Aumento dos
combustíveis em 8%, salários da função pública também aumentam 5%, e corte da
subvenção aos combustíveis. Extinção em simultâneo do mercado Roque Santeiro
que movimenta todo o mercado informal e que gera empregos a milhares ou milhões
(?) de pessoas.
O cemitério
do quilómetro 14 em direcção ao Cacuaco, arredores de Luanda, estão a
retirar-lhes as ossadas para prosseguirem a escalada da especulação
imobiliária.
Entretanto,
o Grande Líder das Massas passeou calmamente por algumas ruas de Luanda,
escudado nos seus centuriões impressionantemente bélicos, – está em terra de
bárbaros – agora nas veste de agente imobiliário – seleccionando e orientando
quais das dez mil residências para alargamento (?) das vias rodoviárias receberão
o prémio da confiscação para demolição sem mais, que somadas ao anterior milhão
dão mais uma caterva de um milhão e dez mil problemas sem solução. Claro que
isto não é prioritário, provavelmente é mais uma imposição dos agora amigos
chineses de longa data. Como prioridades, não são o abastecimento de água e a
energia eléctrica que estão num plano secundário desde a independência. Angola
é muito grande, mas os cérebros que a governam desenham-na muito pequena, na
mesquinhez.
E nas
Lundas, revelando peculiar mestria política, o garante da governação
diamantífera decretou a probidade da utilização de bandeiras dos partidos
políticos.
Nesta banda
tudo o que é anormal, decreta-se normal. Que o PIB cresce, o desenvolvimento
económico prospera. Bom, só pode ser um novo sistema económico que inventaram e
que permanece desconhecido. Provavelmente o Economic Jungle. Este petróleo é da
cor dos espoliados.
O que aconteceria se desvendássemos,
falássemos, abríssemos a nossa alma? Fazer o invisível, visível? Há muito
receio supersticioso. As pessoas vivem noutro mundo possuídas pelos cultos
religiosos.
A História recheia-se de guerras
santas, de extermínios, de cultos de libertação. Todas, asseguram-nos, são
libertadoras. Então porque continuamos oprimidos? Porque não são guerras de
libertação, são guerras de continuação da opressão.
Durante muitos anos da minha vida
ensinaram-me que os outros povos eram atrasados, incivilizados. Necessitavam do
alimento feérico da fé cristã, da condução paradisíaca. Libertar-se-iam dos
seus deuses, desconheceriam a maldade, sombras, trevas do paganismo demoníaco.
Em consonância os políticos arremetem-nos vida melhor, e a religião promete-nos
viver no paraíso eterno. Mas quando um governo se irresponsabiliza perante os
cidadãos no abastecimento mínimo de água, luz, comida, chapas de zinco para
refazer casebres e alguma roupa, isto é escravidão. Comparando os tempos, os
modernos ultrapassaram os antigos. Nunca aconteceu na História tanta
escravidão, submissão, espoliação como actualmente.
Os Jingola autóctones colonizados
libertaram-se. Os seus libertadores sangraram o fim colonial e esclavagista. Em
seguida como navios escuteiros desbordaram a humanização da História.
Submetidos às leis modernas da nova escravatura, às leis da imutável fome, às
leis das epidemias que a acompanham. É o destino dos povos, a frustração da
História. Isolados como ilha perdida algures em qualquer oceano, à espera da
morte salgada. Regimes de excepção suspensos em actos anticonstitucionais,
empresariais, actos gratuitos. Não há mandados de citação, há mandatos penais.
O poder empresarial é oculto, temeroso. Governante que não caminha pelo meio do
seu povo, é impopular, receoso.
A tuberculose galopante inscreveu-se no
quadro das epidemias. No hospital os lugares disponíveis são insuficientes.
Apesar de alguns novos focos, a cólera, dizia-se, já não assustava. A equipa
médica afirmou que seria extinta nos próximos cinco anos.
Este é mundo de dinossauros, seres de
pedra com mentes de fontes incoerentes que inutilizam a validade da luz
natural, cerebral. Ocos de linha dura, anzolam-nos na sua demência.
Prescrevem-se choques nos tecidos tenebrosos mas, os encéfalos teimam que
dependemos da inutilidade deles… perfeccionistas da lei de Murphy. Carentes,
crentes no poder vitalício permanecem esqueléticos até à morte, a desordenar.
Desusam o sentimento de culpa, não antecipam formação de jovens substitutos.
Enfadam-se na demagógica criação de empregos, nas oportunidades à massa
cinzenta rejuvenescida. As pontes desabam, a do poder não.
O homem mais poderoso e o homem mais
fraco não têm a mesma importância. O homem mais fraco é mais importante, porque
a qualquer momento derruba o homem mais poderoso
O meu melhor amigo é o silêncio do odor
da santidade florestal embalsamado, dos lamentos confessados, convictos. Os
meus inimigos são os quatro cavaleiros do apocalipse: o especulador
imobiliário, o advogado, o especulador financeiro e o agente funerário. Mas, o
meu maior receio é ser queimada por heresia.
Acreditamos, defendemos resoluções,
revoluções, e depois deixamo-nos arrastar na correnteza da odienta pobreza
Educaram-me, ensinaram-me,
reeducaram-me que a civilização Ocidental é superior. Mais tarde descobri com
sorrisos solitários, o quanto estava lesada. Não produzi estátuas ou outras
obras de arte porque a minha beleza, o purismo das minhas formas, são
renascimentos para os artistas amantes dos superiores primitivismos. A minha
civilização é inferior na tecnologia, mas é superior na minha outra impressão
de sol nascente.
Ajustei o campo
binocular. Um
jornalista de fraqueza
física, mas
de espírito forte,
tentava amainar um
antagonista latagão.
Discutiam-se e improperavam-se. O jornalista ao correr da pena ecoava
que apenas
dera um leve
toque na traseira
da viatura do latagão.
Estavam a ficar intransitáveis,
porque o latagão
não aquiescia. Ao contrário,
publicitava que era
formado em pugilismo
pelos ringues
mais violentos
que ainda
subsistem. Sem pena,
remexeu os toros musculados e
desembainhou os punhos de aço natural. A bater o aço no intelecto do jornalista, que apenas
conhecia defender-se com caneta e papel ou
computador portátil.
As palavras desvaneciam-se na mente redactorial. Perdeu o sentido
da vida. O latagão
como animal
enjaulado não despegava a vítima, incansável
como máquina
metálica programada para
matar. Braçais possantes
conseguiram imobilizá-lo quando
desligaram o disjuntor principal
que alimentava a sua máquina desumana. Sentiu-se plenamente
realizado porque odiava jornalistas. Assassinou um
jornalista por
cinquenta dólares, que era o preço da
batidela. Triunfante, basculante, inocentou-se que
apenas usou as mãos.
Os Jingola finalizaram a inaptidão da religião
da vida interior.
Deus expandiu o céu
e a terra, depois
contratou o Demónio para criar
o Homem. Os animais
selvagens vivem nas cidades,
os animais civilizados nas selvas. Aperfeiçoam utensílios,
inventam, renovam descobertas. Surgem novas doenças, novas epidemias.
Rematam-se cada vez
mais, com
novas armas.
Alarmada, certifico que não
evoluímos: fabricamos os filhos conforme preceituado na antropologia
física. Não
alterámos: beijamo-nos e acariciamo-nos antropologicamente. Não há nada de novo no ovo cósmico.
Desbravadores do roubo
e da morte, início e fim
do idealismo subjectivo. Então, que utilidade tem o ser humano? Nascer, destruir, matar. Um louco manso apelidou-o Homo sapiens. O nome
correcto é: Homo Credo quia absurdum, (Homem creio por
ser absurdo).
Deus é a imaginação
do Homem. Só
existe quando necessário,
aparece e desaparece. Sempre fomos e
seremos pagãos. Falta-nos coragem
para o confessar.
Quando a informação
escasseia com intenção,
os oratórios ambulantes
costumam ser especulativos e evoluem para
observatórios de rua.
Um acontecimento
de vulto é relatado, com o tempo
torna-se lendário, um
mito. Os Jingola instituíram observatórios de rua,
nas ruas clandestinas. Popularmente, naturalmente,
chamaram-lhes observatórios boca a boca.
Num destes boca a boca,
o orador especulava que
um simples
plano sem
director seria suficiente para
Jingola estacionar, ficar
bem estacionada. Era
somatório dos proeminentes
que estudavam a degradada jurisdição. De improvisado púlpito e de jurisdição contenciosa
esgrima-se:
- É o relativismo moral.
Os Europeus refizeram-se, refrescaram-se, depois
da secundária guerra
universal. Porquê!?
Porque é constante
a corruptela das sociedades
sem um
plano económico. Depois
da economia de guerra,
de palitos, dirigida, fechada, informal, invisível,
mista, popular,
velha, uf!... E de mercado…
o que necessitamos é estourar
um grande
Plano Marcial.
Os ouvintes,
desempregados sistemáticos
desentendiam-no perfeitamente. Eram natas, a fina-flor do ensino
superior.
- Oh!
Há quase cinquenta anos que estamos com esse plano de emergência.
- Carecemos da informação, da refracção da perda
de intensidade da luz
do backbone.
- Impaciento-me com semelhanças,
inverosimilhanças.
- O plano
quinquenal?!
- Sim!
Esse mesmo,
o das quintas.
- Não!
O trienal.
- A caubóiada do ir por um plano inclinado.
Um participativo escuda-se no prudente
silêncio. Receia
falar porque
lhe podem atirar
o primeiro pedregulho
da incompetência, ou uma bala perdida. Os convivas
atiçam-no, então descongestiona a perda de coragem da garganta, refina o espírito,
evidencia-se e reprova a turma do deixa-disso:
- Os Jingola querem rever
os estatutos da fome.
Os políticos falam bwé, muitos comícios,
muitos debates,
chuvas de palavras,
seca alimentar.
Fome canina
de vento desabrigado. A fome
supera os caudais oceânicos. Os lucros dos bancos
sobem, a fome também.
Palavras… dar
o dito pelo não dito e os reditos maldosos
aterram-se, vítimas da sua maldade. Políticos que
sorteiam justificação, todos são deuses, daqueles inacessíveis.
O contumaz orador sentiu a boca
colar-se. Era um
esforço desabituado, contaminado pelo pó dos casebres
sistematicamente demolidos, tempestivo que
inundava a cavidade bucal.
Solicitou água mineral,
só havia desmineralizada devido às constantes
fervuras. A garganta
arranhava-se, entupia-se, congestionava-se. Na aflição
qualquer água
serve. Fez um sorvedouro,
uma goleada de goles.
Com a garganta
reparada desfilou a temática.
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