Tudo é composto de sinfonias. Sem dúvida que o Universo é-te disto
revelador. A nossa vida é uma sinfonia muito mal orquestrada naqueles que
votámos para o poder, e cuja orquestra está sempre muito mal desafinada. Nunca
te esqueças: luta sempre contra a hipocrisia e a corrupção.
E criaram-se muitos caminhos e nenhum sabe qual é o nosso destino. E os
ventos agitam-se fortemente derrubando o único destino que nos resta: o amor.
Somos uma multidão perdida nas areias deixadas pelo espraiar do revolutear
marítimo. E os seus grãos misturam-se, agitam-se, tal e qual nós. E seguem
arrebatados pelo espumar do ondeado mar.
Convencemo-nos que somos muito fortes, mas perante uma inesperada desdita
revelamos a nossa proverbial fraqueza. Os vírus atacam-nos, porque somos o
receptáculo ideal. No fundo, somos um laboratório viral em constante mutação
para destruirmos os nossos semelhantes.
E finalmente o célebre Comandante Prata abandonou a bebida descontente.
Cedo fez do precioso líquido a crítica da razão pura da sua efémera existência.
Sempre a medir forças contranatural, enfrentava-se valentemente, mas contudo
rendia-se incondicionalmente, ou melhor, ou ainda pior, efectuava notadamente
uma retirada estratégica da frente de batalha do seu conservador cogito: «bebo,
logo insisto, e logo existo!» e nele sitiar, se situava e nunca havia prólogos,
mas somente epílogos.
Fortaleceu a sua consciência revolucionária em Cabinda, e lá se sentia como
um estranho numa terra estranha do Robert A. Heinlein. Tão tenro, apenas com
vinte e sete anos, tão Rimbaud, e com tantas virtudes ainda para nos
demonstrar.
Comandante Prata, in vino veritas, (no vinho está a verdade) PRESENTE!
A nossa juventude, esses heróicos alcoólicos anónimos, a força petrolífera
nunca está com eles. Esses intrépidos bandeirantes da pátria dos varredores dos
alambiques tumultuosos. E onde houver bebida, juntos lá estaremos, cairemos.
Este comandado perdeu-se na sua última peleja. Frustrou-se no derradeiro in
memoriam suspiro. Agora, desconheço como é que ele se vai safar. Consegui ligar
para o Céu, as rotas da telefonia celular cada vez mais se alicerçam no reino
da anarquia, e lá nesses azuis estelares impera rigidamente a lei seca.
E o comboio da morte apita-lhe, ultima-lhe a partida deste paraíso da
juventude alcoólica. O coração estava tão sobrecarregado de labor alcoólico,
reivindicou-lhe melhores condições de trabalho. Não sendo consentidas entrou em
greve por tempo indeterminado. A produção sanguínea parou, a fábrica entrou em
ruptura de estoques, sobreveio a falência e depois o colapso total.
Comandante Prata! Esta pátria sempre desonra os seus heróis, esquece-os. É
uma nação de meia dúzia de afogados na maré negra dos milhões de dólares submersos.
Esta nação actual é obra de jovens alcoólicos.
Comandante Prata! Oh! Como invejo os prazeres que as doces valquírias te
proporcionam.
Ó tristeza, porque me persegues, me roubas o sorriso e me contemplas no meu
olhar medonho.
Frases célebres do Comandante Prata: era muito esclarecedor pois destilava:
e todos os problemas se dissolvem na bebida. E, as plantas alimentam-se de
minerais, a mim sobra-me a alquimia etílica. Quando o frio me apertava, a
bebida aquecia-me, me consolava. A bebida faz dançar o meu andar. O nosso maior
desastre não é a SIDA, nem os acidentes dos carros da viação, e nem o
paludismo. O nosso desastre natural nacional é o alcoolismo. Somos vitoriosos
porque atingimos o cume do Evereste alcoólico. O melhor benefício que a independência
nos deu é o alcoolismo sem limites.
Extraterrestres invadem Luanda
Uma nave extraterrestre acaba de aterrar em Luanda. Sabe-se
que é para reabastecimento de provisões, porque neste momento em que vos
escrevo, eles espoliam-nos pelo sistema de teletransportação, a energia
eléctrica, a água e a comida. Estão a sugar-nos, melhor, a espoliarem-nos tudo.
Entretanto, há notícias confirmadas da aterragem de várias naves em
diversos locais da cidade de Luanda. A luta é desigual, porque os invasores
decerto vindos de outra galáxia, são muito poderosos.
Apelamos por socorro a todas as nações e povos do planeta Terra.
Ajudem-nos a combater estes invasores antes que seja tarde de mais.
O casebre sem sol tropical
O habitual cliente chinês de uma mamã do seu casebre espoliada compra-lhe
cigarros e segreda-lhe: «Angola tem muitos bandidos!» «E lá na China?» «Não,
polícia mata!»
República dos tumultos
É proibido trabalhar – também onde o há? Este sonho tropical é só para
estrangeiros e Lordes – e ganharmos o nosso dinheiro honestamente. Este sol de
nascente incongruente das tardes sem destino está tão pálido, tão poeirento.
O nosso casebre mesmo sem oásis estava tão aprazível, mas ainda
entorpecente no adormecer independente.
Estávamos reunidos no nosso casebre no nascente sol amarelento, bolorento
de tanta ousadia bancária familiar luso-tropical.
E vieram… como se chamam essas coisas metálicas que se inventaram para
desobstruir casebres das reservas dos indígenas do Estado? Ah! Chamam-se
buldozeres... não… buldogues, é isso, manas e manos. São os buldogues, as feras
de dentes de ferro ou aço. É isso! Aquelas coisas que os brancos inventaram
para devorarem os casebres negreiros.
Eu acho que eles se enganaram. Estavam a fazer uma operação, um treino
militar algures. Acredito que a localização no mapa deles estava errada. É…
então vieram para aqui com o comando todo deles, e bombardearam-nos,
arrasaram-nos os casebres. Traziam tudo de bélico, só faltou um porta-aviões.
Só pode ser mais um erro dos americanos. O GPS deles anda sempre avariado,
a bombardear o planeta Terra por engano e desinformaram os seus colegas
angolanos de que isto, os nossos casebres, afinal são células da Al-Qaeda. E a
CIA informou-lhes com a muita veracidade habitual que afinal toda a Angola está
infestada de casebres disfarçados de campos de treino dos terroristas da
Al-Qaeda. Então passam o tempo a bombardearem os nossos casebres. Já viram o
nosso azar, manos e manas?
E ainda os cadáveres dos nossos casebres não se funeraram, é pó e destroços
por todo o lado, os banqueiros espreitam rapinadores. Lutam entre si: «Não,
este terreno é meu» «Não, não, este é meu, aquele ali é o teu» «Não senhor! É
tudo meu! Tenho o recibo provisório passado pelo governo provisório dos Lordes.»
«Ok! Vamos então negociar»
E os especuladores imobiliários no local vendem rapidamente os apartamentos
ainda não construídos. Os novos-ricos dos poços de petróleo cagam-lhes milhões
de dólares.
Um milhão de casas angolanas não será com certeza. Então o que será?! Na
certa serão um milhão de tumultos.
Angola em obras de remodelação, e por todos os cantos e cantos, ámen.
E onde houver betão lá concretizaremos. Esta será a nossa digna pátria no
betão edificada.
E nos campos das populações escorraçadas também lá edificaremos, honraremos
os nossos compromissos imobiliários. Angola será a pátria da revolução mundial
do imobiliário. E nada se lhe comparará, aliás todos sabem bem disso. Que fique
desde já claramente entendido: em Angola não existe população, abundam sim,
alguns milhões de escravos e nada mais do que isso. E para que servem os
escravos? Para obedecerem aos seus novos amos, aos seus imortais senhores que
têm poder de vida e morte sobre todos. Agora já entenderam?!
Vamos pois em frente! Nesse caminho da escravidão.
«Campo da Refrinor: Mais um espaço público engolido por interesses
particulares
Depois queixam-se do aumento da delinquência e da criminalidade juvenis nos
bairros de Luanda. Depois, vemos por aí uns "bombeiros" a promoverem
sessões de sensibilização e esclarecimento sobre comportamentos desviantes dos
nossos jovens. Pudera... Se os últimos espaços livres para a prática do
desporto estão a ser engolidos por interesses empresariais, de facto pouco mais
haverá para fazer, para além do "cangaço". Depois dizem que o Cazenga
está impossível...» in morrodamaianga.blogspot.com/
A nossa Net está com fissuras, vamos pois renová-la com umas obras de
restauro concretas, no concreto, no betão. Vamos fazer-lhe pois umas obras,
umas melhorias. Já conseguimos o financiamento dos especialistas das fissuras
chinesas.
O nosso actual sistema de governo é a especulação imobiliária.
Nós dos Lordes queremos implantar um Estado forte, pleno de democracia e
liberdade de informação. E achamos que os exemplos da Coreia do Norte e da
China são os que devemos seguir. Como principal medida a tomar, vamos já criar
mais um comité de especialidade da Internet.
Mais um testemunho válido de uma trabalhadora angolana sob o peso do
insustentável verdugo do betão: «Lá no meu trabalho eu vejo as folhas dos
vencimentos, os estrangeiros ganham de quinze mil dólares para cima. E alguns
são tão burros, não sabem nada.
E dos nossos estúdios centrais prosseguimos com a nossa programação normal
da miséria. Um poder absoluto e uma anarquia total. A miséria do betão
persistente bate-nos nas portas violentamente.
E o cidadão sem banda grita para os chineses que não deixam ninguém
descansar, pois escravizam-se dia e noite: «Parem com a barulheira e deixem-me
dormir meus! Eu estou no meu país, porra!!!» e outro espoliado replica-lhe: «No
teu país não, na tua selva!!!
E no abstracto do concreto da nossa abstracção reside a nossa facturação.
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