quarta-feira, 4 de abril de 2012

O CAVALEIRO DO REINO PETROLÍFERO (03)


Reino Jingola, algures no Golfo da Guiné.
Fazemos tudo por tudo para mantermos as nossas populações, o nosso povo, sempre infelizes. E têm motivos para isso. Finalmente, crianças e adultos nas ruas procuram comida, como cães vadios, abandonados. Isto não se chama Pátria. É uma coisa ignóbil que inventaram, para nos continuarem a escravizar, neocolonizar… desde a independência.
Com os mesmos revolucionários no poder quase há cinquenta anos, nada de bom nos espera. E com uma imensidão de ministros, vice-ministros, vice-governadores etc, etc, só aqui existe um esbanjamento de dinheiro que afunda a poupança. Isso de austeridade, de sacrifícios é só para os Jingola, para os Politburo não.
Enfiando doses cavalares de futebol e jornais desportivos, os portugueses retornam à antiga alienação da população angolana. Enquanto a Igreja Paulista retoma, reforça o seu hino… impõem uma cópia da população portuguesa, outro Portugal.
Já aprontou a linha de montagem, agora o reino Jingola está apto para o fabrico em série de Somálias, Darfures, Zimbabués, Guinés-Bissaus, Madagáscares, etc.
Os mosqueteiros na grande cavalariça aguardam que o mensageiro chegue com reforços. Os republicanos vão avançando, entrevistam um aldeão:
- Saíram daqui à força?
- Sim.
- Vão para onde?
- Não sabemos. Tiraram-nos tudo. A terra, o que plantámos, os nossos cavalos. Estamos na miséria… nem debaixo das árvores podemos dormir porque as arrancaram para construírem os condomínios deles.
- O rei sabe disso?
- Sabe. São os mosqueteiros dele que fazem isso. Não deixam ninguém passar.
Os mosqueteiros decidem enviar outro mensageiro. Quando atravessa o Morro da Maianga a população mostra-se muito apreensiva.
- Outro?! Desta vez a coisa é mesmo grave.
- Devem ter roubado muito.
- É melhor prepararmo-nos para fugir.
- Para onde? Eles estão em todo o lado.
- Vamos pedir ajuda aos republicanos.
- Isso não, morreremos todos.
- Se passar outro mensageiro, é porque vem aí outra grande guerra.
O outro mensageiro entra no Palácio, exactamente como o anterior.
- Mensagem para o rei!
O chefe da guarda coça a cabeça. Olha para o céu sem estrelas.
- Vou pedir a demissão ao rei. Deixo o meu lugar a um maluco qualquer.
Olha para o novo mensageiro. Não sabe o que fazer, exclama:
- Porra! Não sabia que os republicanos são todos malucos.
De repente o seu cérebro pela primeira vês na vida começa a trabalhar. Chama um guarda.
- Tu aí! Vai às cavalariças reais e traz o mosqueteiro de serviço.
O mosqueteiro de serviço chega, conduzem-no à masmorra. Olha para o preso, admira-se, desconfia-se.
- Mas, é o quê… tá a fazer quê?!
- Trago uma mensagem para o rei, mas prenderam-me.
- Traição! Traição!
O chefe da guarda entra aflito.
- Quem é o traidor?.. prendo-os todos!
Interroga o prisioneiro.
- Não sabes que o rei está fora? Como é que trazes uma mensagem para o rei, se ele não está aqui?
- Chefe! Só me ensinaram a dizer assim: mensagem para o rei. Se ele está ou não, nada tenho a ver com isso. Temos que enviar reforços para as novas cavalariças… os republicanos estão lá.
- E só agora é que me dizes isso?!
O preso silenciou-se, pensou para si.
– É… é só parvalhões, não admira que o rei se eternize no poder.
O chefe da guarda, zombeteiro, rodeador, olhando com desprezo constante o semelhante, enchendo-se de ares que é a personagem mais importante do reino, ordena glacial:
- Enviem um batedor pelas ruas, quero dizer, um arauto a proclamar que a guarda do rei vai passar. Quem nelas for vadiado, pela espada será passado.
- Não é preciso, eles já sabem. – Galhofou um guarda.
O arauto adiantou-se, já prossegue no Morro da Maianga. Grita a plenos pulmões.
- Fora da rua! Fora da rua! Comboio real vai passar!
Disfarçados, meio-escondidos no que resta das suas casas por falta de créditos bancários para manutenção e aquisição, ninguém ousa pôr a cabeça de fora. A guarda do rei é famosa, porque por onde passa deixa estragos. Ouve-se o estrondo de muitas ferraduras de cavalos. Tudo treme. As crianças aterrorizadas berram. Seguem-se os comentários da população economicamente desactiva.
- Parece um tremor de terra a lembrar o coche das maratonas, das passeatas nas ruas.
- Vai haver muitos mortos.
- Devíamos revoltar-nos.
- Não dá. Estamos a morrer à fome e quando apanhamos alguma coisa para comer, faltam-nos as forças. Os dentes esvaem-se.
- Vai ser uma grande chacina.
- Lá se vão mais vidas de jornalistas e políticos da oposição.
- Vejam se falta alguém em casa.
- Ainda não mataram ninguém?
- Não! Hoje somos sortudos!
- Vou mas é mudar de rua. Belita!.. arruma a nossa miséria, vamos para casa da mamã.
- Meu bebé ficámos outra vez sem loiça. O barulho que fazem quando passam, parte-se tudo.
- Deviam construir uma rua só para eles.
Normalmente nestas andanças sofredoras há sempre um número exagerado de humanos frustrados que disputam o dia-a-dia alcoólico. Ao longe ouve-se a voz de um deles, talvez um verdadeiro soldado desconhecido.
- Deixem passar… acabar… os mosquitos do rei.
O chefe ouve, e claro não pode deixar tal agravo consentido e pergunta aos guardas:
- Quem é que nos chamou de mosquitos?
- Deve ser um estrangeiro, chefe.
Nas futuras cavalariças reais, o paladino Divad sempre com as mãos livres, prossegue com êxito a sua actividade. Prometeu que embargaria a construção, sem providência cautelar, devido ao cheiro cavalar. Precisa, que isso desambientará, afugentará o raro oxigénio existente, no que já não merece chamar-se meio ambiente. Alguém corre e interrompe a prelecção da arte, da voluntária jurisdição.
- Paladino Divad, vem aí um poderoso exército. Acho que toda a guarda do reino uniu forças!
Os olhares confirmam. Um pelotão e tal com alabardeiros, besteiros, espingardeiros, e alguns da guarda secreta sinfónica cercam os republicanos. Sem ordens nasce a desordem do soldado. No reino, soldado da guarda é general.
- Atenção formar! Preparar! Ao ataque!!!
O chefe adjunto da guarda, para evitar corte marcial pede reconfirmação.
- Damos cabo deles todos?
- Não! Prendam-nos!
- Chefe não se esqueça, quando saímos é para matar. Os homens frustram-se, depois à noite embebedam-se, e nascem arruaças.
- Ok! Grande surra neles, mas não matem ninguém… por enquanto.
Devido à intervenção do adjunto a ordem final distorceu-se. O chefe recoloca o comboio no lugar.
- Em nome do rei! Ao ataque, e em força meus bravos!!!
Foi uma memorável sessão parlamentar de pancadaria. Até deu para alguns praticantes de artes marciais experimentarem alguns golpes. O chefe executa um escape.
- Parem com essa merda porra!!! Prendam-nos e depois aterrem-nos nas masmorras. Tragam-me o Divad.
O preso é imediatamente presente conforme ordenado.
- Ó paladino Divad das mãos livres. Desta escapas, da próxima ficas com as mãos presas.
- É só isso que fazem. Apenas queremos a república no reino. Acabar com a miséria das populações.
- Belas palavras, disso não passam. Maldito conspirador republicano. Se não fosse o rei, acabaria com as tuas mãos livres. Guardas, ponham-no no seu lugar!
- Chefe, está aqui um da rádio dos republicanos. Não lhe cocei porque acredito no Evangelho. Posso chamar um colega das Testemunhas de Jeová. Gostam-se muito…
… Não. Levem-no com os outros. Não quero problemas com o Cardeal. Ele e a rainha são muito amigos.
Quando a princesa auscultou finalmente a prisão de muitos republicanos, correu com o coração na mão para a rainha.
- Minha mãe… suplico-te. Ajuda-me a tirar esses homens da prisão. Porquê, só os que lutam pela liberdade são presos, e os ditadores não!?
- Se o teu pai sabe que simpatizas com os republicanos, rua-nos do palácio. E como é… como vai ser… quem os tira das masmorras?
A princesa enche-se de ar malicioso, circunflui-se, especa e disparata vitoriosa. 
- O Epok!

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