quinta-feira, 18 de junho de 2015

O Rei do Reino do Sol



Bem governar é a população chacinar.
“A fruta quando está madura cai. Mas quando está verde também cai com uma tempestade.”
Jornalismo é informar o que o jornalismo do poder não informa.
Este reino é obra de corruptos.

No reino tudo era composto de petróleo, de sol e de paraíso. De tal modo que os estrangeiros não queriam outra coisa. Peremptórios afirmavam que nunca sonharam com tanta riqueza fácil. Assim qualquer acéfalo chegava e no rei Midas se transformava. Com salários muito altos a fingirem que trabalhavam e o povo de bandeja escravizavam. O Rei do Sol decretou que ao lado de cada estrangeiro uma angolana se devia prostituir. O Rei do Sol, há quarenta anos que reinava numa permanente romaria de aduladores da pior espécie encontrados pelos mais perdidos cantos do mundo. Contratados como mercenários ao serviço do Rei do Sol punham e dispunham: partiam casas, espoliavam populações e matavam como nos bons velhos tempos coloniais. A coisa estava do piorio porque o Rei do Sol não conseguia controlar os seus subordinados, de tal modo que eles maltratavam as populações, mas a coisa evoluiu para o esperado: passaram a assassinar indiscriminadamente populações indefesas, sempre no cumprimento do dever das ordens superiores do Rei do Sol, confessavam.   
Num dia que tresandava a nevoeiro, o Rei do Sol chamou um dos seus generais mais chegados e disse-lhe de chofre, que a partir de hoje no reino moraria a democracia. O general estupefacto pensou de imediato que o Rei do Sol estava louco – de facto estava-o há quase quarenta anos como num tabuleiro de xadrez onde só os assistentes percebem as jogadas dos contendores – e prostrou-se durante uma eternidade de momentos na defensiva. O Rei do Sol achou por bem que devia esclarecer o seu general para que no futuro não houvessem mal-entendidos, como aquela vulgar cena do assassinato a tiros de um colador de cartazes de inofensiva propaganda política protagonizada pelos seus homens de confiança. O Rei do Sol acalmou o seu general: «Não, não fiques amuado, jamais alternaremos o poder com quem quer que seja, simplesmente nos tempos que correm – maldita democracia – temos que dar a entender que abraçámos a tal dita democracia.»
E o general muito vivo observou: «Meu Rei do Sol, e para isso temos que organizar o registo eleitoral.» «Disseste muito bem, temos que organizar o registo eleitoral, apenas te corrijo num ínfimo pormenor: Não é temos, mas tenho… isto é, quem organiza, quem controla o registo eleitoral sou eu. Assim, perante a comunidade internacional seremos muito bem vistos como os grandes impulsionadores da democracia em África e no mundo… e teremos as mãos livres para liquidarmos qualquer opositor.»
Para os seus maléficos desígnios, o Rei do Sol contava com o exército de milhares de mercenários portugueses, chineses, brasileiros e outros que trabalham apenas por interesse financeiro.
Um dos passatempos principais do Rei do Sol, era, com os seus sofisticados binóculos, - oferecidos pelos chineses - observar por uma das janelas do seu palácio o sofrimento atroz das suas populações que moribundas imploravam os restos do lixo que saíam do palácio. Mas nem a isso tinham direito porque a guarda do Rei do Sol tinha ordem para disparar a matar quem ousasse do palácio se aproximar.
Diariamente o Rei do Sol sentava-se no repasto da sua mesa real e junto com os seus colaboradores – os executores das suas ordens superiores – concebia os planos do realojamento das populações. Assim, em nome disso procedia-se a todo o momento a desalojamentos forçados sem quaisquer contemplações e muito menos indemnizações. O Rei do Sol há muito havia arquitectado o plano de emergência real, que consistia em alojar os desgraçados que ficaram sem nada, em reservas indígenas chamadas de zango 1, zango 2, zango 3 e assim interminavelmente. Com deleite, o rei observava estes seus miseráveis súbditos lançados em camiões e depois despejados sem quaisquer condições. E ele ria, ria, até desmaiar, de tal modo que até espuma lhe saía da boca.
Sem oposição, claro que o Rei do Sol fazia o que queria, e dela também muito se ria. Pois, quem muito fala e nada faz, em tudo o mais é incapaz. E o Rei do Sol ia avançando, nos desmandos trucidando. Outra vez chamou o seu general sempre às ordens e lhe anunciou terríveis desordens. «Olha meu amigo, a partir de agora acabou-se definitivamente isso da democracia. Como muito bem sabes, esta gente é abusadora e não sabe agradecer o bem que lhe fazemos. Custa-me a acreditar… mas é verdade… querem o poder – como dizem – por via de eleições livres, transparentes e justas… eleições?!, mas eu apenas falei que como magnânimo abriria algumas portas da democracia, todas abertas isso nunca, jamais aconteceria! Bom, como eles até falam que eu já estou há muito tempo no poder e que não o largo, que deverei abandoná-lo, dar, como eles dizem, a alternância do poder. Bom… meu amigo, sabes qual é o plano a seguir?» «Não meu Rei, é claro que não sei, apenas o escuto e tudo o que vossa eminência diz é a luz de Deus.» Disse o general.
«Claro… é bom lembrar a todos os arruaceiros que fui eleito por Deus, e a Igreja e as igrejas me veneram como tal… já estás a ver qual é o plano que se seguirá, não é?» Perguntou o Rei. E o general incapaz de responder, pois regra geral general só pensa em guerra, apenas abanou ligeiramente a cabeça. E o Rei com a face mais terrível de todo o mundo, como se o quisesse desfazer ordenou: «A partir de agora vamos para as chacinas, toda a gente que não esteja do nosso lado será massacrada pelas balas e às fatias catanada. Não há problemas porque os nossos amigos chineses, portugueses, brasileiros… toda a escumalha internacional nos apoiará, pois os massacres estão no lodaçal da moda e nós apenas a seguimos. Também quem é que liga às chacinas de negros, isso é o prato do dia, basta ver os naufrágios nas costas da Europa e os inconcebíveis crimes de morte do estado islâmico e o abandono à morte das crianças na Síria e na África. Como sempre, por vontade própria seremos mais um estado islâmico em África. Chacinaremos, não deixaremos pedra sobre pedra o que for oposição e mais um Ruanda entrará em acção.»
E outra vez o Rei do Sol pegou nos seus binóculos para observar mais demolições de casas por si ordenadas, para cumprir o apoio dado à corrupção pelos países amigos e dos seus correligionários.
Os massacres estendiam-se por todo o lado. Frequentemente sobre os bancos ouve-se e lê-se que os seus clientes ficam sem o seu dinheiro depositado. Por mais que se queixem não conseguem reaver o que os bancos lhes desviam. É perigoso ter dinheiro nos bancos do Rei do Sol porque os assaltantes bancários roubam os saldos das contas. Quem lá tiver dinheiro que se acautele pois corre o risco de ficar sem ele. A banca é pois uma aventura. Quem confia nos bancos é como um marido traído.
As “sondagens” indicam que na próxima remodelação governamental, para os ministérios serão nomeados ministros portugueses, pois a isso o neocolonialismo obriga e a paz legaliza.
Notava-se claramente que o símbolo da bandeira nacional era a corrupção. A enxada, símbolo de uma agricultura inexistente. A roda dentada há muito que os seus dentes estavam partidos. A catana cheirava a corpos mutilados que aliados às cores do sangue e da morte terminavam num quadro lúgubre, muito rocambolesco.
A Igreja no seu silêncio cúmplice, cadavérico, abre as luzes verdes para mais um massacre dos cátaros, agora em Angola, lá como cá nem as crianças escapam.
E o Rei do Sol investido pelos poderes divinos, mais um deus na Terra justifica o seu endeusamento sobre a vida e a morte do ser humano, e lança a sua ira divina: «Chacinamos alguns milhares, os outros vão ficar cheios de medo, aterrorizados, e não mais se manifestarão. É como os pardais, mata-se um, deixa-se no terreno, os outros fogem, não voltam mais. Governar é bem a população chacinar.»
Onde há intolerância política, não há desenvolvimento económico. E viver da violência instituída é o caos de uma nação. Estas coisas originam a formação de quadrilhas, o terrorismo que arrasta África e o mundo para o caos económico.
Mesmo sobre qualquer que seja a sua actividade a população está sempre sob alçada da lei dos crimes contra a segurança do Estado e é passível de prisão imediata.

Mas mesmo assim a população avançou revoltada para o palácio, o rei viu-se cercado, perdido, completamente só, abandonado pelos boçais bajuladores seus fiéis serviçais seguidores. A populaça incendiou o palácio que ardia, desaparecia, e o Rei do Sol foi agarrado pelas chamas e na morte atroz por elas consumido. E assim se dizia adeus a mais um rei africano que loucamente quis parar a democracia com balas. 

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