Diário da cidade dos leilões de escravos
25
de Setembro
Há quase dez anos que nas traseiras dos
prédios – também nas traseiras da pensão katyavala do general Ledi, e também
nas traseiras da Pomobel – tem um chinês ao serviço do general Ledi, que
improvisou oficina de carpintaria e serralharia. Não é difícil imaginar o pó da
madeira e dos ferros que originam cancros nos pulmões, e que nos obrigam a
fechar janelas e portas. Do barulho horrível e também – pasme-se – do fumo das
fogueiras que diariamente são feitas para as refeições do chinês e outros de
ocasião, que como já aqui foi dito destroem a placa do edifício, mas como isto
é do petróleo, é para destruir. Esta cidade mata mais que o ebola. Queixar? Onde?
Pois se eles são a lei, põem e dispõem. Eliminam quem quiserem e lhes apetecer.
Sem lei, é o inferno de Luanda com mais labaredas que aí vêm.
Um mwangolé que esteve uns dias em
Portugal, disse que as portuguesas quando vêem os angolanos a gastarem dinheiro,
atiram-se a eles na tentativa de lhes sacarem algumas notas. O mwangolé também
disse que aquilo das portuguesas se venderem facilmente aos angolanos está de
mais.
Pedi a um jovem zungueiro que conheço há
vários anos que me comprasse limões porque está difícil, eles desapareceram,
isto cheira a golpada neocolonialista Ele mora no Cacuaco e disse-me que lá com
duzentos kwanzas se conseguem muitos limões. Dois dias depois ele veio ao meu
encontro e disse-me que afinal isso dos limões está muito difícil, porque no S.
Paulo e na Cuca os polícias correm com as vendedoras e no Cacuaco ele sai muito
cedo, e às dezassete horas as vendedoras abandonam as pracinhas por motivos de
insegurança. Disse-me que irá nas casas das senhoras no Cacuaco à noite. Fico a
pensar que tudo serve de estratagema a esta gente para que se consiga importar
tudo de Portugal, só que o limão de lá que aqui chega é uma boa merda e muito,
muito caro, tal como as tais melhores condições de vida.
A miséria tem uma grande capacidade de
improvisação.
Parafraseando JC, Jesus Cristo, quem não
é do MPLA é contra ele, é subversivo e incitador da violência.
Está a ficar porreiro está sim senhor. A
violência política devido à intolerância estende-se por toda a Angola o que
normalmente conduz a situações incontroláveis… que clima de paz mais promissor.
O projecto nova vida… dos estrangeiros:
Próximo da Igreja Adventista do Sétimo Dia, na rua Rei Katyavala, há uma
pizaria de estrangeiros, dizem que são indianos. As jovens mwangolés para lá
trabalharem têm que lhes dar as rachas como uma obrigação contratual.
Geralmente elas têm bazado. Com uma empregada recentemente admitida as coisas
não correram bem para os estrangeiros violadores das angolanas. O violador
chegou junto da nossa jovem beldade empregada e sem qualquer cerimónia
obrigou-a a despir-se como num filme pornográfico para lhe meter o cacete na
divina racha da beleza angolana. Ela recusou e o violador disse que estava
despedida. Ela foi-se queixar e alguém apareceu e falou com eles. Tiveram que
lhe pagar os meses da indemnização e foi-lhes dito que se continuarem nessa
vida não verão mais o país do sol, que há uns meses é só tempo nublado, é
melhor chamar-lhe a cidade nublada. Os estrangeiros violadores estão com medo,
será?
Para isto ficar de acordo com a
conjuntura actual, o correcto seriam as seguintes alterações: GRA-Governo
Revolucionário de Angola, RRA-Rádio Revolucionária de Angola, TRA-Televisão
Revolucionária de Angola, JRA-Jornal Revolucionário de Angola, CERA-Comités de
Especialidade Revolucionários de Angola, MRE-Movimentos Revolucionários
Espontâneos, e por aí afora.
26
de Setembro
Uma Movicel também já revolucionária:
ligo para uma amiga e uma voz diz-me que essa caixa do correio não existe.
Português mexe muito, estraga, depois baza, que arranje quem quiser, ou então
diz que os mwamgolés estragam tudo.
Esta Pátria é obra de corruptos.
Se os chineses são angolanos, os
portugueses também são angolanos, os angolanos são o quê? Escravos!
Antes da independência os mwangolés
pediam comida nos brancos. Depois da independência os mwangolés sem petróleo
continuam a mendigar comida nos brancos.
27
de Setembro
E mais geradores se venderam porque
outro corte de energia eléctrica nos violou das 09.03 até às 09.31 horas.
A ocupação principal da miséria mental é
destruir as nossas vidas com elevadas doses de hipocrisia. É sempre
aconselhável escudarmo-nos desses parasitas com um bom antivírus social.
É um aumento brutal nos combustíveis e
derivados em número redondo de 50 por cento, para penalizar a população
angolana que há muito deixou de o ser porque são considerados zumbis. Isto,
claro, não irá acabar bem porque a população não conseguirá suportar os
aumentos anárquicos do tudo controlado pelos senhores do petróleo e pelos seus
correligionários estrangeiros. “O Ministério das Finanças de Angola anuncia que
a partir deste sábado 27 de Setembro, os preços dos combustíveis em Angola
sofreram um acréscimo de 46,4 por cento.”
28
de Setembro
"Para lutar contra a força do
Estado Islâmico devem-se preparar os missionámos e não o Exército" Autor
desconhecido. In Elpaís
“O mais importante é resolver os
problemas do povo.” E como o povo é quem vive dos lucros do petróleo, nada mais
há a dizer.
O problema parece que já não é a invasão
de estrangeiros. O problema já é a invasão de quadrilhas bem organizadas de
estrangeiros em Angola. É um elemento altamente desestabilizador, mas como se
faz ouvidos de mercador… até à desgraça final.
Passam o tempo e a vida a fazerem
experiências disto e daquilo na agricultura, e em todas as áreas de actividade.
É só saque.
29
de Setembro
As produções coloniais em Angola, como
por exemplo a grande produção do café, cana-de-açúcar etc., atingiram níveis de
produção nunca vistos porque a mão-de-obra era escrava.
Na rua um senhor desatou a discutir com
uma jovem. De repente ela puxou de uma faca escondida, esfaqueou-o e fugiu.
Angola é a Ilha de Luanda, o resto é
paisagem de miséria.
E que tal fazermos um concurso para
saber quem é que destrói mais em Luanda?
E viva a plena democracia dos mandatos
sucessivos.
E aos poucos – muitos – os estrangeiros
e os únicos donos das concessões do petróleo deportam os mwangolés para o campo
de concentração de Luanda.
Assim como há ditadores que nos impõem
ditaduras, também há democratas que derrubam os ditadores e as suas ditaduras.
Alguns nascem para governar, outros
nascem para fabricar miséria e obras faraónicas. Mas há outros que nascem para
destruir a democracia.
A pomba da paz está moribunda.
Aqui, quem trabalha honestamente é espoliado e preso.
Quem rouba é condecorado.
Num país de corruptos só eles e os estrangeiros
enriquecem, e a população morre à fome.
Um metro (metropolitano) de superfície a diesel, que
quando a energia eléctrica faltar mais os milhares de geradores – o diabo do
nosso dia-a-dia – Luanda ficará definitivamente a cidade mais poluída do mundo,
suplantando a China com a exportação da sua poluição para Luanda.
Este petróleo é inimigo do povo porque traz muita
riqueza para os dirigentes e muita miséria para o povo.
Há mulheres que se convencem que para resolverem os
seus problemas basta abrirem as pernas, quando na realidade os complicam.
Sem comentários:
Enviar um comentário