(E no descaminho de Emaús veneraremos,
venceremos todos os obstáculos, proclamaremos que seremos depois da república
das bananas invicto estado-falhado, e seremos muito galardoados e aclamados.)
O mar
não se cansa de ondular.
Nasceu assim, vive, é feliz
sem fim,
é jasmim. Estou a deixar-me levar para terra
firme, a relembrar
a desventura, a incerteza
do Homem das bombas.
Homem, o invento
mais estúpido
que a Natureza
criou, o monstro, o predador,
o maldito Homem
que em
conflito com
o semelhante, quebra
lanças por,
lança-lhe bombas. E nascem abençoados nos tectos de Deus.
Igrejas não faltam. Talvez sejam superiores
em número
a ratos, a baratas e lixos que comandam a actividade diária
dos Jingola petrofamintos. Em frente a buracos, lixo
e esgotos existe uma igreja. E os seus
cantos litúrgicos
reforçam milenarmente: «Jesus, a minha vida são pedaços do teu sangue
derramado.»
Sinceramente não
sei que interesses
têm as nações, ganhos,
em estupidificar
as suas populações
com superdoses de estádios de futebol. Isto é a outra civilização, a da bola.
Quantos, tantos
estádios de futebol que deveriam transformarem-se em
bibliotecas de cultura.
Jogos Olímpicos do livro,
da literatura, de quatro
em quatro
anos. Isso
existia na Grécia mas… as ditaduras e o Cristianismo colocaram os seus
cadeados, invocando que
eram cerimónias pagãs. Os poetas foram proibidos de jogar as suas odisseias. Os Celtas
com as suas
tradições orais
fintaram a Igreja, e depois escreveu-se o Santo
Graal, o Rei Artur, Guinevere, Lancelot,
Avalon... Sim! E Excalibur, a espada mágica que simboliza as forças
da Natureza, o destino
da Humanidade. Eis
o paradoxo: nascer para
morrer. Ou melhor: nascer para destruir civilizações.
A miséria
obriga a que por
qualquer motivo
se descaia, faleça, em qualquer local inesperado, sem
direito a assistência
médica e social.
Os transeuntes, despregados de humanismo – mas,
quem só
pensa em
dinheiro, tem tempo
para estas coisas?
Até lhe
chamam de louco! – Cansados da viciosa morte gritam maquinalmente: Morreu! Morreu! – No tempo dos romanos
era: viveu! viveu! - A vítima jaz no chão
indefinidamente abandonada. É a vida diária dos
campos de concentração
petrolíferos deste Golfo da Guiné.
O novo comboio passará. Será mais
rápido que
o outro que
existiu. Levantaram-se muros de
protecção. Os moradores para circularem têm que saltá-los, os funerais
também. Crianças
sem instinto
de conservação aproveitam o anoitecer e cagam no cimo
dos muros. Os moradores trepam e sentem
as mãos desagradáveis. Ficou oásis para bandidos. Pela intranquilidade os seguranças
recebem extras, facturam nas pessoas.
A História
não é coisa parada, é movimentada.
Novas descobertas
surgem. O que hoje
é uma descoberta revolucionária,
no outro dia
já não
o é.
Famílias a viverem ao relento.
A nobreza Politburo rouba terrenos e
somaliza casebres para construir
palacetes, palácios,
com a abundância
das receitas do petróleo.
O que está na berra,
na moda, são os condomínios.
Abertos dentro,
no ocultismo por
fora.
Os primitivos
tinham cavernas, os actuais desalojados nem isso têm.
Os mirones acercam-se na praxe
subjectiva. Interrogam-se que talvez seja um circo de cavalinhos debandado.
- A rua
é a vossa nova casa?
- Os Politburo partiram-nos os casebres,
roubaram-nos as terras e sempre assim sucessivamente.
- Vão
se queixar nos direitos
humanos!
- Não
dá mano, esses
quando falam os Politburo ameaçam-nos,
prendem-nos, matam-nos. E que me adiantaria isso?
Risadas e papeladas
não despachadas.
- É lepra
Politburo contagiante! Exilem-se!
- Sim…
vamos para o Índico, a ver
se algum mercador
de escravos nos
compra.
Regressei ao mar,
desperta por onda
dimensional que
balançou a embarcação. Segurei-me bem. Os marinheiros nem por isso, nas calmas,
insensíveis às ondas.
Sensíveis falantes,
não se cansam. O Ulisses bordeja:
- O dinheiro sujo civiliza-nos. É o dono
do mundo, patrão
da hodierna civilização.
Antes arrasaram, mataram, dizimaram,
escravizaram os antepassados. Até que finde… quando não sobrar nada….
Antes que
me esquecesse, intrometi uma deixa:
- Quando
chegar à Ibéria depois
parto para Armórica…
tenho lá uma prima.
Finalmente… regresso
à civilização… da comida.
… apenas
vestígios. Dantes as pessoas revoltavam-se, agora
não. Estão cansadas, submissas,
frustradas. Os intelectuais
desapareceram… apareceram muitos
pseudo-intelectuais que dirigem as sociedades. É fantástico
ver como toda a gente os
segue. Lembram Júlio César a subjugar os Celtas.
O Mentor
está à pesca. Atira o anzol sem isca, recolhe-o, volta
a atirá-lo. Que paciência
de Job. Anzol sem
isca… deve ser
pesca de malucos.
Oh, afinal
bate bem. Pescou um
bem grande.
Ufana-se:
- É uma dourada!
Vou fazer sushi.
Ulisses tranquilo confunde-se com o mar. Talvez porque
Penélope esvoace, abrace e lhe dê doce calmaria. Conversa vai, conversa vem.
- Onde
cheira a negócio,
de imediato aparecem os homens.
Mentor afadiga-se no corte
de fatias finíssimas, tenrinhas,
fresquinhas, do esquartejado teleóstio. Dá apito
de manobra:
- É futebol…
se falta entrosamento,
concentração e força
anímica, perde-se a batalha.
- Não,
não pode ser.
Não foi Deus
que criou o Homem,
que aberração,
que imperfeição,
que monstruosidade. Estamos dominados,
governados pelo demónio há mais
de dois mil anos. Esta é a verdade. O fundador… os fundadores,
os seguidores da Igreja,
são… Satanás. Ele
está aqui, sente-se, move-se,
domina-nos. Eis porque
o mundo está no fim,
no caos. Satanás está em todo o lado, ninguém lhe consegue escapar.
Estamos amarrados, vivemos os últimos dias da maldade.
Satanás triunfou.
Calaram-se. Que
ventura. Longe
de casa, na solidão
marítima o pensamento
é mais sagaz.
Discorre perfeitamente. No convívio da verborreia humana
é quase, senão
impossível pensar.
Hoje, a loucura
humana criou a sua
melhor descoberta:
o ruído. Por isso os cérebros
andam tão decadentes, desmazelados, que desconseguem reflorir.
Descomplexei-me e expus-me a Mentor:
- Mentor,
acompanho-te porque não
acredito nos intelectuais
Jingola, metem-me medo, são
falsos, oportunistas,
aterradores, recordistas da bajulação. Mas,
creio que sempre
foi assim desde
os primórdios, desde
aquela abalada quando
os nossos ancestrais
viviam nas cavernas, depois aprenderam a usar um osso como arma. Que pobreza
de espírito. Como
se alguém acreditasse nisso. Custa-me a
entender o porquê de tanta violação
da História. Quanto
menos contactos humanos
melhor. Porque
é pernicioso, perigoso,
e evitamos muitos dissabores.
Vivermos como eremitas?
Sim, porque
não? Existe alguém
que goste de viver
com serpentes
venenosas? Ainda não
está tudo perdido. Chegou a hora das grandes
cruzadas. O tempo
de desembainhar as nossas espadas
e acabar com
os maldosos. Fazer
outra vez um rio de sangue
divino, e salvar a humanidade. Não
há alternativa. Vamos a isso, acabemos com
eles!
- Os tempos
apagados continuam experientes…
coisas que
antes eram dadas como
certas, mais
tarde verificamos com
surpresa estarem erradas. Uma delas é fundamental: A África Negra
permanece, permanecerá primitiva.
- Porra!
Esses guardiães
do templo da memória
são muito
perigosos.
- As noites
dos tempos são
sempre iguais,
não se alteram. Os dias
findam e escurecem, as noites acabam e
amanhecem.
- A escravatura
não mudou, porque
o homem não
acabou. São tantos
os escravos que
não se podem contar.
- A civilização
Branca da fome
faz-lhes o balanço.
- Sim…
o homem Branco,
a civilização Branca…
os destruidores de civilizações.
- Se me
dessem a escolher entre
um homem
e o demónio, escolheria o demónio, porque
ele me
ajudaria a eliminar o homem.
- Quando
não existir homem, haverá finalmente
paz na Terra.
A nau
perseguia o destino Atlântico,
o mar que
ensinou os homens a navegar. Depois
melhoraram as embarcações e
reembarcaram, descobriram-se com outras gentes. Parecia inacreditável,
mas existiam outros
povos primaveris que
pisavam rodeadas riquezas incomensuráveis. Com
olhos cobiçados e cabeças
tontas vergavam-se os exploradores perante
tantas montanhas de ouro inexploradas.
Eldorados, ilhas encantadas, misteriosas cidades do ouro, esmeraldas,
diamantes, prata, petróleo, urânio. E matavam-se, rematavam-se e matavam.
Riquezas humanas, povos… civilizações espadeiradas, tiroteadas, apenas porque
os seus deuses eram árvores, rios e terra. Eram-lhes superiores porque amavam a
Natureza. Agora os neo-exploradores esfolam-se e esfolam. Destros superficiais
boçais.
Reanimei-me, e reaprendi a amar, a
desenvolver o amor do meu Deus implantado na árvore iluminada de esmeraldas,
riqueza verde insubstituível.
Louvei as minhas inclinações a Anfitrite,
Oceano e Mentor pelo agrado do improvisado sushi. E voltámos aos nossos sons,
como se o mar entendesse, participasse mudo e quedo.
- Mentor, meu amigo… não vou nos futebóis
das bolas brancas, nem nas políticas dos políticos melífluos.
- O autor dos FFF, Fado, Futebol e Fátima,
é prezado… o ser humano necessita da prova de fogo constante. Como os grandes
hipnotizadores de multidões que nos conduzem à solução final.
- Os cães são livres, nós não.
- Não entendo.
- Eles podem ladrar, perdemos esse direito.
- Por isso existem canis.
- O que é uma discriminação.
- Sim! Não há diferença entre os homens e
os cães.
- Há uma, comem a mesma comida.
- Então os criminosos deviam estar nos
canis e os cães na prisão dos homens.
- É tempo de acabar com essa injustiça.
- O homem não é um animal.
- Por certo, os animais pensam que o homem
é irracional.
Imagem:
Aléxia Gamito
Sem comentários:
Enviar um comentário