Já
era noite, as mesas
do cabrité estavam lotadas. Ficámos no balcão
a aguardar. O proprietário
chamou um empregado que retirou quase à força alguém de uma mesa,
e com uma grande
cerimónia o dono do estabelecimento afastou pessoalmente
os outros clientes,
para que eu e a Ana nos sentíssemos à vontade.
Limpou cuidadosamente a nossa mesa, mandou vir uma toalha, avisando a empregada
que se ela, a toalha, não estivesse devidamente
limpa seria despedida.
Era visível
o pânico no rosto
da pobre empregada.
Antes de nos
sentarmos limpou devidamente as nossas cadeiras. Uma toalha
muito clara
foi colocada na nossa mesa. Vieram guardanapos
de papel. Copos
de vidro que
pareciam ser de luxo.
As garrafas de cerveja
antes de serem abertas sofriam uma limpeza algo
exagerada. O proprietário passava e
repassava o seu pano
como se pretendesse retirar
algo que
nos contaminasse. Finalmente
deu instruções para
que os clientes
fizessem pouco barulho.
Confessou-me num mau português mas perfeitamente
compreensível:
-
É a primeira vez que um branco vem aqui comer cabrité. Assim o meu negócio vai
melhorar. Trás todos os brancos teus amigos para aqui. Serão bem tratados.
Gostei
do cabrité. Apeteceu-me outra dose. Disse à Ana
para seleccionar outra
parte do cabrito.
Não demorou muito
tempo a ser
servida. Era a primeira
vez que
comia cabrité. Aproximei os meus lábios ao ouvido
da Ana e segredei-lhe:
-
Obrigado, afinal isto é bom.
- Não te disse,
confia em mim.
Já
íamos na quinta cerveja.
Havia música permanente
difundida por uma aparelhagem
sonora barata.
Uma música de Pépé Kalé escuta-se. Fico com os ouvidos
atentos porque a música é uma das minhas preferidas. Ana
não suporta, dança
na cadeira. Dá-me um
beijo demorado. Levanta-se e vai para o pequeno espaço vazio junto ao balcão.
Antes disso grita-me:
-
Querido vou dançar para ti!
Estava
com uma mini-saia preta.
Com sapatos
de salto não
muito altos.
Uma leve camisola
bastante decotada sem
sutiã, mostrava os seios provocantes.
Dançava na pista de dança
improvisada. Revelava ser exímia
dançadora. Levantava os braços bem alto, e a saia subia revelando as suas
coxas apetecíveis, que
antes por
elas tinha-lhes passado um creme que as fazia brilhar sob o efeito da
luz. Acredito que
a mulher negra é o único
ser humano que nasce com a
música no corpo.
Tudo nela a qualquer
momento isso
se revela. Qualquer som
agradável que
surge fica inexplicavelmente possuída por
ele. Tudo
o que nela existe é transmitido pela dança. Uma
dança sensual
que enlouquece qualquer
um.
Os
clientes ficaram entusiasmados. Batiam palmas de acordo
com os compassos
musicais. Um deles levantou-se e
entendeu que seria o companheiro de dança
da Ana. Levantava os braços e pretendia acompanhá-la no ritmo. Dançava muito
bem. Ficou atrás
dela e ostensivamente com as mãos
pegou nas suas nádegas,
e arrastou-a à força de encontro ao seu
sexo. Ana
não teve meias
medidas. Deu-lhe uma sonora chapada
na cara. Burburinho
entre a assistência.
O proprietário fez um
sinal para um dos seus empregados. Vieram dois homens corpulentos.
Cada um
segurou nos braços
do infractor. Fiquei pasmado com o que aconteceu a seguir.
Deram-lhe vários socos
e pontapés, levantaram-no no ar e
deixaram-no cair no contentor do lixo. Na assistência
ninguém ousou acudir
em seu
auxílio. Ana
fora de si
gritava:
- Seus atrasados. Pensam que
uma negra quando
está com um
branco é puta. Nunca
irão à frente. Não
podem ver uma negra
com um
branco. O amor
não tem raças.
Digo-lhes mais seus
atrasados! Prefiro um milhão de vezes
um branco,
do que um
negro. Com
eles aprendo muita
coisa, com vocês não
aprendo nada. O que
vocês nos
dão é miséria para
sempre. E com
os brancos não
passo fome.
Seus atrasados! Seus
atrasados!
O proprietário visivelmente apreensivo
por perder um bom cliente
chamou a Ana para
dentro do balcão.
Conversou com ela
durante uns bons
minutos. Ana
veio sentar-se ao meu
lado e confidenciou-me:
-
O senhor disse-me que nos pede muitas desculpas pelo sucedido e oferece-nos uma
dose de cabrité e cerveja. Tudo por conta da casa.
Fomos
ao Cacuaco comprar bagre
fumado, tomate, beringela,
quiabos, etc. Acompanhados por uma irmã da Ana
regressámos a casa. Esta aproveita, retira metade
das coisas. Vai à cozinha
e acrescenta mais coisas.
Diz que é para
levar para casa. Ana
preparou tudo. Fez um
delicioso funje de bombó.
Revelou-se uma boa cozinheira.
Perguntei-lhe onde aprendeu:
-
Foi o meu pai que me ensinou... ele sabe muito de cozinha.
Ana
gostava muito de festas
e jantares em restaurantes
de luxo. Na maioria
das vezes eu
não estava de acordo.
Os ambientes eram muito
barulhentos, prefiro o silêncio. Quase todos os
fins-de-semana íamos à praia. Ana insistia no seu
pedido:
-
Leva-me para Inglaterra. Gosto
muito de viajar
pelo mundo.
Compra-me um carro,
compra-me uma casa.
-
Aguarda, veremos isso depois.
-
Estás sempre a dizer a mesma coisa.
Mostra-me
a vagina, e diz:
-
Já viste como ela está, não é?
- Já.
-
Fiz operação, não
faço filhos.
Numa
das nossas saídas aponta para uma pensão. Conta-me uma pequena
história:
-
Olha, já estive nessa pensão com uma amiga. Saímos de carro com dois amigos.
Eles pagaram-nos o almoço, o jantar e as bebidas. Depois passámos a noite na
pensão. Fizemos amor com eles. Assim pagámos a nossa parte da despesa.
Numa
noite Ana
vem com a sua
irmã e duas amigas. Fico surpreso pela invasão.
Instalam-se, depois vão
para a cozinha.
Começam a beber de tudo
o que existe. Cozinham tudo o que
encontram. Depois de comermos, a sua irmã começa
a despir-me. Todas se despem. Uma após outra
chupam-me o pénis. Ana observa enquanto se masturba. Aproxima-se de mim, afasta-as e coloca a sua
vagina no meu
pénis. Fui agraciado com uma grande orgia. Depois delas saírem disse à Ana
que iria para
Inglaterra de férias:
-
George, por favor leva-me contigo.
-
Desta vez não é possível. Fica para a próxima.
Quando
regressei trouxe algumas coisas que lhe
entreguei. Agradeceu imenso. Disse-me que faria anos
no dia seguinte e pediu-me algum dinheiro como forma de contribuição. Daria uma festa
na casa onde
estivera antes. A farra
estava bem animada.
Entre os convidados
está um comandante
da polícia. Ana
presta-lhe muita atenção.
Surpreende-me quando se abraçam e se
beijam amorosamente. Ana despreza-me, abandona-me. Fico mais um bocado a aguardar. Quando passa por mim lança-me olhares
de desprezo. Considerei que
nada mais
me restava senão
ir-me embora. Fi-lo sem
dar nas vistas.
No
dia seguinte,
Ana aparece com
as suas habituais
gargalhadas:
-
Abandonastes a festa porquê?
-
Achei que a minha
presença não era necessária.
Aliás estavas bem
acompanhada.
- Não sabia que
és ciumento. Deve ser
por causa do comandante… ele
é meu primo.
Dei-lhe
o devido desprezo
que merecia. Ana
sente-se insegura:
-
George, meu querido,
porque me
desprezas?
-
Não passas de uma vulgar prostituta.
-
Tens provas?
Ela
estava a tornar-se demasiado incómoda.
Mudou de conversa:
-
Estou cheia de sede. Não me ofereces nada para beber?
-
Infelizmente não tenho. Da última vez que aqui estiveste com as tuas amigas,
deixaram-me seco. Optei pela lei seca.
-
Já não gostas de mim, não é?
Estava
a começar a ficar
descontrolada, devido a que não lhe prestava a mínima
atenção. Sentou-se à minha frente, e
com um
pé acariciou o meu
pénis. Tentou convencer-me:
-
Vou arranjar a nossa cama.
Imagem: paideguadosertao.blogspot.com
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