quarta-feira, 11 de julho de 2012

Os Jasmins da Lwena (07)


Diz-se dos jornais semanários que é um negócio legal de quinze milhões de dólares. Mas não se diz que o dinheiro é de origem ilegal.

- Hum! Esses gajos estão a petrolear de mais.
- É mesmo, vamos pois então chamar os Greguejados, para lhes queimarem com o Fogo deles.
- Os Greguejados sem aquele parecido com o Aquiles, não furam nada.
- Esse é um grande sacana.
- Porquê mano?!
- Caçou a virgem Briseida, está com ela há mais de mil noites. Dizem que está indeciso, deseja que ela permaneça virgem.
- Ah, afinal ele é desses?!
- Mas que herói, que guerreiro é esse, que não consegue tirar a virgindade a uma mulher?
- Os nossos penetram, arrebentam bem, são muito vaginais. Muito soldados de rebentos.
As fardas da lei arruaram, impuseram vários balázios para o ar. O ajuntamento quitou, relaxou, debandou. 
Era um bairro que vivia na calmaria nostálgica da nova vida. De manhãzinha, as mamãs armavam-se com vassouras e cuspiam o lixo anterior. O ramerrame zodiacal marchava matinal. Já haviam montes de lixo despertados, que desterravam nos descampados. Não havia recolha, pariu montanha. Com ingénua sacanice as crianças perseveravam, logravam as saias das mães. Elas rebaixavam-se até aos chinelos, lembravam-se da facilidade vassoural e bruxuleavam vassouradas nos infantis costados. A criançada resfolegava.
- Mamã, porra, tenho fome!
- Deixa-me acabar o lixo. Vou encestar rebuçados, vender alguns, depois compro-te pão.
- Mamã, se não me deres comida, espojo-me na lixeira!
- Tenta só, vá, vais ver a surra. Vou-te amassar os ossos!
Alheio às diatribes o sol admoestava o solo, crestava os rostos. Uma esquadrilha OVI – Objecto Voador Identificado – de moscas-varejeiras verdejantes fazem reconhecimento, defendem os seus interesses. Objectivos abundam, tantos que voam indecisas, não sabendo onde pastar. Em exposição nos pousos fervilhavam rebuçados, bolachas, cigarros, pastilhas elásticas, refrigerantes, cerveja fumegante, a estalar. Enfim, um rosário mercantil. As mamãs requeriam ao direito divino uma bonança na borrasca para facilitar as vendas. Senão, ocorreria tempestade em casa. O basto infantário caseiro, a desoras desentende porque não lhe dão comida.
Algumas mamãs macilentas do espólio gerado ancoravam silenciosamente os tenros corpos em qualquer instituição de caridade. O dinheiro tão parco não alcançava as despesas escolares. Os livros careiros boicotavam o olhar das letras. Os reinóis poliram insustentável acordo literário com os neo-alfandegários. O tributo advindo, primaz, alvissarava cofres ocultos, incultos. Com preços desvelados, desnivelados, poucos se arriscavam na aventura da leitura. Alegando que os exportadores, do piorio fenício, eram grandes sacanas. Que viajavam de muito longe, sujeitos a constantes ataques de piratas somalis e de outras turbas cansadas das promessas de liberdade das ditaduras do Golfo da Guiné. E que as suas mercadorias leitorais não tinham garantias dos seguradores, de leitores. E mais: que não tinham culpa nos derrogatórios notariais que o reino Jingola se situasse nos confins roteirais. Os preços subiam num escarpar precipício. Galavam com náutica:
- É borda-falsa, barlavento, sempre ao lado da brisa acolhedora.
Os Jingola pegavam, aceitavam piramidais comissões. Associavam-se em parceria às empresas fenícias.
As crianças enganavam a escola. Alistavam-se nos exércitos Órfãos. Não faltava mão-de-obra para a soldadesca dos espoliados das terras e das casas-casebres que aumentavam os exércitos dos antes lutadores, defensores do reino da FAMÍLIA e agora abandonados, degredados, expatriados.
O bairro continuava ocasional, mecânico como uma fábrica de produção em série. As mocinhas caprichavam, criavam Novo-olhar. De beleza invulgar enfrentavam a algazarra musical. Dançavam, remexiam-se, oscilavam muito elásticas. Muito distraídas, era assim que ludibriavam o tempo, porque não se lembravam da sua existência. Não se danavam com isso. As telenovelas diluviavam, e sempre luziam parvos que lhes abonavam.
O pacifismo bairrista pactuava. Clientes abasteciam a sede com sacos plásticos de água de frescura duvidosa. As sanduíches evoluíam, movimentavam a clientela. O corre-corre transeunte avolumava a facturação nas bolsinhas. As moscas esquadrilhavam reforçadas. Tudo estava composto de indícios regulares. Uma repentina pequenina chega. Lembra Fidípedes a anunciar que a batalha de Maratona foi ganha. Arfa desmedida, perdeu o jeito do caminhar. Opressiva esforça-se, respira muito fundo, a voz não sai. A mãe vê que ela está muito assustada, embargada.
- É o quê porra! Viste algum feiticeiro?
A menina assusta-se, a respiração incha, desincha.
- Estiveste outra vez a ver aquele filme de terror na merda desse vizinho?
O querubim move a cabecinha negativamente. Infelizmente a mãe não tem tempo para a aturar, pois tem cliente a piscar. Decide acabar com o mutismo da filhinha com a arma secreta das mamãs.
- Ah, sua aprendiza de feiticeira! Vou-te desinchar com tanta chinelada que te arrependerás de ter nascido!
Antes da mamã iniciar as suas artes marciais a menina consegue soluçar:
- Os … os… os…
- Os quê filha de um bêbado!?
- Mamã… mamã… mamãzinha… os galos… estão ali.
- O quê!? O quê!? Ai meu Deus!
A mais velha pressiona as mãos na cabeça. Revoluteia duas circunferências, batuca os pés na terra amolecida, de barro avermelhado. Isto ajuda-a a pensar, a decidir o que fará a seguir. Parou, baixou as mãos, inchou o peito, alertou geralmente:
- Gauleses à vista!!!
A criançada maravilhou os olhos, que brilhavam intensos como holofotes.
- O Asterix vem com eles?
A menina reclama, tenta finalmente elucidar a mãe:
- Vocês trocam tudo! SÃO OS UFOLOS… OS UFOLOS, PORRA DE MÃE!!!
- Está bem minha filha. Fujam! Avista-se Fogo Grego ufólogo!
A calmaria tresandou, parecia mar agitado quando atira os barcos uns contra os outros. Confusa maré humana, de corpos contra corpos, de filhos enlaçados, que na atrapalhação custava pegar no sustento da insustentável fome. Rebuçados, cigarros, bolachas, pastilhas elásticas etc., sofreram a condenação do chão. Patinharam para as cubatas. Às crianças foi silenciado que se escondessem debaixo das camas, onde as havia, porque era normal dormir no chão. Eram seis Ufolos. Um, sem dúvida o chefe, mascarado de Zorro. Cópia refeita, possante, trajado de negro. A máscara negra entreabria-lhe os olhos, impunha calor vampiresco. As pistolas pendiam cinturadas, imponentes. Alaram pombos e pardais, alocaram tranquilos pombais. Montado num pau de vassoura, um varão que iludiu a mamã exclama com convicção:
- Aió… Silver!
O Zorro amuou. Apetecia-lhe rir da ousada criança, mas tinha, sentia-se obrigado a manter distância, meter medo, senão perderia o respeito, o comando do bando. Ordenou à criança que freasse a montada. Do seu hábito seleccionou voz autoritária.
- Vai para casa, dita às safadas que ponham tudo cá fora.
- Ok! Zorro mascarado!
As mães olharam longe a conversa, aprochegaram-se, lagrimaram, lastimaram.
- Não nos roubem por favor! O pouquinho que temos foi ganho, crucificado! Somos escravas dos descolonizadores, geradas para os distrair.
Os Ufolos marimbaram-se das prédicas, dos desejos sublimados das pobretanas sofredoras. Num ápice foram trambolhadas televisões, ventoinhas, aparelhagens de som, dinheiro. Uma mamã enfrentou-se e levou monte de chapada. Furiosa emparedou:
- Sacanas de merda, vão roubar os governantes do Politburo, eles têm tudo!
- Lá chegaremos.
- Aquando?!
- Uma noção de tempo.
Esgueirando-se, uma belezinha furtou o cerco dos Ufolos. Parecia uma fada que pairava suavemente na corrida até à esquadra da polícia. Chegou levemente. Depois partiu num carro patrulha com seis polícias de olhar pesado, e sirene carregada. Estacionaram, arruaram-se, descende um oficial com óculos de breu. O Zorro e afiliados escapuliram-se próximos, disfarçados de vendedores de rua. Os produtos da contribuição fiscal foram desalfandegados numa viatura de vendas de móveis ao domicílio. O oficial calendarizou, sublinhou: 
- Tempo para desordem, tempo para ordem! Minhas queridas… para casa!
- Mais pra casa?! Não temos nada para pentearem!
- CUMPRAM AS ORDENS!!!
O metal tiniu nos gatilhos leais das armas do dever. Cães, gataria, rataria, serpentes… e borboletas, acoitaram-se nas redondezas como testemunhas do oculto. A infeliz que a História atraiu destapa a alma soturna.
- Ufolos e Politburros … são todos zebras, cepos, troncos dos mesmos ramos. Perderam as almas sombrias, nada mais lhes resta.
- Redobra a falaz, a perspicaz postura. A minha glacial farda oficia o juízo dentro e fora dele.
- Hum! Reles Politburo, soviete.
Os Ufolos calculavam que os Politburo brindavam vivaz temor deles. Creditaram a confusão na sua conta, escalaram as paredes dos barracos, desvendaram os soalheiros telhados zincados, verrumaram, espernearam as julietas. Sabichões na selecção natural das espécies, emplumaram as fêmeas aves-do-paraíso, aquelas que os queimavam, teimavam no prazer da negação do namoro. Fugaram com elas, e pelas andanças dos descaminhos repartiram estragos a mais de seis carros. Garantiram a tranquilidade final com muitos disparos para o ar, de meter medo. O oficial da polícia Politburo melindrou grande desrazão aos seus conceitos, preceitos da desordeira manutenção sem bandeira. Deixaram-no fraco, sem frasco. Motivou para o lado da fraqueza:
- Prendam-nas… chamem camião para o Zango que as carregue!

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