-
Como era a tua vida em Cuba?
- Oh! Lá é muito diferente.
Existe muita disciplina.
Nunca passei fome
como estou aqui
a passar. É tudo
muito vigiado. Existem vigilantes em cada esquina.
Há muita higiene.
Ensinam-nos a sermos muito limpas. Quando alguém pisa o risco, fica debaixo
das autoridades, que
são muito
rígidas. As negras aqui, a única coisa que sabem fazer é engravidar. Quando não engravidam, os maridos
põem-nas fora de casa e arranjam outra. Mas mesmo assim têm
sempre mais
que uma. Julgam-se os donos das mulheres,
e à mínima coisa
batem-nos. Têm a mania que
são perfeitos.
O tipo de negro
perfeito para
a negra imperfeita.
- Ana, é tudo
complicado.
-
É sim. Querem funje de manhã ao almoço e ao jantar. Vem sempre com amigos e amigas para casa. A família
quando sabe que
na casa há comida,
aparecem como visitas
frequentemente. A dona da casa de facto, não
passa de uma escrava.
Gostam muito de nos
darem pontapés nas pernas,
sem mais
nem menos.
As suas esposas acabam por fugir de casa. Mas como eles tem
muitas, não se preocupam com isso.
- Ana, já notei que viver na África Negra é um suplício.
- Não conseguimos avançar devido às nossas tradições.
É por isso
que os brancos
nos consideram muito
atrasados, e têm razão.
Ana
deu duas sonoras gargalhadas.
Levantou-se e começou a retirar a loiça. Disse-lhe:
-
Não te preocupes, eu trato disso.
Não
me prestou atenção.
Levou os restos da comida
para o balde do lixo. Lavou a loiça e deixou a cozinha
bem arrumada, impecavelmente limpa.
Não deixei de ficar
surpreso. Afinal
em Cuba
a higiene era
uma coisa muito
séria. Ela
despede-se:
-
George, vou-me embora. Posso levar os cigarros?
-
Podes.
Deu-me
um beijo
nos lábios.
Já com
a porta aberta,
faz-me uma súplica:
-
George leva-me para Inglaterra.
Cansado
após mais um dia de trabalho, estava parado num sinal
de trânsito, a aguardar
que a luz
verde chegasse. Senti uma forte pancada na traseira do meu
carro. Retirei a chave
da ignição, abri a porta
e dirigi-me para o infractor. Este
também já
tinha saído
do seu carro.
Era um
jovem corpulento,
que cambaleava ligeiramente.
Aproximou-se de mim, e senti o seu hálito que tresandava a álcool:
-
Mandingo! Mandingo! Filho da puta!
Descontrolei-me
e respondi-lhe na mesma moeda:
-
Filho da puta é você! Seu macaco!
As
portas do seu
carro abrem-se. Saem três negros altos e fortes.
Dois imobilizam-me os braços
e encostam-me ao meu carro. O terceiro
prepara-se para me
dar socos.
Senti que não
sairia vivo do local.
Como tinha
os pés livres,
preparei-me para pontapear
o socador nos testículos.
Já de punho
no ar, suspendeu o gesto
e retiraram-se a gritar:
- Branco mandingo, filho
da puta!
Consegui
anotar a matrícula da viatura. O estranho é que ninguém fez um gesto em minha
defesa. Pareciam contentes. Antes de chegar a este país fui advertido para os
perigos que continuamente corremos.
A Ana estava sentada à porta
do prédio. Narrei-lhe o sucedido.
Mostrei-lhe a traseira do carro que estava lastimável.
Perguntou-me se tinha a matrícula do prevaricador. Disse-lhe que sim, tomou
nota e acrescentou:
-
Vou falar com
os meus amigos
da investigação criminal que estiveram em
Cuba comigo,
depois digo-te qualquer
coisa.
-
Ana onde vais?
-
Vou já para lá.
- Não precisas de nada?
Por exemplo,
algum dinheiro
para despesas?
- Não, não é necessário, aguarda.
Surpreendeu-me
porque não
demorou muito tempo.
Cerca de duas horas
depois já
tinha o relato da situação:
- Olha, este carro é de um coronel. Ele não está cá, está no Brasil. Quem
conduz o seu carro
é o filho. Ele
faz muitos desmandos.
Não és a primeira
pessoa que se
queixa. Estão com
o olho nele. Os meus
amigos disseram-lhe que
se ele não
pagar os estragos
vão-lhe retirar o carro.
Amanhã os meus
amigos vão
vir aqui para avaliar o custo da reparação do teu
carro.
- Ana, achas que isso é assim tão fácil? Custa-me a acreditar.
-
Aguarda, amanhã veremos.
Para
minha surpresa
as coisas aconteceram tal e qual como a Ana
disse:
-
George está aqui o dinheiro do valor da reparação do teu carro.
Entregou-me
uma quantia em
dólares que facilmente verifiquei corresponder ao valor
dos prejuízos. Senti um grande contentamento, de a abraçar e beijar. Que mulher tão
prestável, tão simples
e humilde. Congratulei-me:
-
Ana, muito obrigado pelo que acabas de fazer.
-
Oh! Não precisas de me agradecer.
Lembrei-me
que era
sexta-feira. De súbito
senti um grande
impulso:
-
Convido-te para irmos jantar fora.
- Oh George, isso é
óptimo! Onde será esse
enlace principesco? Espero que no fim
tenhas algo muito
substancial para
me ofereceres.
Senti-lhe
uma intensa cupidez.
Contudo percebi a sua
afirmação enigmática. Sugeri:
-
Acho que no fim
da Ilha é interessante. Tem protecção e podemos apreciar o mar a qualquer momento.
Quanto à minha
substância poderás apreciá-la quando
bem o entenderes.
-
Aguarda uns minutos, vou preparar-me.
Quase
duas horas já
tinham passado. Acho que não
voltaria. O sono invadia-me. As mulheres para se
prepararem, contam os cabelos que rodeiam a vagina para
terem a certeza que
não falta
nenhum. Depois
miram-se e remiram-se interminavelmente no espelho,
a aguardar que
a sua face
se transforme, como num sonho irrealizável. Despertei com
o barulho na porta.
As pancadas eram cada
vez mais
fortes. Abri e ela
entrou sem cerimónia. Exclamou:
-
Parece-me que demorei muito, não é!?
São
as expressões peculiares
delas, estava encantadora. Não parecia a
mesma pessoa.
Com um
vestido branco
de noite comprido,
e um longo
decote que
mostrava os seios, um
pouco compridos,
que terminavam nos
mamilos bastante
inchados. Receava que ao inclinar-se os seios saltariam, e ficariam desprotegidos. Os sapatos de salto
alto eram exagerados, não sei se conseguiria andar.
Os lábios, as unhas
das mãos e dos pés estavam pintados de um vermelho muito agressivo. O cabelo
estava sem tranças,
curto e muito
justo, alisado como
se fosse um rapaz
adolescente. Transportava um saco de mão vulgar. Comentei:
-
A tua beleza surpreende-me.
-
Ah, George estou bonita?
-
Não me recordo de nenhuma noite, em que vi algo tão belo como tu.
O empregado sorridente
apresenta-nos o cardápio. Ana
pergunta-me o que quero comer.
Digo-lhe que prefiro ser
ela a escolher.
Encomenda dois
pratos de frutos
do mar. Faltava a bebida
para acompanhar, o empregado aguardava. Tive que
intervir:
-
Tem Dão Grão Vasco tinto?
- Temos.
-
Traga duas garrafas.
-
Das pequenas ou das grandes?
-
Das grandes.
Dão
Grão Vasco…
os vinhos do Dão são
considerados os melhores do mundo. Tornei-me um
apreciador incondicional depois de um português amigo
ter-me confidenciado, que sem o bom vinho tinto, os portugueses já
teriam perecido. Depois do repasto, Ana
faz-me um convite:
-
Vamos ficar ali
nas pedras, muito
juntinhos a ouvir as ondas
do mar.
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