quinta-feira, 26 de abril de 2012

BWALA PRESS. República de Luanda



O petróleo faz a felicidade de alguns, e a desgraça de milhões.
Mas afinal quando é que acabam as aulas dos discursos políticos académicos, e passamos às aulas práticas?
06.06 horas da manhã. Lá vai a escolta das sirenes, a anunciar que o neocolonialismo já chegou e que definitivamente se instalou.
A sereia
Recentemente estive no Mussulu a admirar o que resta desta ilha, aliás como de tudo o mais, só restam cacos, pois onde a corrupção se instala: «há muito, muito tempo, era uma vez. » Um ilhéu agachado procurava qualquer coisa, a minha cunhada fazia-me companhia e fez-lhe lembrar um acontecimento passado há alguns meses: «Há pouco tempo, andava aí junto aos charcos de água um nosso vizinho a apanhar lenha seca dos mangais. De repente apareceu-lhe uma sereia, que lhe perguntou muito chateada: porque é que tu me estás a estragar a minha casa? Ele largou tudo, fugiu encharcado de terror e passados poucos dias morreu.» «Mana, isso é mesmo verdade?!» «É sim cunhado, é mesmo verdade!»
A persistente informação leninista
Às 12.30 horas oiço a abertura, de vez em quando para me rir um bocado, do noticiário da LAC. Às 13.00 horas oiço também na RNA, só os títulos, e também me rio um bom bocado. Depois, dou uma vista de olhos pelo Facebook nos seguidores da escolástica anterior, e confesso que me sinto, sou o cidadão mais bem desinformado de Luanda. Nos tempos áureos da ditadura portuguesa, a outra do Salazar, porque a actual nem vale a pena, parece que é bem pior, a Gulbenkian criou, e levava as suas bibliotecas itinerantes ao domicílio, onde lhe dou graças a Deus, pois foi assim que aprendi o que é uma ditadura, e como me defender dela. Por aqui, a única biblioteca itinerante domiciliária é a poesia das maratonas, por sinal muito cultivada e incentivada por poetas, escritores, políticos, jornalistas, etc. Fazem muito bem em promover este insigne acto cultural, o mais elevado da nossa/vossa cultura, porque alguém se lembrou da sua criação como um objecto de cultura, intrínseco das raízes do povo angolano. Porque na ausência do livro… beber é ler.
A miséria combate-se com violência, e isso enche de contentamento a corrupção.
E onde há muita corrupção há muita miséria.
Mas, porque só os mwangolés estão ilegais em Angola e os estrangeiros legais? Porquê só perseguem os pobres e indefesos e os corruptos nacionais e estrangeiros não? Acham que isto assim vai acabar bem? Claro que não, mas se acham assim, estão errados. Vão nas traseiras dos prédios e vejam as ilegalidades, a usurpação por estrangeiros que até montam oficinas e estabelecimentos de fachada para lavagem de dinheiro. Há conluio, não é?!
Hotel Katyavala
No Hotel Katyavala, agora chamado de Hotel Fantasma porque os clientes fugiram aterrorizados, nas traseiras da Pomobel ao largo Zé Pirão, do general Ledy, os chineses ligaram a canalização da água ao esgoto, não pode?!, pode sim, garantiu a nossa fonte a este BP, e que não é a primeira vez, já o fizeram noutro, (ou noutros?), local. Então, o Hotel Katyavala está em ruínas, passados mais ou menos três anos, que é o prazo, o atraso de vida das obras chinesas. Quem mora na área diz que já partiram as paredes algumas dez vezes. E que agora fazem-no, os chineses, de borla, como indemnização, mas os chineses facturam de outra maneira, serram ferros e martelam em chapas todos os demoníacos dias incluindo sábados e domingos, infernizando, poluindo a vida dos mwangolés, porque para isso têm salvo-condutos. As máfias chinesas também já neocolonizam Angola. Se ao menos tivéssemos um Governo nacionalista. O vulcão sempre acaba por entrar em erupção.
Os gloriosos fiscais do GPL
Neste momento, 23 de Abril, 14.24 horas, seis fiscais do GPL – Ingombota, saltaram de uma carrinha e espoliaram tudo o que puderam dos pobres e honestos vendedores de rua. Isto passou-se quase em frente à Angop. Para justificarem os salários que não lhes pagam, os fiscais deveriam espoliar, saltar para cima da corrupção. Entretanto, o exército de desempregados aumenta, e os assaltos e as mortes também, até que nos danemos, todos nos danifiquemos. E a Polícia não acaba com os bandidos, combate-os. Quanto mais desemprego, e emprego só para estrangeiros, que até já nos garimpam a água, mais miséria, mais violência, mais assaltos, mais mobutismo. Aos nossos ícones analistas/cientistas, agora chamados de cientistas sociais, que batem na tecla já tão cheia de ferrugem: a Polícia combate, não acaba com a criminalidade. Quanto mais desemprego, mais miséria, mais criminalidade, e a Polícia não consegue conter a gigantesca onda de esfomeados.
Quanta mais violência e repressão, mais violenta também será a queda do repressor.
Até a água nos garimpam
Luanda. Segundo o semanário O Independente, de 21 de Abril, cidadãos portugueses comandam o garimpo da água no bairro Benfica. Trata-se de uma rede organizada que vende cinquenta cisternas de água diariamente.
A Escola 8
Luanda. Segundo a Rádio Ecclesia, 20 de Abril, a Escola 8 situada em frente ao prédio da ESCOM no Bairro do Cruzeiro, há pouco tempo reconstruída, mais uma escola foi encerrada e os seus alunos ficaram sem aulas. A desculpa para o encerramento é a necessidade de obras de melhoramento.
Pergunta-se: mais um banco? E os alunos? Espera-os o futuro do cangaço e o lugar-comum de que a Polícia não faz nada para parar a bandidagem? Angola já está de facto e de jure propriedade do imperialismo?
Se o capitalismo é selvagem, então o empresário também é selvagem?
Está demais, o feitiço
Luanda. Uma mana confidencia na outra: isto está demais, anda tudo no feitiço, todos querem ser ricos. Tem que se ter muito cuidado por onde se anda, porque a pessoa pode ser apanhada para lhe roubarem o coração e outros órgãos para fazer feitiço
O feitiço dos malianos
Os bandidos assaltaram a loja dos malianos, eles fizeram-lhes feitiço e depois uns bandidos morreram e os outros, as caras transformaram-se em porcos. Um observador confidenciou à nossa reportagem que há muitas pessoas transformadas em porcos.
Deixa arder
Luanda, 19 de Abril. Três casas arderam completamente no município do Sambizanga, depois de várias tentativas de chamar pelo telefone os bombeiros, ninguém atendeu. In Rádio Ecclesia.
Aqui, parece-me, a situação é muito simples. Como os bombeiros não atenderam as diversas chamadas de socorro, então eles são os responsáveis pelos prejuízos. Mas que triste conjuntura esta, onde nem os bombeiros funcionam, nada funciona, excepto o bombear do petróleo para os neocolonialistas.
Na maternidade Lucrécia Paim
Luanda, 15 de Abril, pouco depois do raiar da manhã.
O senhor chega na maternidade Lucrécia Paim já bem atestado de copos. Quer saber se a sua esposa já deu à luz. Pergunta aos seguranças mas estes não lhe ligam, pergunta mais naquela enfermeira, e mais aqui e ali, mas ninguém lhe responde, porquê?! Não, não é por estar com os copos, até porque essa coisa é muito corriqueira por aqui. Anormal, parece, é não estar bêbado. Para isso bastam as maratonas da promoção alcoólica que o nosso Politburo faz ao seu povo, muito em especial isso de que ainda chamam de juventude, é melhor mudaram-lhe o nome para finados, bom, o nosso mwangolé não tem dinheiro para entregar nessa gente da maternidade, e por isso ninguém lhe liga. Assim, decidem como habitualmente abandonarem a parturiente à sua sorte? Então, o homem enche os pulmões ao máximo, de ar, claro, porque de álcool é desnecessário, e grita o mais potente que até hoje conseguiu: «O Samakuva vai ganhar as eleições e todos os do MPLA vão ser cozinhados!!!» Uma grávida, há muito tempo, quase quarenta anos, infestada do sofrimento da miséria, à espera que lhe atendam em vão, a gemer, abandonada, ainda consegue rebater-lhe: «O José Eduardo dos Santos já ganhou!!!» Mas, como é que ela sabe?!


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