Como
impressionam os discursos que correm os seus trâmites normais sobre as
poupanças. Que se deve consciencializar as populações de que as suas poupanças
devem seguir para o circuito bancário. Pois… mas quem é que confia nos bancos
depois de tão últimos infaustos acontecimentos. É desventura dos aventureiros demasiada!
Como é que pode uma população ter poupanças se lhes destroem as casas,
espoliam-lhes as terras… ficam sem nada. As poupanças são demolidas… isto é a
apologia dos incendiários.
A vida é um forte distúrbio anseio alcoólico. Foge
toldada do suave e abrupto nevoeiro do palmar. Onde os álcoois perseguem a
nossa existência. Os vapores são intensos, agradáveis intentos. Se conseguimos
despertar, despeitados e frustrados abismamos na invasão do torpor, do clamor medíocre,
logo existo! Da vitória universal: bêbados de todo o mundo, uni-vos!
A proa da neblina não se rompe, recomeçam as nuvens
neuronais da existência, da angústia como veículos na cidade sem luz. Com
apenas os seus faróis encandeados em movimento. Como jasmins amarelecidos tentando
reencontrar a seiva perdida da vida. Sombras escondidas das noites perdidas.
Não há dias, apenas monumentais estátuas estáticas sem alvorecer. Nos olhares
vazios, inchados do silêncio perdido algures. Este é o mar, o nosso navegar dos
petroleiros alcoólicos.
Como a dificuldade de obter a simplicidade da aragem
silenciosa da flor-de-Diana. Natureza abandonada aos fogos florestais.
Verde-cinza sem ondulação, no sonolento sol dos dias sem fim.
O rejuvenescer para envelhecer, nascer para recomeçar,
morrer sem transformar o que nos rodeia. Aprisionados na cor da nossa dor.
Folhas de palmeira pesadas dobradas pelo verde da dor. E o tempo não é eterno.
Na tragédia da noite pedi a Deus que me inspirasse. Mas, olhar? Sim! As paredes
de casa têm fissuras por onde a minha liberdade pode espreitar.
Reconheci-te fugitiva da janela do avião furtiva. Numa
tarde africana sem fim sempre demasiado pálida, sem serenidade, desgastada, com
muita chuva tropical. Sempre no sonho que corria para ti e abraçámo-nos.
Olhámo-nos durante quase cinquenta anos desta História que nos persegue.
Da doce ternura apunhalada, enquanto a chuva
violentava a nossa fragilidade, porque o Universo deixou. É apenas um homem e
uma mulher fingindo amarem. Despertei, perdi-te para sempre. É por isso que
viajo na esperança de encontrar-te à janela de um avião furtivo.
A minha terra natal era o meu mundo. Lembro-me de
sentir a sua força quando caminhava no seu chão fecundo. Agora ando carregada,
perfumada, lançada ao imundo. Das gerações sem vida da ditadura angolana, do
seu petróleo, dos seus diamantes, do futebol e dos estádios reais inflamados,
infamantes.
Era graciosa, sem correntes, aprisionada no trânsito
dos riachos, e dos seus jardins celestiais que me ensinavam a ser mulher. Divina
como uma sinfonia no capim celestial. Diziam-me que a Natureza era um quadro,
uma pintura executada pelos meus antepassados. Que vieram de muito longe, e que
os bebés amamentavam-se da seiva das flores. Diziam deles que eram outras
frágeis pinturas. Outras criaturas, outras flores no jardim celestial para
sempre proibidas de serem colhidas.
Que foi assim que tudo começou no nosso Mundo. Os rios
eram serpentes e o sol convidou-os a meditar na vida. Continuava tudo assim até
que um ditador vendeu-nos, vendeu os raios do sol que brilhavam nas pedras
transparentes. Perdi o presente e hipotequei o meu futuro.
Sentava-me amanhecida no alto do morro do Moco. E
esperava que o sol me cativasse. Em baixo as pessoas floresciam na
transparência matinal, movendo-se para a tristeza do infinito estender
suplicante. Das mãos, do corpo na solução mendicante. Sem rumo, sem universo
visual, que jaz no palácio presidencial dele, deles.
O meu quotidiano terminou. Era um conjunto de
recordações permanentes. É imperador, rei, o nosso presidente decerto de Shaka
Zulu descendente. Em pré guerra civil sempre vivente. Desesperando que o
mandato messiânico arquitectado sem eleições presidenciais perdure nas gerações
vindouras, perpetuado.
Governar é uma arte, os idiotas acham que não. Com as
cabeças de picos agrestes tão distantes. Como uma sensibilidade difícil, onde
não se planeja.
Dirigir é tão suave, simples. O ditador complica o que
é tão fácil. Não sou independente, ressalto a minha personalidade. Não realizei
este sonho… continuo muito infeliz no meu descontentamento porque nunca serei
feliz. Proibiram-me de admirar as grandiosas obras de arte que humanos
semelhantes produziram, apesar que sou uma obra-prima. Não me deixam transmitir
os meus sentimentos. Tudo o que sinto e penso, um oceano de perenidades, uma
beleza de imensidades, uma importação de sem serenidades.
Uma ténue demonstração de beleza, uma mostra fugaz de
humanidade, da qual o ser humano parece amedrontar-se. E só a demonstra quando
vê destruição?! Aí a sua vida parece protegida nesse elo desconhecido. A
genialidade despertou-me a maldade da Ocidental civilização atómica. Chegou a
independência dos libertadores negros. Com novas promessas, novos colonizadores.
As trombetas tocam, alteram a tranquilidade. Os
ditadores comerão as suas palavras e durante milénios serão odiados. Os
medíocres acompanhá-los-ão com ou sem quatro estações. Não sou genial, apenas
procuro o Caminho da independência que me espoliaram. Nem nas ruas posso vender
para sobreviver, porque logo soltam os cães e todos me querem morder.
Desta minha desgraça, o petróleo enegrece-me. O sol
reflecte-se na pele branca, na minha absorve-se. De manhã sou azul do céu, à
tarde amarela do sol, à noite sou chocolate Jasmim da Noite.
Algo tão fundamental como o amor, que aparece tão
distante, longínquo. Como por vezes me parece o meu desespero. Tanta maldade me
fizeram e fazem, desfazem-me.
Não acredito em nada!
Não surge ninguém em quem acreditar. Só ditadores e
corruptos eleitos nas falsas eleições que o Ocidente me impõe. Acredito em mim
como um ser divino. Procuro o apoio, a saída da desesperança da tortura das
palavras dos meus manos intelectuais (!)
Das torturas, tonturas do meu coração. Alguém em quem
confiar com todas as minhas forças. Acreditar, confiar, amar ninguém. Que
esteja sempre por perto e me diga: Levanta-te e caminha que te amparo, no
infinito dos céus e dos tempos. No finito terror bancário dos números sem
universo.
Vieram para descobrir as riquezas, o cheiro da vida do
solo.
Depois da Gonduana chuva caída, e do meu grito de
vitória da águia ao pairar nas alturas, descer e caçar a presa sem amargura. No
som do silêncio da água do rio sombreado pelas verdes, esvoaçantes ramagens das
aves, nas naves nidificadas. Depois ele desmatou.
El Che chegou, mentiu-me, não me libertou.
A minha amiga condessa de Monte Cristo ensinou-me: usa
o sorriso da Mona Lisa e espera até conseguires reaver tudo o que nos
hostilizam. Os bancos roubam, roubam-nos, assaltam-nos. Ficámos invisíveis,
transparentes, uma coisa é impossível nos roubarem… a fome.
Estava deitada em cima do fim-de-semana. Na praia o
meu corpo saboreava a areia demasiado atraente, quente do sol. Senti um
estranho impulso a correr para a transparência da água. Mergulhei rapidamente,
mergulhando cada vez mais. Estava prestes do fundo quando abri os olhos ávidos
de crianças que não viam o futuro nos campos de concentração angolanos.
Sentei-me no fundo marinho para sempre a pensar que é nos silêncios
ondulatórios que nascem as reflexões. Perdi a coragem de regressar à superfície.
Sou pura e límpida como a noite. A sua beleza
persegue-me com o aroma da minha vaidade. Falo, ordeno às florestas que dancem.
As minhas histórias chegam do céu. Não preciso de melhorar a minha beleza, nem
o meu aspecto, gosto dos meus olhos escuros. Sou bela como a noite. Passeio no
mar, da ondulada vegetação plantada. As montanhas, os montes, os campos,
obedecem aos meus desejos, ao caminho sem amor eterno do meu paraíso perdido.
Os tesouros da vida que me roubam depositam-nos nos bancos deles das ordens
superiores, hostilizam e espoliam neste terror negro incomparável. A glória
perdida jamais volta, enterra-se nos museus.
Receamo-nos, evitamo-nos como se fôssemos assassinos.
Viajo no tempo da dissensão, as leis da física atrapalham-me, durmo à beira da
electrocussão. Nos sinais luminosos extemporâneos do amanhã, porque não consigo
saltar, soltar-me desta dimensão. Estendo os braços, fecho os olhos na direcção
do porto mais visível do espaço. Aí sempre começa e acaba o meu diálogo. Venham
meus tesouros da selva, sigam-me! Sigam-me! Recordemos o enigma da chaminé das
ruínas da nossa civilização no Zimbabué.
Carregar no gatilho é fácil, carregar na mente é difícil.
Quando ando, gosto de entregar, sentir saltar os meus
seios, desprendê-los ao salutar, saudável retorno solar.
Garantem-me que a guerra é necessária e que o homem é
necessário para ela, para que haja violência nas palavras. Guerra!.. Na minha
África (?) do contrabando de armas, e dos campeões do poder corrupto e
vitalício. Como rochas afastando-se do luar antes da tempestade.
E a chama do fogão possuindo a cafeteira líquida antes
da ebulição. O fardo pesado na formiga leve antes da fome dos Invernos sem vida.
O sol vigoroso brincando com as folhas das árvores antes das queimadas. Negros
que deixaram de ser homens perseguidos pelo sono das madrugadas, sempre
caminhando antes do sol nascer. A encosta deixando rolar a pedra antes do solo
plano. O barulho do cair da chuva no fritar das batatas antes de tragadas.
Os esgotos não canalizam, edificam a democracia
incipiente. Sim! O ar livre dos esgotos esgota o caudal democrático na
refulgente riqueza dos novos-ricos do petróleo, do diamante luminescente. Riqueza
incomparável na pobreza miserável. Os meus pés da fome não andam, rastejam como
as serpentes que enfeitiçam nos trilhos dos caminhos sinuosos, impetuosos
soçobram os rios auríferos, petrolíferos, diamantíferos. Nos pontos fracos dos
calcanhares ricos resta-me a realeza dos tormentos dos lamentos intemporais. Tanta
riqueza à minha volta nesta cidade sem revolta. Vejam! A pobreza deixou de ser
tristeza.
Imagem:
Aléxia Gamito
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