorado Sol. Perto, restos de uma cadeira comentando a vida passada de opositores políticos. Crianças saem da escola fugindo da morte dos velozes automóveis enlatados nas estradas sem escoamento. A morgue vigia-as. Chegam a casa famintas… espera-as a insaciável fome.
O sinal vermelho paralisa os mastodontes metálicos. O verde surge, lançam-se numa louca corrida pelo capim da selva asfaltada. A História da Humanidade é a história das guerras para o controlo das matérias-primas. As civilizações desapareceram devido ao desenvolvimento de armas sempre mais poderosas, até à descoberta do nuclear. Sempre em conflito com a Natureza, os idiotas não sabem que ela tem consciência. A revolta final é a revolução da Natureza. Como uma gigantesca empresa de limpeza e saneamento a terra é varrida, limpa da erva daninha humana. A civilização humana termina, outra surge. O ciclo é repetitivo. A Natureza sente-se só, cria humanos para se divertir. Quando cansada dá-lhes com a raquete, como se fossem uma bola de ténis.
Sem leitura não há desenvolvimento intelectual, é por isso que o meu cérebro não funciona. Os outros povos avançam e nós recuamos, contentamo-nos em apanhar migalhas que eles vão deixando. De qualquer modo esta é a mais atroz escravidão que ainda não foi devidamente contada. O mais ignóbil acto criminoso de todos os tempos. Exterminar povos! Sob a voz de comando: COMAM A FOME!!!
A hipocrisia Ocidental espalha-se por Angola ao ritmo do bigue-bangue. Está muito desenvolvida, até já tem disciplina universitária garantida. Está como os cães que também já não acreditam nos seus donos. Crise de hipocrisia canina. Ladram hipocritamente para os gatunos. Tão cínicos estão que fingem que gostam da comida que o dono lhes dá. E ladram no melhor sono da noite. Prazerosos em acordarem os donos, ladram-lhes óperas. Eles levantam-se agitados, dirigem-se para os amigos infiéis. As caudas peludas agitam-se. Justificam o ladrar tentando morder o ensonado dono, fingindo que é um gatuno. Muitos proprietários aperceberam-se do logro e já não lhes falam, ladram-lhes. A curto prazo uma serenata canídea será uivada.
Como querem que acredite em Deus?!
Creio no Grande Deus da Fome. Quando morrer tenho o seu paraíso garantido. Antes de lá chegar aguardo por uma comissão da ONU para me governar.
Kilimanjaro, a lenda do enterro do Rei Salomão. Tanta sabedoria deixada, talvez nunca igualada. Tenho que penetrar no fundo do tempo e trazê-lo à superfície.
É uma instituição bajuladora que serve apenas para amigos. Chama-se propagação nacional de malfeitores. As igrejas ajudam-me na miséria. Aviltam-me com o que não tenho, dinheiro. Mesmo assim insistem porque senão!.. Deus que tudo vê vai ficar muito zangado e não me agraciará. Meto-me no dinheiro emprestado para pagar o que não devo, assim mo exigem os abençoados pastores. Depois fome, a interminável cura do remediar dos meus males. Jovem precocemente velha, angolana a morrer de fome e de doenças. Penetro o olhar no fundo da minha alma e vejo: Chegamos a velhos e antes do derradeiro ai, descobrimos que andámos a vida inteira desgovernados.
Não sei porque é impossível encontrar um governo de sábios. Os governos são como as lotarias, como os casinos. Apostamos, não acertamos, perdemos. Paradoxo: populações morrem à fome e aos governantes nunca lhes falta comida. Outro paradoxo: onde não há comida, os ratos humanos multiplicam-se. Mais outro paradoxo: onde o ser humano se atrela, doenças e epidemias não faltam. Não consigo entender o porquê do angolano construir e depois destruir. Passa o tempo a edificar e a derrubar, é isso! Não consumimos bebida, ela consome-nos. E as farras, as festas perseguem-nos. As ruas entrevadas por onde passo parecem inundadas por rios de álcool. Parecem peixes, confundem-se com garrafas alcoólicas a boiarem na corrente sem destino. A nossa existência depende dos vapores, dos volumes alcoólicos do rodopio no éter. Quando sentenciamos a um possesso emborrachado: «Não estás em condições de sair, podes ser assaltado... não conduzas o teu carro, a polícia vai-te prender» «Oh! Quero lá saber! A mim ninguém me maltrata, me prende» E elas acontecem. Depois dos vapores vagamente extintos, os pobres ébrios arrependidos juram nunca mais beberem. Voltam à anormalidade: «Vou beber só um copito» Desajeitados como plantas sem água, como antenas parabólicas desdentadas.
Neste beber, vejo crianças nascer, brincar, crescer… sofrer.
Aderi, sou fã do movimento espontâneo, Vamos Destruir Luanda. Existem campeonatos do mundo para tudo, mas não existe nenhum para a fome. Falta o campeonato do mundo para premiar a melhor ditadura. E torneio para o melhor governo destruidor de casebres. Libertem-me da fome e dominarei o mundo.
Estou cansada de chorar, os novos senhores dos escravos esgotaram-me as lágrimas. Até isso me espoliam. Espero a ordem desnorteada usada para me matarem dos partidários sem trabalho, onde todos os anos há tiranos. Não era necessário tal terror na luta armada de libertação: Mahatma Gandhi e a inteligente não-violência que conduziu a independência.
Por isso aqui estou desfolhada, desflorestada. Ainda me resta a ossada no campo de concentração Bantu, concentrada. Fechem, eliminem os campos de concentração Bantus. A orquestra sinfónica Bantu está desatinada. Bantu, não obrigue o seu irmão a morrer de fome!
O dia despontou nas cercanias do Sol. Com tal inspiração que lhe apetecia repintar o Universo. Como um pintor a iniciar a sua tela. Próxima, a água ensaiava passos de dança com a areia marítima e a minúscula vida agitava-se, corria. Procurando sobreviver como eu às inconstâncias da luta ferida, das mordidelas petrolíferas do dia-a-dia. Como folhas de plantas sempre amarelecidas tombadas, esquecidas na selva da sobrevivência humana. O caótico humano despertou, civilizou a vida marítima que mudou de rumo querendo confundir o Criador. Uma multidão de vozes abandonava-se perseguida pelo cavaleiro apocalíptico da fome. Sempre a cavalgar onde não há corrida e comida. O dia distanciava-se afoito do Sol. Terminou a sua tela da desgraça para o dia seguinte.
Carros sem estradas servem os sistemas alternativos circulatórios sanguíneos, bloqueios dos becos cardíacos sem saída. Mas são salutares, os tanques de guerra errantes militares. Para me amedrontarem com a dissonância dos evos. Ah! Adoro o tilintar das garrafas com o líquido da nossa perdição. É o povo Bantu de garrafa na mão, das noites claras e dos dias escuros. Evito o encontro com a tristeza mas ela persegue-me, sonda-me. A minha cor é diferente, devo passar fome?! Descobri: a fome é negra! Tudo o que é péssimo é Negro! Ó Deus dos Brancos! Pintai-me da vossa cor! Depois do vosso colonialismo, eis a tirania Bantu.
Epidemia de amigdalite e poliomielite silenciou e paralisou a nossa oposição política. E o governo que não sente, tem olhos e não vê. Tanta cegueira nos palácios doutrinais, governamentais com livros que nunca se abrem, na visível continuação da idade das trevas. A Natureza evolui, os homens perdem-se na vegetação das aprazíveis florestas que violentam. Viver no luxo e nos gastos supérfluos também é um crime contra a humanidade. As armas são o símbolo do poder. As mentes desarmadas são valiosas para a democracia. Para votar é necessário que hajam eleitores. Para haver eleitores é necessário que hajam eleições. Para haver eleições é necessário que haja democracia. Para haver democracia é lícito apear o poder ilícito, abandonar futebóis e outros caracóis. Erigir escolas, universidades, com bons professores para que a indigência acabe. Sem universidade não existe liberdade, existe a incultura da fome.
O poder é como um navio, necessita de bons marinheiros, bom imediato e competente comandante. A navegação é garantida na atenção constante do leme e da proa. O rumo da navegação é garantido. Sempre em frente! Comandante ordene! O navio da governação está pronto! Para navegar ao ritmo da democracia consolidada à proa, à ré, a bombordo e a estibordo. Por incúria o navio aderna perigosamente e fica à deriva. O comandante e o imediato têm que ser substituídos. A incompetência cede lugar à competência de quem sabe dirigir a embarcação e conduzir o povo, a tripulação, para porto novo. Não deixemos esta democracia afundar. Não há submarinos para a salvar, há mergulhadores para nos abismar. Vai, navio da democracia! Navega na calmaria mental, evita os escolhos, vigia de noite e de dia! Democracia com curto-circuitos é incendiária. A da negligência da vela acesa também o é, quando a governação priva de energia eléctrica a população.
Entretanto, os esgotos no caudal da liberdade passeavam, arrastavam, rumavam o esgotamento democrático. Há democracias de cinco níveis: Um: a curto prazo: a democracia é subvertida por um golpe de estado. Dois: a médio prazo: as instituições não se adaptam à nova vida. Três: a longo prazo: quem desafiar o poder enfrentará carros de assalto, helicópteros, aviões, e exposições armamentistas. Quatro: eterna: a democracia é um reino infestado de corrupção, e de violação permanente da Constituição. Como um navio bem pintado, aparelhado exteriormente. No interior a ferrugem, a podridão. Os ratos corroem o que resta das estruturas. Ao afundar ninguém a bordo se apercebe. Cinco: democracia nuclear: quem ameaçar, quem não concordar, leva com o arsenal da explosão atómica e tudo vai voar, ficar sem ar.
Esta democracia violenta-nos os sentidos com os seus sons do poder repetitivo, não alternativo, horrivelmente cansativo. Como se estivéssemos a assistir sempre a um mesmo jogo de futebol. Como se nada mais existisse.

Sem comentários:

Enviar um comentário