Não existem batalhas que suplantem a batalha do amor.
E quando na totalidade a miséria prevalece, tudo, o amor incluído, se
esquecerá. Enquanto nos pátios das fortunas, a riqueza ilícita dos ilícitos se
venera, se engrandece.
Será que existimos
realmente? Não seremos o produto de um sonho? Há algo ou alguém que nos
controla a mente? Além de perdermos tempo, que mais sabemos fazer? Somos a
coisa mais inútil que existe no Universo? Nem sequer sabemos quem somos? Apenas
algo que imagina que pensa?
Sonho de uma independência tropical
A independência contempla-me afastada, fugidia, triste, escureceu como
breu.
É uma independência ao luar. E tudo ela me levou, me espatifou, me
espoliou.
Agora resta-me o direito, o retorno da milenar lei da escravidão. Olho para
o luar, a única coisa que me resta destas noites tão frias com a minha filhinha
apátrida, e fingimos que estamos no palácio presidencial a assistir na Televisão
Privada do Rei os campeonatos de futebóis nacionais e internacionais. E quando
alguma estrela se move, rio-me para a minha filhinha que o nosso Pai da
Nação nos abandonou, e ensino-lhe que aquela estrela é uma novela que está a passar
nos confins do céu. Que deve ser uma princesa errante a brincar com o seu
amante.
E a minha filha alenta-me aquela música que costuma tocar na Rádio da
Verdade Jingola: «Levanta-te mamã! Qual é a barreira que te impede de avançar?
Levanta-te mamã!»
Mas porque é que esta independência está tão escura, de maldade tão
obscena, de tão odiosos e desintegrados túneis.
Esta é a independência para os brancos e para alguns negreiros, para nós
apenas alguns trapos e os destroços da opulenta corrupção petrolífera.
Tudo acaba como começou.
Choro neste universo de chão deserto, órfã sem direito à terra que me
pertence espoliada pelos bancos brancos do petróleo do negro poder.
Olhai-me nobreza negra sob disfarce branco! Das profundezas dos vossos
poços petrolíferos, e do alto dos vossos palácios fendidos, um milhão de
casas-casebres destruídas vos contemplam! E nelas erguerão mais fachadas da
corrupção chinesa fissuradas.
Sim, insisto! Um milhão de casas-casebres destruir-se-ão, e um comboio
subterrâneo de Kabinda ao Kunene descarrilará.
Não, não posso culpar o meu Presidente, porque quando ele milenarmente por
aqui passa escoltado pelos seus carros de combate, a poeira agitada é tamanha
que ele não vê nada. Sim! O muito pó do betão progressista ofusca-lhe os
movimentos, o olhar e a mente. Deve ser por isso que ele não vê, não sente
nada. Será que ele tem sentimentos?
Porquê que aqui só há direito a viver em palácios e em apartamentos de um
milhão de dólares? E eu não posso viver num casebre de um punhado de dólares?
Acerca-se mais um eleitor muito desiludido, um dos integrantes dos comícios
de rua itinerantes e dardeja o que se almeja: «Nós votámos no Lorde porque
acreditámos em tudo o que ele nos prometeu. E ele enganou-nos. Nada do que nos
prometeu nos dá. Ele que tenha muito cuidado! Afinal é tudo para ele e para a
sua família e para os estrangeiros seus amigos. Ele está muito confiado nos
militares. Ele que tenha muito cuidado! É melhor que ele comece já a cumprir o
que nos prometeu.»
Porque tarda o julgamento de tanto crime, de tantos e tantos criminosos?
De notar o silêncio convincente das Santas Madres Igrejas perante a ditadura
do Lorde.
Mas, o silêncio revela que as coisas nas mãos de um partido matador trazem
muitos conflitos, mais guerras.
Saí de um país atrasado e quando me dei conta estava noutro muito mais a
andar para trás.
Os cães deixaram de ladrar, há muita miséria para lhes dar.
As noites fizeram-se para dormir, para descansar. Quem nelas perde tempo,
também lá perde a vida.
Todos bêbados porque se esgotaram os recursos do intelecto.
Quando se perturba o silêncio da noite é porque as mentes estão doentias.
Sem solução é o fim da governação.
Admirável silêncio, o dos portugueses que votaram no partido do petróleo
sem futuro. Dantes tão participativos, tão putativos. E que Jingola deves-lhes
tanto, dizem.
O sistema político da civilização ocidental não se alterou. Assenta na
formação indirecta de terroristas. O relacionamento em nada se alterou com os
outros povos ditos atrasados, colonizados. No caso vertente jingolano, os
portugueses são os tradicionais fornecedores de revoluções e terrorismos. Os
portugueses ao apoiarem governos que deveriam desaparecer, desempoleirar, para
explorarem, pilharem as suas populações, incorrem no grave risco da revolta
popular generalizada. É que se houve em surdina todas as vozes autóctones neste
sentido. Todos à espera do pretexto. Estamos todos no contra dos portugueses e no
seu desejo de nos continuarem a humilhar. A continuar, a manter-se nestes
moldes, a cooperação portuguesa não nos serve para nada, como muito bem afirmou
Graça Machel
Estes portugueses em Jingola portam-se como os cães da pradaria. Mais um
exemplo relatado por um amigo. Algures em Luanda, uma empresa de informática de
portugueses disponibilizavam serviços de Internet de banda larga. Mas não tinha
nenhuma banda. Era uma vigarice. O meu amigo ameaçou-os, desmontou-lhes a
vigarice, e os pobres idiotas, mais criminosos, pararam, bazaram. Andam por aí
à vontade, na descoberta sem a coberta das naus de mais vigarices. Os crimes
impunes incham até explodirem.
Também um país só a viver da anarquia petrolífera não tem futuro. Fica
estado-falhado. Agora com tanta gente para sustentar, num governo que mais
parece um harém que nunca mais acaba. São tantos governantes, que ninguém os
ousa contar, quem lhes vai sustentar?! Com um orçamento no barril a 55 dólares?
Vão desviar dinheiro? Passar ao lado do orçamentado? Salve-se quem puder, que a
governação submarinou-se. E o barulho das obras de noite, os fumos dos
geradores que nos matam, o roubo de terrenos, o camartelar casas, o falso
controlo dos preços no dia-a-dia, tudo continuará, prosseguirá?
Isto acabou meus senhores! Veremos o neocolonialismo com toda a sua força,
com toda a sua escravidão? Acabaram-se os sonhos, dominam os pesadelos? Será um
desastre imobiliário, o subprime Jingola? O petróleo já não dá para pagar dívidas.
Falsa riqueza na extrema pobreza. Todo o dinheiro que existia, esbanjaram-no,
ultrajaram-no… estamos feitos! Que será de nós!?
Devemos exigir a esses agentes provocadores, contas. Onde o gastaram,
delapidaram os dólares dos petrofamintos. Adeus futuro sem Nação?
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