Diário da cidade dos leilões de escravos
08
de Agosto
Ano de 1961 segundo a Lwena: os
portugueses desembarcaram de um submarino na Missão da ilha do Cazanga em
Luanda. Assim que viram muitos negros e negras jovens apontaram as armas para
os fuzilarem porque tudo o que era negro era terrorista, para matar. Mas o
padre da Missão também andava armado e vigiava o seu rebanho, e quando viu o
pelotão de execução sumária dos portugueses colocou-se à sua frente pronto para
morrer na defesa do seu rebanho e disse para os portugueses: «Não os matem, são
cristãos, são gente de bem, são paroquianos, são cristãos inofensivos, não façam
isso… em nome do Senhor! Primeiro terão que me matar!» E os portugueses
foram-se embora tristes porque ali não deu para irradiar a raiva de matar tudo
o que fosse negro. E a Lwena acrescentou que se não fosse esse padre hoje não
estaria viva, ela e muitos e muitas colegas.
Extrema miséria: os portugueses são
categóricos ao afirmarem que em Angola se vive muito bem. Claro, se eu na minha
profissão de técnico de contas não consigo arranjar emprego, porque eles até
numa tasca fazem contabilidade, e até uma portuguesa se apresentou como
contabilista, que podia muito bem trabalhar em Angola porque tinha alguma
experiencia na matéria. Angola é uma maravilha para essa matilha, mas para mim
– para nós – é a extrema miséria. Espoliar empregos com a cobertura do Governo
não é solução para nós, é a extrema miséria que rebentará com as consequências inevitáveis
da desgraça que é Angola fabricar pólvora para gratuitamente explodir.
Se Deus aprova o assassinato de
milhares, milhões de crianças, é porque elas não acreditam Nele?
Os bancos são a pátria dos alimentadores
do terrorismo. A algumas dezenas de anos na minha profissão de Técnico de
Contas, quando me davam documentos para movimentar, diminuir o lucro, com
falsos pagamentos pensava: oh! Se isto continuar assim o sistema económico vai
rebentar porque é impossível viver de papéis que acumulados somarão biliões de
dólares e isso é dinheiro que não existe. A seguir outros bancos cairão, porque
têm mesmo que cair, porque estamos a ser ludibriados pelo sistema da democracia
bancária. A democracia é isto mesmo: é bancária. E como ninguém acredita nela,
os bancos caiem como no tiro aos pratos.
09
de Agosto
Se uma pessoa vive uma vida anormal, é
evidente que as coisas são anormais.
A riqueza de Angola só serve para
transferir dinheiro para o exterior.
No tempo do Salazar não se admitiam
falhas na apresentação de contas. Agora, nem contas se apresentam.
De todos os males que enfermam a nossa
sociedade, um se destaca pela proporção desastrosa: a legião de abutres que
paira sempre ávida pelo arrasar mais casas e casebres, construindo miséria,
delinquentes que não nos poupam, que nos matam, para depois erguerem palácios
luxuosos para residências de estrangeiros que entram e saiem fortemente
escoltados por seguranças com coletes à prova de bala. Sempre movimentados,
perseguidos, viverem no permanente terror de serem assaltados, baleados.
10
de Agosto
Se as leis não se cumprem, então para
que servem.
Com os horrorosos acontecimentos da morte
fácil que circula por muitos países, especialmente o desporto terrível da arte
de matar milhares – milhões – de crianças, as Nações Unidas não nos servem
mais, são a actual montanha de caveiras humanas da humanidade.
Os políticos e os sacerdotes utilizam a
democracia para nos convencerem, perverterem
11
de Agosto
Uma coisa que considero a mais idiota é
ver indivíduos disfarçados de civilizados, engravatados e indumentados
ostentando a riqueza do petróleo. Claro que não se apercebem da exposição do
ridículo. Eles nasceram assim, assim são, e assim continuarão, assim abundarão.
E a embaixada portuguesa em Luanda
parece uma agência bancária do banco BES/BESA.
De um segurança: este mundo está
porreiro! Afinal os brancos também fumam liamba. Comentário a propósito de um
branco que o segurança viu escondido entre carros num largo escuro a fumar
liamba. E garantiu que não é o único. Outro segurança confirma: «É mesmo! Este
mundo está perdido! Eu vi uma branca com uma saia muito curta. O vento
levantou-lha, mas não tinha biquíni.
12
de Agosto
A principal preocupação diária é
garantir o abastecimento de água e o seu transporte braçal para casa e fazer
dois pagamentos, um ao Estado e outro aos empregados braçais. Na nossa extrema
miséria quem é que aguenta isto?
E um só homem querer comparar-se a Deus
com o apoio descarado do clero, da nobreza, dos portugueses, brasileiros e
chineses, arrasta os agora reduzidos à condição histórica da tomada do poder
pelos escravos. E quem está há muito tempo no poder arrasta infindáveis
problemas sem resolução. E quando o gerente do poder eterno cessar a sua
actividade, segue-se o caos, porque não se resolveu nada, apenas se multiplicaram
catástrofes.
13
de Agosto
O que se passa com o ebola a nível
mundial significa que já vivemos num filme de ficção científica.
Hoje o termómetro na varanda subiu até
aos 25 graus. O tempo está a mudar, o calor reaparece para vencer o tempo muito
húmido, muito palustre.
Na LAC – Luanda Antena Comercial, quase
há um ano foi noticiado que um fazendeiro há três meses que aguarda pela
autorização de um engenheiro rural do Brasil.
14 de Agosto
“Procuro
especialista em contabilidade, com conhecimentos em primavera, com residência
em Angola, dupla Nacionalidade ou Nacionais, se conhecer alguém interessado
queira me enviar mensagem privada.” Carlos Reis. Portugueses em Angola.
Facebook
Está muito
difícil falar com os jovens porque não sabem acompanhar – não têm conhecimentos
– uma conversa. Não sabem conversar. A propagação do analfabetismo faz com que
esta coisa esteja cada vez mais difícil. A bandeira do analfabetismo ergue-se
bem alta.
A guerra química iniciou. Ouve-se o
barulho das câmaras de gás da morte – os geradores - a energia eléctrica, esotérica,
foi-se.
Continuam a enxotar pessoas para lhes
apanharem os terrenos e neles construírem a infâmia.
O Durão Barroso que é contra a guerra na
Síria disse há uns meses que têm que ser resolvido por meios políticos.
Actualmente creio que ninguém sabe o que isso significa. E também já ninguém
liga aos políticos que infernizam as nossas vidas. Basta só ver a abstenção nas
últimas eleições da UE – União Europeia.
E o Papa Francisco no seu afã de
evangelizar os árabes - isso do cristianismo está uma fragilidade confrangedora
– diz que não pode haver mais guerra. A Igreja não pode nem deve ter qualquer
poder político na terra dos homens, porque a Igreja é do Céu.
Recordo-me do prémio Maboque de
jornalismo, para dizer que são sempre os mesmos a ganharem os mesmos prémios.
Por exemplo: Nunca, jamais alguém que escreva no FOLHA 8 ganhará qualquer
prémio sob a égide do petróleo. Isto prova que não existe jornalismo em Angola.
E os portugueses insistem, defendem os
seus amos do petróleo que tudo em Angola está a reluzir, mas para nós tudo está
a cair. Entristece-me ver milhares – trezentos mil - de portugueses que para
garantirem o seu pão molestam os angolanos e se ajoelham aos seus patrões do
petróleo que lhes garantem – mesmo sem gabarito técnico, qualquer merda serve –
a saída dos dólares e dos euros para Portugal. Nunca pensei que ganhassem o
estatuto da ciganada.
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