domingo, 29 de abril de 2012

O Cavaleiro do reino petrolífero (09). Reino Jingola, algures no Golfo da Guiné



Estória é a História dos idiotas.
Querem-nos matar a todos?! Então que matem, vá! Desafio de uma luandense perante o surto epidémico de estrangeiros que invade Angola.
O reino Jingola está incrível. Actualmente governar é cometer infindáveis crimes. E tudo está correcto porque houve a tal eleição democrática que tudo legitima. Pobre e triste reino… se ao menos tivesse um cavaleiro que demandasse o Santo Graal.

- Marquesa Sem Planos.
- Meu belo e atraente rei! Continuamos com os mesmos planos a montante e a jusante do sistema.
- Meu belo e atraente rei?! Já desconfiava. Vou manter esta gaja debaixo de olho. – Enciumou-se a Rainha.
- Oh! Meu Deus! Já lhe disse para ser discreta. – Alarmou-se o Rei.
- Marquês do Líquido Negro.
- Meu rei, minha rainha, princesas, cavaleiro Epok, nobres.
- Lá porque está com o líquido negro não exagere. Advertiu o rei.
- Sim meu rei! Até ao final do ano faremos três aumentos de combustíveis. Descobrimos mais três poços produtivos que nos darão aí uns vinte mil barris diários. Já facturámos em Signature Bónus, bónus de assinatura, até ao momento…
- Caramba vai estragar tudo! Os números não são necessários neste momento. Falamos depois pessoalmente.
- Marquês dos Abandonados.
- Excelso rei. A reinserção dos abandonados está abandonada. Ninguém quer ser reinserido.
- Marquês das Más Relações Internacionais.
- Sublime reino, meu rei. A comunidade internacional não gosta de nós. São racistas. Não temos culpa que haja tanto líquido negro e diamantes neste reino paradisíaco. Eles têm é inveja… a alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita, disse Mahatma Gandhi.
- Sim. Mas quando estamos aflitos pedimos-lhes ajuda, como nas epidemias.
- Marquês das Epidemias!
- Magnificente reino endémico meu rei. Tudo o que é epidemia existe neste reino. Não somos os culpados porque foram importadas. Exceptuando as epidemias da peste negra do líquido crude, das pedras brilhantes e da fome, nada mais tenho a dizer.
- Tem a palavra o marquês dos Coches e Liteiras!
- Ilustre rei que o reino deu à luz. Os transportes são a nossa espinha partida, apesar dos coches e liteiras estarem inteiros. Estamos a investir nos coches dos carris de ferro mas ninguém quer trabalhar. Lamentam-se sempre que estão com fome. Vai daí, lembrei-me de contratar trabalhadores da Dinastia Chinesa. São presidiários que vem para aqui degredados cumprir pena. São muito dóceis e não incomodam ninguém. Não são como a nossa ralé que andam sempre tristes. Pelo contrário, os chineses andam sempre sorridentes. Obrigado pela atenção meu rei.
- Marquês das Casas em Ruínas!
- Virtuoso rei. Exceptuando as casas da nobreza já não existem casas em ruínas. Foram todas partidas. À ralé nem um palmo de um casebre. Plano cumprido a cem por cento.
- Digno marquês dos Altos Tribunais!
- A nossa Carta Constitucional é violada permanentemente pelos arautos republicanos e pela peste dos esfomeados. Contudo, estamos à procura dos caminhos da democracia, que são muito difíceis de encontrar. Mas há sempre um Plano C virtuoso porque não é possível a democracia sem tal plano.
O rei pega na sua caneta e cola-a no bolso do casaco. Vai falar:
- Nobres, declaro encerradas as Cortes Reais. Não faltem ao meu jubileu dos trinta e tal anos. Tchau.
- Viva o rei! Viva o rei! Viva o rei! Viva o rei!
- Gostaria de saber quem foi o grande filho da puta que inventou isso das Cortes Reais e da democracia. Porra, já me estava a dar sono. Se apanhasse esses tipos, as piranhas ficariam muito felizes. – Desejou Epok.

CAPÍTULO VI
A GRANDE FARRA

… E imobilizam a terra que nem cultivam nem deixam cultivar, as empreiteiras que seguem se equilibrando no apoio a políticos corruptos em troca de contratos públicos, as famílias da mídia que seguem fielmente as tradições truculentas do Chatô e loteiam o próprio espaço da informação para perpetuar feudos políticos e económicos, as próprias formas clânicas de fazer política, constituem hoje uma superestrutura medieval, mal disfarçada pelos celulares, computadores e carros de luxo que utilizam.
In Capitalismo, novas dinâmicas, outros conceitos. Ladislau Dowbor http://www.dowbor.org

Epok acordou ao mesmo tempo que o Sol. Sentia-se cheio de energia, bem disposto, com grande vontade de resolver qualquer problema que surgisse. No fundo queria apenas ser útil ao seu rei. Preparou-se e pôs-se a caminho. A certa altura aborreceu-se quando se lembrou que patifarias os republicanos lhe fariam hoje. Ah! Ao diabo com eles. Se o rei deixasse as piranhas teriam comida para cem anos. Encontrou-se com três nobres, cumprimentou-os.
- Meus amigos, há muito que não sentia no reino uma manhã como esta!
- É verdade, verdejante, não tens nada que nos inspire?
- Tenho… vamos para os Tonéis dos Vinhos Tintos Reais. Atestaram-se bem com a incorporação, importação do reino Tuga... das minhas vinhas que comprei nas encostas tugas. Vinho tinto Dão Meia Encosta. Na realidade é uma boa encosta.
Chegaram aos tonéis. Pegaram nos cálices, Epok abre a torneira, encosta o cálice no Encosta. Não encosta nada. Abre-a até ao fim, escorre apenas uma gota, depois outra. Vai para outro tonel, a história repete-se. Lembra-se de dar socos na madeira. Recebe sons ocos. Baixa-se e vê um furo grande. Espreita nos outros e vê a mesma coisa. Acabou-se a bela manhã.
- GUARDAS!!! Piranhas!!!
Não se houve voz. Epok desce na direcção da casa da guarda. Escuta roncos. Os guardas dormem abraçados às suas namoradas. Dá pontapés num. Este levanta-se a fazer acrobacias para se manter de pé. Os outros imitam-no. Pelo cheiro vê-se que estão embriagados.
- Mas… que grandes filhos da puta!
As jovens aproveitam a deixa, pegam na roupa, fogem e vestem-se aos tropeções. Epok interroga-os:
- Quem roubou o vinho do rei?!
- Foram… as manguei… mangas.
- Os mangas?!!
- Eram muitos… muitas mangas.
Epok viu que não dava manter diálogo com ébrios. Os vapores no cérebro fazem com que os neurónios pareçam um baralho de cartas desordenado. Milhares de litros de vinho não podiam voar. Lembrou-se de ir lá fora. Foi para a ponte levadiça. Viu a rainha que passeava e como quem não quer a coisa, aproximou-se assim que a modos de acidente.
- Minha bela rainha, que também bela manhã!
- Hum… Epok, não sente o cheiro horrível de peixe e de vinho?
- Sinto rainha minha.
- Sabe a sua origem?
- Estou a investigar.
- Acompanho-o.
Na ponte levadiça, o bom vírus vinícola Dão Meia Encosta imobilizou saudavelmente os guardas que pareciam ter um sono etéreo e eterno. Epok teve que manobrar sozinho. Atravessou a ponte na companhia da rainha, que estava mais bela que a miséria dos seus súbditos, sempre sem manhã e sem amanhã. O verde relvado rejuvenescido pelos raios solares estendia-se pela frente, ao encontro dos vários girassóis espalhados que olhavam para o sol. O cheiro a peixe e a vinho tornou-se intenso, insuportável. A rainha socorreu-se do seu lenço perfumado pelos astronómicos preços dos melhores perfumes franceses e encostou-o nas narinas. Iniciavam a descida de uma encosta, quando viram o que parecia ser uma gigantesca floresta de cadáveres humanos. Havia-os espalhados, naufragados por todo o lado. Não se sabia onde começavam e acabavam. Mulheres e homens nus abraçados. Restos de peixe cobriam o solo que mal se via. Recipientes cheios de vinho e outros vazios acompanhavam os restos das piranhas. Algumas crianças corriam em desordem, sem destino. Bebés choravam na tentativa de chupar o leite das mamas das mamãs. Os infelizes eram desprezados, afastados à força. Uma mamã esforçou-se e conseguiu frasear de um fôlego:
- Não chateia pá! Hoje é feriado, a mamã não está de serviço. Procura outra por aí.
Epok comenta para a rainha.
- Parece um ritual pagão.
- Nobre Epok. Quantas mais demoníacas eliminamos, mais elas se multiplicam.
Epok dá um bico num corpo masculino. Este descola-se da senhora que instintivamente procura o seu sexo com a mão. Ela desconsola-se.
- Não saias agora… estava tão doce.
Epok enerva-se, pergunta ao macho:
- Malditos pagãos! Não tinham outro sítio para ir?!
- Disseram-nos que aqui é um bom local para praticar nudismo.
- Quem roubou as piranhas?
- O fosso secou e como estavam a morrer… a sofrer… aproveitámos.
- Vão todos para as piranhas.
- Ah! Ah! Ah! Já estamos com elas.
- Estão muito satisfeitos!
- Queremos beber mais água do fosso do Dão tinto.
- Todos a andarem daqui!
- Não! Só estamos a tomar banhos de sol!


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