Reino Jingola, algures no Golfo da Guiné.
Fazemos tudo por tudo para mantermos as nossas
populações, o nosso povo, sempre infelizes. E têm motivos para isso.
Finalmente, crianças e adultos nas ruas procuram comida, como cães vadios,
abandonados. Isto não se chama Pátria. É uma coisa ignóbil que inventaram, para
nos continuarem a escravizar, neocolonizar… desde a independência.
Com os mesmos revolucionários no poder quase há
cinquenta anos, nada de bom nos espera. E com uma imensidão de ministros,
vice-ministros, vice-governadores etc, etc, só aqui existe um esbanjamento de
dinheiro que afunda a poupança. Isso de austeridade, de sacrifícios é só para
os Jingola, para os Politburo não.
Enfiando doses
cavalares de futebol e jornais desportivos, os portugueses retornam à antiga
alienação da população angolana. Enquanto a Igreja Paulista retoma, reforça o
seu hino… impõem uma cópia da população portuguesa, outro Portugal.
Já aprontou a linha de montagem, agora o reino Jingola está apto para o
fabrico em série de Somálias, Darfures, Zimbabués, Guinés-Bissaus,
Madagáscares, etc.
Os mosqueteiros na grande cavalariça
aguardam que o mensageiro chegue com reforços.
Os republicanos vão avançando,
entrevistam um aldeão:
- Saíram daqui à força?
- Sim.
- Vão para onde?
- Não sabemos. Tiraram-nos tudo.
A terra, o que plantámos, os nossos
cavalos. Estamos na miséria… nem debaixo
das árvores podemos dormir porque as arrancaram para construírem os condomínios
deles.
- O rei sabe disso?
- Sabe. São os mosqueteiros dele que
fazem isso. Não deixam ninguém passar.
Os mosqueteiros
decidem enviar outro
mensageiro. Quando
atravessa o Morro da Maianga a população
mostra-se muito apreensiva.
- Outro?! Desta vez a coisa é mesmo grave.
- Devem ter roubado muito.
- É melhor prepararmo-nos para fugir.
- Para
onde? Eles
estão em todo
o lado.
- Vamos pedir ajuda aos
republicanos.
- Isso não, morreremos todos.
- Se passar
outro mensageiro,
é porque vem aí
outra grande guerra.
O outro mensageiro
entra no Palácio, exactamente como o anterior.
- Mensagem para o rei!
O chefe
da guarda coça
a cabeça. Olha
para o céu sem estrelas.
- Vou pedir a demissão ao rei.
Deixo o meu lugar
a um maluco qualquer.
Olha para
o novo mensageiro.
Não sabe o que
fazer, exclama:
- Porra! Não
sabia que os republicanos são todos malucos.
De repente o seu cérebro pela primeira vês na vida começa a trabalhar. Chama um guarda.
- Tu aí! Vai às cavalariças
reais e traz o mosqueteiro de serviço.
O mosqueteiro de
serviço chega, conduzem-no à masmorra. Olha para o preso,
admira-se, desconfia-se.
- Mas, é o quê… tá a fazer quê?!
- Trago uma mensagem
para o rei, mas prenderam-me.
- Traição! Traição!
O chefe
da guarda entra aflito.
- Quem é o traidor?.. prendo-os todos!
Interroga o prisioneiro.
- Não sabes que o
rei está fora?
Como é que
trazes uma mensagem para
o rei, se ele
não está aqui?
- Chefe!
Só me
ensinaram a dizer assim:
mensagem para
o rei. Se ele
está ou não,
nada tenho a ver
com isso.
Temos que enviar
reforços para
as novas cavalariças… os republicanos
estão lá.
- E só agora é que me dizes
isso?!
O preso
silenciou-se, pensou para si.
– É… é só
parvalhões, não admira que o rei se eternize no poder.
O chefe da guarda,
zombeteiro, rodeador, olhando com desprezo constante o semelhante, enchendo-se
de ares que é a personagem mais importante do reino, ordena glacial:
- Enviem um batedor
pelas ruas, quero dizer, um arauto a proclamar que a guarda
do rei vai passar.
Quem nelas for vadiado, pela espada será
passado.
- Não é preciso, eles já sabem.
– Galhofou um guarda.
O arauto
adiantou-se, já prossegue no Morro da Maianga. Grita
a plenos pulmões.
- Fora da rua! Fora
da rua! Comboio real vai passar!
Disfarçados,
meio-escondidos no que resta das suas casas por falta de créditos bancários
para manutenção e aquisição, ninguém ousa pôr a cabeça
de fora. A guarda
do rei é famosa, porque por onde passa
deixa estragos. Ouve-se o estrondo de muitas ferraduras
de cavalos. Tudo
treme. As crianças aterrorizadas berram.
Seguem-se os comentários da população
economicamente desactiva.
- Parece um tremor de terra a lembrar o coche das maratonas, das passeatas nas ruas.
- Vai haver
muitos mortos.
- Devíamos
revoltar-nos.
- Não dá. Estamos a morrer à fome e quando apanhamos alguma coisa
para comer, faltam-nos as
forças. Os dentes
esvaem-se.
- Vai ser
uma grande chacina.
- Lá se vão mais
vidas de jornalistas e políticos da oposição.
- Vejam se falta alguém em casa.
- Ainda não
mataram ninguém?
- Não! Hoje somos sortudos!
- Vou mas é mudar de rua. Belita!.. arruma a nossa
miséria, vamos para
casa da mamã.
- Meu bebé ficámos outra
vez sem
loiça. O barulho que
fazem quando passam, parte-se tudo.
- Deviam construir uma rua só para eles.
Normalmente nestas
andanças sofredoras há sempre um número exagerado de humanos frustrados que
disputam o dia-a-dia alcoólico. Ao longe
ouve-se a voz de um deles, talvez um
verdadeiro soldado desconhecido.
- Deixem passar…
acabar… os mosquitos do rei.
O chefe
ouve, e claro não pode deixar tal agravo consentido e pergunta aos guardas:
- Quem é que nos chamou de mosquitos?
- Deve ser um estrangeiro,
chefe.
Nas futuras cavalariças reais,
o paladino Divad sempre com as mãos livres, prossegue com êxito a sua actividade. Prometeu que embargaria a construção,
sem providência cautelar, devido ao cheiro cavalar. Precisa, que isso
desambientará, afugentará o raro oxigénio existente, no que já não merece
chamar-se meio ambiente. Alguém corre e interrompe a prelecção da arte, da
voluntária jurisdição.
- Paladino Divad,
vem aí um poderoso
exército. Acho que
toda a guarda
do reino uniu forças!
Os olhares
confirmam. Um pelotão e tal com alabardeiros, besteiros, espingardeiros, e alguns da guarda
secreta sinfónica cercam os republicanos. Sem ordens nasce a desordem do
soldado. No reino, soldado da guarda é general.
- Atenção formar! Preparar! Ao ataque!!!
O chefe
adjunto da guarda, para evitar corte
marcial pede reconfirmação.
- Damos cabo deles todos?
- Não! Prendam-nos!
- Chefe
não se esqueça, quando saímos é para matar. Os homens frustram-se, depois à noite
embebedam-se, e nascem arruaças.
- Ok! Grande surra
neles, mas não matem ninguém… por enquanto.
Devido à intervenção do adjunto
a ordem final distorceu-se. O chefe recoloca o comboio no lugar.
- Em nome do rei!
Ao ataque, e em
força meus
bravos!!!
Foi uma memorável
sessão parlamentar de pancadaria. Até
deu para alguns praticantes de artes marciais
experimentarem alguns golpes. O chefe executa um
escape.
- Parem com essa
merda porra!!! Prendam-nos e depois
aterrem-nos nas masmorras. Tragam-me o Divad.
O preso
é imediatamente presente conforme ordenado.
- Ó paladino Divad
das mãos livres.
Desta escapas, da próxima ficas com as mãos presas.
- É só isso que fazem. Apenas
queremos a república no reino. Acabar com a miséria
das populações.
- Belas palavras,
disso não passam. Maldito conspirador
republicano. Se não fosse o rei,
acabaria com as tuas mãos livres. Guardas, ponham-no no seu lugar!
- Chefe, está aqui um da rádio dos republicanos. Não
lhe cocei porque acredito no Evangelho.
Posso chamar um colega das Testemunhas de Jeová. Gostam-se muito…
… Não. Levem-no com
os outros. Não quero problemas com o Cardeal. Ele e a rainha são muito amigos.
Quando a princesa
auscultou finalmente a prisão de muitos republicanos, correu com o coração na
mão para a rainha.
- Minha mãe… suplico-te. Ajuda-me a tirar
esses homens
da prisão. Porquê, só os que lutam pela liberdade
são presos, e os ditadores não!?
- Se o teu pai sabe que simpatizas com os republicanos, rua-nos do
palácio. E como é… como vai ser… quem os tira das masmorras?
A princesa enche-se
de ar malicioso, circunflui-se, especa e disparata vitoriosa.
- O Epok!
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