quinta-feira, 12 de abril de 2012

SONHO DE UMA NOITE TROPICAL (19)


- Porra! Vou deixar de beber. – Amedrontou-se o Hepatite.
O Almirante aconselha:
- Nunca serão ninguém se não admirarem, acompanharem e amarem o crescimento de uma planta. A vida sem o verde da Natureza não tem sentido. Já que não nos amamos como seres humanos, então que amemos a Natureza. Esse é o nosso destino. Ah! E não se esqueçam! Existe um país no mundo que garante água e luz durante o Natal e ano-novo… na cidade capital.
O Poeta e a Liberdade fazem coro:
Vitória do amor/ Vitória do amor/ do glorioso amor/ Os vossos desejos masculinos/ jamais entenderão/ o segredo, o enigma/ do que se passa/ no centro do Universo/ um pouco abaixo do nosso umbigo/ Basta um sorriso nosso/ e nações são derrotadas/ no centro das nossas pernas.
O Almirante responde enigmático:
- Não escreverias tanto sobre a solidão se dela soubesses extrair o máximo. Albert Camus (1913-1960)
- O máximo de petróleo e diamantes. Isso é propaganda. – Desafiou o Poeta.
- Propaganda? A TV popular publica, que não vejo há muitos anos, porque não quero ficar demente, e a nacional, estão piores que no tempo da propaganda marxista-leninista. Como se não bastasse, vieram mais umas dezenas de propagandas que nos atiram para um hospital de malucos, passe a expressão. O motivo é que pretendem lavar o nosso cérebro com maus produtos de limpeza importados. No fundo é sempre o mesmo. Repetem-se utilizando outras palavras. São a nossa TV e rádio Norte Coreanas.
O Poeta afia o espírito:
- Quanto mais oiço a propaganda das igrejas, mais amo Voltaire. Essas igrejas, essas máquinas do neoliberalismo capitalista da economia moderna. Esse maná prometido e abandonado ao maná de uma igreja. Deus não promete nenhum maná. E nenhum ser humano está autorizado a falar em seu nome. Eu testemunho isso.
- Tu és Deus?!
- Qualquer um de nós o é, se amar a Natureza, e tudo o que nela vive. Todos os dias a ouvirem, em nome de Jesus Cristo, como se fosse uma marca de cerveja. Só falta isso. Meu Deus! Onde chegou a religião. Ah! Se ao menos Voltaire fosse vivo. Não sei como os bispos dessas falsas igrejas se sentem felizes, a mentirem aos seus alunos.
- É a vida do negócio, e aí vale tudo. – Garantiu o Almirante.
O Poeta vai até às nuvens:
- Como o céu é infinito nunca saberei o lugar onde ficarei. Talvez numa estrela a triliões de anos-luz de distância. Prefiro ficar aí onde nenhum ser humano me encontre. Nunca entendi porque é que Deus tem muitas semelhanças com os seres humanos terrenos, sendo o Universo infinito. É a hipocrisia insustentável.
O Vodka entra no debate:
- É aterrador, horrível, a hipocrisia do ser humano. Não existe pandemia que se lhe compare. A ONU devia fazer um combate, denunciar a nível mundial. Creio que é pior que a SIDA. E a economia não funciona por causa disso.
O Filósofo está atento:
- Quando a economia não funciona, significa que os ricos querem aumentar os seus rendimentos, querem mais dinheiro. Aqui entra a fórmula do Robin dos Bosques ao contrário. Roubar aos pobres para dar aos ricos. Os pobres financiam sempre os ricos, em troca não obtêm dividendos. O que ganham é a subida dos preços. Os ricos não querem perder nada. A sua fortuna sobe, a do pobre baixa. É isto que se chama civilização moderna. Lenine serviu-se de Marx, moldou-o e chamou-lhe marxismo-leninismo. Os regimes ocidentais chamam-lhe democracia, que é a melhor coisa que existe no mundo, dizem. No tempo do imperialismo da URSS, havia-o de facto, existiam dois imperialismos. O imperialismo ocidental perguntava ao outro, a qual se referiam. Eles não sabiam responder. Diziam que o imperialismo comandado pela ex./URSS era o imperialismo da liberdade, o outro era o opressor. Era o imperialismo da liberdade de criar pátrias de bordéis. Ainda hoje sofremos as consequências. Que o diga a Caribenha… fizeram-lhe operação para não fazer filhos, para fazer sexo à vontade. Delenda Carthago.
Ninguém quer saber da barulheira infernal. Faz parte do ambiente.

O Presidente consegue falar:
- Em Angola, por exemplo, 85% da população vive no campo e é camponesa. Se desprezássemos esta realidade, cometeríamos um grave erro. Põe-se agora o problema de saber, para garantir o triunfo da Revolução e após a libertação política, quem deverá dirigir o País, para extinguir para sempre a exploração do homem pelo homem. Pensamos que não necessitamos de passar pelo capitalismo nacional. Não pretendemos refazer, em Angola, uma classe exploradora qualquer, nacional ou estrangeira. Porque, qualquer explorador é explorador, esta é a sua característica principal. Não importa a cor, ou a sua nacionalidade. A nossa Revolução é dirigida ao bem-estar da pessoa humana. In Agostinho Neto. 20 De Janeiro de 1978. Discurso na Universidade de Ibadan, Nigéria

O Hepatite está aflito:
- Porra! Consigo ouvir o barulho da cabeça de uma pessoa quando está a pensar.
- Isso é comunismo primitivo. – Deduziu o Branco.
- Comunismo primitivo não é assim. É quando alguém estraga o contentor do lixo de um prédio, os moradores são obrigados a pagá-lo. – Esclareceu o Vodka.
O Hepatite continua aflito:
- Vou perdendo a noção de que sou um ser humano. Por vezes sinto que não sei quem sou. Creio que sou apenas um escravo ao serviço dos senhores que dominam o mundo. Quando o nosso grande chefe apoiar os escritores, teremos finalmente a verdadeira paz.
O Poeta volta com o tema da hipocrisia:
- A hipocrisia é pior que os ratos. Rói a humanidade. Destrói-a. E batemos palmas. Que civilização é esta? Somos seres humanos? Não creio. Não conheço nenhum ser humano que não seja hipócrita. O mais difícil na nossa vida é encontrar o caminho. O caminho da verdade. No início quando o encontramos, estamos no caminho de Deus. Antes disso, Ele tem o cuidado de nos dizer: Vou-te mostrar tudo, vais saber tudo. Saberás tudo. Aqui estamos no caminho da iniciação.
O Almirante espalha:
- Não podemos viver a fingir que somos democratas. Se o eleito em quem votámos não cumprir o que prometeu durante o seu mandato deve ser julgado, condenado. Não é possível viver na minha casa com democracia, enquanto o vizinho do prédio vive numa ditadura infernal.
O Vodka fala dos prédios:
- Viver num prédio é impossível. Onde estou ainda a viver limpamos as fossas da rua todas as semanas, chamamos a atenção, fazem pior, de propósito. Mexem nos fios da electricidade, várias vezes escapámos à justa de o prédio incendiar. A água cai dos tectos na maioria das vezes por pura maldade. Quem me disse foi uma vizinha. O barulho infernal que não nos deixa dormir, descansar. Camisinhas das relações sexuais caiem nas varandas. Portanto é impossível viver num prédio.
- O poder popular ainda não acabou. – Lembrou o Branco.
- Sim. A nova Torre de Babel subiu, está mais alta. – Esclareceu o Poeta.
- É necessária para fortalecer a renovação da nova colonização. – Afirmou o Vodka.
- Acho que vamos construir uma grande torre etílica, com canalizações para as nossas casas. – Disse contente o Branco.
- Isso, isso. Grande ideia. Chamamos os americanos para nos ajudarem. – Apoiou o Hepatite.
- Quando os americanos forem corridos do Iraque, qual será o próximo país? – Perguntou o Almirante.
- O Kuwait, a Arábia Saudita, o Afeganistão e a Venezuela. – Respondeu o Hepatite.
- Mereces um uísque.
- Venha ele, de preferência imperialista.
- Entre o imperialismo Russo-Cubano e o actual não há diferença nenhuma. Não temos informação… não temos educação. – Disse o Poeta.
- No anterior também não tínhamos. – Afirmou o Branco.
- Mas não passávamos fome. – Lembrou o Poeta.
- Graças a Deus.

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