segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Os Jasmins da Lwena (19) Igrejas não faltam. Talvez sejam superiores em número a ratos, a baratas e lixos



(E no descaminho de Emaús veneraremos, venceremos todos os obstáculos, proclamaremos que seremos depois da república das bananas invicto estado-falhado, e seremos muito galardoados e aclamados.)

O mar não se cansa de ondular. Nasceu assim, vive, é feliz sem fim, é jasmim. Estou a deixar-me levar para terra firme, a relembrar a desventura, a incerteza do Homem das bombas. Homem, o invento mais estúpido que a Natureza criou, o monstro, o predador, o maldito Homem que em conflito com o semelhante, quebra lanças por, lança-lhe bombas. E nascem abençoados nos tectos de Deus.
Igrejas não faltam. Talvez sejam superiores em número a ratos, a baratas e lixos que comandam a actividade diária dos Jingola petrofamintos. Em frente a buracos, lixo e esgotos existe uma igreja. E os seus cantos litúrgicos reforçam milenarmente: «Jesus, a minha vida são pedaços do teu sangue derramado.» 
Sinceramente não sei que interesses têm as nações, ganhos, em estupidificar as suas populações com superdoses de estádios de futebol. Isto é a outra civilização, a da bola. Quantos, tantos estádios de futebol que deveriam transformarem-se em bibliotecas de cultura. Jogos Olímpicos do livro, da literatura, de quatro em quatro anos. Isso existia na Grécia mas… as ditaduras e o Cristianismo colocaram os seus cadeados, invocando que eram cerimónias pagãs. Os poetas foram proibidos de jogar as suas odisseias. Os Celtas com as suas tradições orais fintaram a Igreja, e depois escreveu-se o Santo Graal, o Rei Artur, Guinevere, Lancelot, Avalon... Sim! E Excalibur, a espada mágica que simboliza as forças da Natureza, o destino da Humanidade. Eis o paradoxo: nascer para morrer. Ou melhor: nascer para destruir civilizações.
A miséria obriga a que por qualquer motivo se descaia, faleça, em qualquer local inesperado, sem direito a assistência médica e social. Os transeuntes, despregados de humanismo – mas, quem só pensa em dinheiro, tem tempo para estas coisas? Até lhe chamam de louco! – Cansados da viciosa morte gritam maquinalmente: Morreu! Morreu! – No tempo dos romanos era: viveu! viveu! - A vítima jaz no chão indefinidamente abandonada. É a vida diária dos campos de concentração petrolíferos deste Golfo da Guiné.
O novo comboio passará. Será mais rápido que o outro que existiu. Levantaram-se muros de protecção. Os moradores para circularem têm que saltá-los, os funerais também. Crianças sem instinto de conservação aproveitam o anoitecer e cagam no cimo dos muros. Os moradores trepam e sentem as mãos desagradáveis. Ficou oásis para bandidos. Pela intranquilidade os seguranças recebem extras, facturam nas pessoas. 
A História não é coisa parada, é movimentada. Novas descobertas surgem. O que hoje é uma descoberta revolucionária, no outro dia já não o é.
Famílias a viverem ao relento. A nobreza Politburo rouba terrenos e somaliza casebres para construir palacetes, palácios, com a abundância das receitas do petróleo. O que está na berra, na moda, são os condomínios. Abertos dentro, no ocultismo por fora.
Os primitivos tinham cavernas, os actuais desalojados nem isso têm. Os mirones acercam-se na praxe subjectiva. Interrogam-se que talvez seja um circo de cavalinhos debandado.
- A rua é a vossa nova casa?
- Os Politburo partiram-nos os casebres, roubaram-nos as terras e sempre assim sucessivamente.
- Vão se queixar nos direitos humanos!
- Não dá mano, esses quando falam os Politburo ameaçam-nos, prendem-nos, matam-nos. E que me adiantaria isso? Risadas e papeladas não despachadas.
- É lepra Politburo contagiante! Exilem-se!
- Sim… vamos para o Índico, a ver se algum mercador de escravos nos compra.
Regressei ao mar, desperta por onda dimensional que balançou a embarcação. Segurei-me bem. Os marinheiros nem por isso, nas calmas, insensíveis às ondas. Sensíveis falantes, não se cansam. O Ulisses bordeja: 
- O dinheiro sujo civiliza-nos. É o dono do mundo, patrão da hodierna civilização. Antes arrasaram, mataram, dizimaram, escravizaram os antepassados. Até que finde… quando não sobrar nada….
Antes que me esquecesse, intrometi uma deixa:
- Quando chegar à Ibéria depois parto para Armórica… tenho lá uma prima. Finalmente… regresso à civilização… da comida.
… apenas vestígios. Dantes as pessoas revoltavam-se, agora não. Estão cansadas, submissas, frustradas. Os intelectuais desapareceram… apareceram muitos pseudo-intelectuais que dirigem as sociedades. É fantástico ver como toda a gente os segue. Lembram Júlio César a subjugar os Celtas.
O Mentor está à pesca. Atira o anzol sem isca, recolhe-o, volta a atirá-lo. Que paciência de Job. Anzol sem isca… deve ser pesca de malucos. Oh, afinal bate bem. Pescou um bem grande. Ufana-se:
- É uma dourada! Vou fazer sushi.
Ulisses tranquilo confunde-se com o mar. Talvez porque Penélope esvoace, abrace e lhe dê doce calmaria. Conversa vai, conversa vem.
- Onde cheira a negócio, de imediato aparecem os homens.
Mentor afadiga-se no corte de fatias finíssimas, tenrinhas, fresquinhas, do esquartejado teleóstio. Dá apito de manobra:
- É futebol… se falta entrosamento, concentração e força anímica, perde-se a batalha.
- Não, não pode ser. Não foi Deus que criou o Homem, que aberração, que imperfeição, que monstruosidade. Estamos dominados, governados pelo demónio há mais de dois mil anos. Esta é a verdade. O fundador… os fundadores, os seguidores da Igreja, são… Satanás. Ele está aqui, sente-se, move-se, domina-nos. Eis porque o mundo está no fim, no caos. Satanás está em todo o lado, ninguém lhe consegue escapar. Estamos amarrados, vivemos os últimos dias da maldade. Satanás triunfou.
Calaram-se. Que ventura. Longe de casa, na solidão marítima o pensamento é mais sagaz. Discorre perfeitamente. No convívio da verborreia humana é quase, senão impossível pensar. Hoje, a loucura humana criou a sua melhor descoberta: o ruído. Por isso os cérebros andam tão decadentes, desmazelados, que desconseguem reflorir. Descomplexei-me e expus-me a Mentor: 
- Mentor, acompanho-te porque não acredito nos intelectuais Jingola, metem-me medo, são falsos, oportunistas, aterradores, recordistas da bajulação. Mas, creio que sempre foi assim desde os primórdios, desde aquela abalada quando os nossos ancestrais viviam nas cavernas, depois aprenderam a usar um osso como arma. Que pobreza de espírito. Como se alguém acreditasse nisso. Custa-me a entender o porquê de tanta violação da História. Quanto menos contactos humanos melhor. Porque é pernicioso, perigoso, e evitamos muitos dissabores. Vivermos como eremitas? Sim, porque não? Existe alguém que goste de viver com serpentes venenosas? Ainda não está tudo perdido. Chegou a hora das grandes cruzadas. O tempo de desembainhar as nossas espadas e acabar com os maldosos. Fazer outra vez um rio de sangue divino, e salvar a humanidade. Não há alternativa. Vamos a isso, acabemos com eles!
- Os tempos apagados continuam experientes… coisas que antes eram dadas como certas, mais tarde verificamos com surpresa estarem erradas. Uma delas é fundamental: A África Negra permanece, permanecerá primitiva.
- Porra! Esses guardiães do templo da memória são muito perigosos.
- As noites dos tempos são sempre iguais, não se alteram. Os dias findam e escurecem, as noites acabam e amanhecem.
- A escravatura não mudou, porque o homem não acabou. São tantos os escravos que não se podem contar.
- A civilização Branca da fome faz-lhes o balanço.
- Sim… o homem Branco, a civilização Branca… os destruidores de civilizações.
- Se me dessem a escolher entre um homem e o demónio, escolheria o demónio, porque ele me ajudaria a eliminar o homem.
- Quando não existir homem, haverá finalmente paz na Terra.
A nau perseguia o destino Atlântico, o mar que ensinou os homens a navegar. Depois melhoraram as embarcações e reembarcaram, descobriram-se com outras gentes. Parecia inacreditável, mas existiam outros povos primaveris que pisavam rodeadas riquezas incomensuráveis. Com olhos cobiçados e cabeças tontas vergavam-se os exploradores perante tantas montanhas de ouro inexploradas. Eldorados, ilhas encantadas, misteriosas cidades do ouro, esmeraldas, diamantes, prata, petróleo, urânio. E matavam-se, rematavam-se e matavam. Riquezas humanas, povos… civilizações espadeiradas, tiroteadas, apenas porque os seus deuses eram árvores, rios e terra. Eram-lhes superiores porque amavam a Natureza. Agora os neo-exploradores esfolam-se e esfolam. Destros superficiais boçais.
Reanimei-me, e reaprendi a amar, a desenvolver o amor do meu Deus implantado na árvore iluminada de esmeraldas, riqueza verde insubstituível.
Louvei as minhas inclinações a Anfitrite, Oceano e Mentor pelo agrado do improvisado sushi. E voltámos aos nossos sons, como se o mar entendesse, participasse mudo e quedo.
- Mentor, meu amigo… não vou nos futebóis das bolas brancas, nem nas políticas dos políticos melífluos.
- O autor dos FFF, Fado, Futebol e Fátima, é prezado… o ser humano necessita da prova de fogo constante. Como os grandes hipnotizadores de multidões que nos conduzem à solução final.
- Os cães são livres, nós não.
- Não entendo.
- Eles podem ladrar, perdemos esse direito.
- Por isso existem canis.
- O que é uma discriminação.
- Sim! Não há diferença entre os homens e os cães.
- Há uma, comem a mesma comida.
- Então os criminosos deviam estar nos canis e os cães na prisão dos homens.
- É tempo de acabar com essa injustiça.
- O homem não é um animal.
- Por certo, os animais pensam que o homem é irracional.
Imagem: Aléxia Gamito

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