terça-feira, 24 de abril de 2012

SONHO DE UMA NOITE TROPICAL (21)



- É devido a isso que dizem que os cavaleiros do feitiço da noite estão sempre a bater-lhes à porta. – Enfeitiçou o Hepatite.
- Quando os loucos governam, a vitória da guerra é incerta. E não convém fingir que apoiam a Igreja. Isso é muito contraproducente. A Igreja tem a paciência milenar de saber esperar e devolver o desprezo, agitar os fiéis lenta e seguramente para atingir os objectivos que lhes são recusados. – Plantou o Poeta.
O Almirante parece que está com problemas num submarino. Fala para estabilizar a profundidade. O Vodka atento recomenda:
- Almirante, aqui não temos profundidade suficiente.
- Está bem Imediato Vodka. Deve ser um problema nos estabilizadores de profundidade. Vejo que já estabilizámos. Vou mandar fazer umas correcções ao leme.
Depois de uns bons tragos de uísque o Almirante e a sua tripulação estavam aptos para enfrentar as profundezas virtuais. Falou para a equipa:
- A Igreja nunca se preocupou com a concorrência das leis do mercado. Existe um só Deus, um só mercado. Assim como existe um só pai, um filho não pode ter dois. A essência da raça humana é monoteísta. Um homem intromete-se, de acordo com as leis da Natureza, na vagina de uma mulher, e nasce a vida, esse monoteísmo. O desvio sexual, o homossexualismo, não faz sentido na criação. Imaginem um mundo regido por homossexuais. É uma pura visão animalesca, apesar que isso existe na Natureza. Mas não pode ser transportado para a raça humana. Seria o seu fim. Acho que eles, os homossexuais, deviam criar uma sociedade secreta.
- Quem os apoia devia ser julgado, porque são contrários à continuação da espécie humana. – Disse o agora Iediato Vodka.
- Porra! Sacanas de merda, não fazem filhos. – Exorcizou o Hepatite.
- São motores fora de borda que fazem os barcos navegar. Fora disso não são prestáveis. – Comerciou o Almirante.

O Presidente está noutra dimensão, não é esta. Mas insiste para que não se esqueçam:
- A Unta exprimiu excelentemente a ideia da necessidade de seguir a orientação do Partido, sem que a mesma se considere um organismo partidário. Essa é a posição correcta. A fuga do campo para a cidade tem de ser evitada. Vou referir-me a uma dessas decisões. Trata-se da transferência da cidade para o campo de todos os desempregados que congestionam os nossos centros urbanos. Quer dizer que uma das decisões tomadas pelo Bureau Político, recentemente, é a transferência imediata de todos os desempregados que residam nas cidades para o campo, para se dedicarem à agricultura. A libertação significará o fim da esperança capitalista da exploração e da dominação. In Agostinho Neto. 2 De Outubro de 1978. Discurso no encerramento da 3ª conferência nacional da Unta.

- Ó Branco anda cá! – Ordenou o Almirante.
Submisso o Branco obedece. O Almirante poisa a mão no seu ombro esquerdo, puxa-o até que o corpo fique bem encostado ao seu. Com o copo na outra mão e com a voz cheia de emoção conta:
- Meus senhores vou contar-lhes uma coisa que não sabem sobre o nosso amigo, este… Branco. Naquela altura estava sem carro e sem dinheiro. A minha filha mais nova tinha seis anos. Estava muito mal com paludismo. Ele ouviu o meu lamento. Ofereceu-se para me apoiar. Estávamos longe do local onde ela se encontrava. Já passava da meia-noite e fomos. Andámos muito. Levámos a menina ao hospital onde foi socorrida. A médica disse que ela estava muito fraca. Precisava de comer. O Branco teve a ideia de irmos ao Ponto Final da Ilha comprar comida, porque era o único local que estava aberto. Regressámos e pusemos a menina a comer. Já ao amanhecer terminámos a nossa odisseia e transportámos o pequeno tesouro para os braços da sua mãe.
Comovido o Almirante começou a chorar. Disse em Kimbundu:
- Muene uabuluile o muenhu ua mona uami. Ele salvou a vida do filho meu.

O Presidente sabia, que seríamos piores que lobos esfaimados:
- Nós fizemos estruturas demasiado pesadas que fazem com que o aparelho governativo, por falta de quadros, não possa marchar convenientemente. Mas, nós temos ainda, a tendência de formar diversos departamentos, muitos departamentos, que depois não podemos preencher que existem simbolicamente, por vezes, apenas com um funcionário e que está ali sem poder realizar qualquer trabalho. Falando, propriamente, dos problemas da juventude, nós todos estamos conscientes de que ela é o futuro. Nós temos de cuidar da nossa juventude. Temos de orientar bem a nossa juventude, educá-la bem. Os fracçcionistas estiveram a desmobilizar a nossa juventude, tornando-a anárquica, desobediente e desorganizada. Ela deixou de ter respeito pelos organismos do Partido. Dificilmente, nós encontramos alunos que sigam o ramo de agricultura, ou que sigam a pecuária. «Temos que guiar-nos, também, pela história. Temos que guiar-nos por aquilo que é realmente nosso, angolano porque o povo é angolano. E se nós não respeitamos as tradições, os costumes, a história do nosso Povo, nós não podemos organizar nada». Absolutamente nada. Aqui foi feita, neste mesmo local, uma conferência, com o camarada Lúcio Lara, em que os estudantes não sabiam cantar o Hino Nacional. O problema do trabalho. Nós, às vezes, temos dificuldades em engajar todos os jovens no trabalho. Não porque não haja trabalho. Aqui há trabalho suficiente para todos os angolanos. Teremos de resolver problemas como o da habitação. Os jovens a uma determinada idade, querem casar. O problema do casamento, por vezes, é complicado porque não há casa, não há habitação. Como resolver, agora, o problema da construção de um lar? As nossas raparigas, uma boa parte nas cidades, o que faz a partir de uma certa idade? Começa a pintar os olhos e a colocar-se à janela a ver se alguém olha para ela. É uma esperança de resolver uma situação. Ora, isto não pode ser. Isto é porque não há respeito pelas jovens. Não há respeito pelo sexo feminino. Consideramos, sempre, que são inferiores. In Agostinho Neto. 2 De Outubro de 1978. Discurso no encerramento da 3ª conferência nacional da Unta.

O Poeta insinua:
- É pá! Somos o povo do bebe e dorme. Bebidos e adormecidos para sempre. As províncias estão pior, não necessitam da mosca do sono.
O Vodka alega:
- Também não alinho assim em extremismos, porque é necessário ver os lados da questão. Se as províncias não funcionam, estão na miséria, é porque o governo não funciona.
- Certo. – Corroborou o Poeta.
O Filósofo pondera:
- Um governo para funcionar necessita de um povo eficiente, exigente. Se isto não acontece então o povo não presta, não é viável. O culpado é o povo e não quem está no poder. Se esse poder não serve, o que está demonstrado, e o povo que o elegeu não consegue demitir esse governo, então o povo que se demita. É um povo falhado. Não são os governos que não prestam. Esses povos é que são imprestáveis. Delenda Carthago.
- Dezembro aproxima-se. As empresas de electricidade e da água desejam a todos os clientes um infeliz Natal e ano-novo sem água e luz. – Ironizou o Hepatite.
Uma moça aí com dezasseis ou dezassete anos está com uma pasta escolar e um livro. Saboreia uma cerveja. O Vodka não perdoa:
- Oh! Elas simulam que vão estudar. Querem é passar o tempo. Qual estudar qual quê!
O Poeta é contundente:
- As coisas mais belas que a Igreja escondeu, e esconde, são, a vagina, o clítoris, e os seios das mulheres. As verdadeiras obras de arte que a Natureza nos concedeu. Chamam a isso os prazeres da carne. Isto significa que temos que amar às escondidas. Estamos proibidos de admirar e amar o que é belo. A beleza da mulher é o centro do Universo. Ela é o anjo, o Deus que nos conduz. Odeiam as mulheres porque estão proibidos de as amar. Haverá neste Universo coisa mais bela que a vagina de uma mulher? Os seus seios não escondem o segredo eterno da vida? Então porque não acabamos com esta hipocrisia, e damos o valor a quem o merece? Proclamo a mulher como a Deusa do Universo. É a religião que devemos seguir. Amar a mulher acima de todas as coisas.

Imagem: educacional.com.br

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