segunda-feira, 23 de abril de 2012

O CAVALEIRO DO REINO PETROLÍFERO (08). Reino Jingola, algures no Golfo da Guiné.



Por causa do direito de sucessão ao trono Jingola, pretexta-se outro fraccionismo? Com o reino fatalmente nas mãos de uma família, as coisas vão ficar muito complicadas. Será a sucessão à Rei Salomão que liquidou os opositores?

Ainda não conseguimos desenvolver o turismo. Apesar dos locais serem obras-primas da natureza, o que temos feito até agora foi praticamente reconstruir os hotéis que existiam. Foram entregues a rapinadores que praticam preços que só uma minoria suporta… quer dizer que investimos para as minorias. A única indústria que funciona é o líquido negro. Chega e sobra-nos muito bem. Além das pedras filosofais que funcionam mais ou menos não necessitamos de mais nada.
A nossa justiça funciona muito lentamente. Quero dizer que os magistrados andam a pé. Isto é para evitar que a nossa justiça corra. A juventude tem o melhor que há no reino. Devemos investir mais nas maratonas. Nada de livros, para que não sejam desviados dos nobres objectivos que pretendemos. As obras do reino e a urbanização estão melhores que nunca. Basta passear nas ruas e observar a sua beleza de autor psicadélico.
No planeamento lembram-nos sempre que faltam os planos. Podemos afirmar que vivemos num reino de líquido negro e que infelizmente não chega para todos. Ainda ninguém conseguiu descobrir porquê. Acredito que um dia isso será possível. Na reinserção social, apesar do controlo estrangeiro, não conseguimos reinserir ninguém. Nunca ninguém me explicou porquê. Nas relações com os outros reinos apenas conseguimos obter más relações. Ninguém gosta de nós. Temos que mudar os dinossauros das embaixadas, e colocar gente jovem. Mas que não sejam republicanos.
A saúde está muito bem como está. No reino todos nascem doentes. Para quê construir hospitais se todos procuram curandeiros e feiticeiros? Os transportes não são necessários para ninguém. Exceptuando a nobreza, a quem mais servirão se não temos estradas e não produzimos nada?! Em relação à habitação, limitamo-nos a partirmos os casebres que a plebe constrói. Em cima das árvores podemos fazer belas casas, regressar às nossas tradições. Sigamos, reforcemos o exemplo do reino do Zimbabué. Partir tudo o que é casebre.
Os nossos juízes do nosso Tribunal Supremo são as pessoas competentes para nos julgarem. Não entendo porque não o fazem. A população está cansada, martirizada do vermelho e preto. Mas com a ajuda chinesa o nosso vulnerável líquido negro vai longe, venerado. Nos próximos tempos no nosso reino um salmo chinês será cantado.
Que viva para sempre a tristeza. A nossa felicidade é ver toda a gente triste. De vez em quando nas vossas intervenções públicas digam assim: a nossa luta actual é acabar com a fome. Isso agrada à comunidade internacional. A bandeira do nosso coração saiu, caiu… está no pau.
Nobres, declaro abertas as Cortes Reais!

O Rei senta-se, monta a compostura, mostra semblante sério, muito preocupado. Afinal os destinos do reino e da escumalha populacional fenecem nas suas mãos. Tudo e todos dele dependem. De repente fica como ouvidos de lebre, atenta-se, intriga-se, pergunta aeriforme:
- Que gritos são estes?!
- É lá fora. São as arruaceiras que estão a kizombar. Só sabem fazer isso e mexer o rabo. – Esclareceu a rainha.
- Meu rei, escorraço-as? – Lambeu-se Epok.
- Deixem-nas em paz senão invadem-nos o Castelo.
O Rei cilindrou com o olhar a assistência. Depois mirou para uma montanha de folhas de papel. Parece atrapalhar-se, recompõe-se, pega em algumas e esclarece solenemente:
- Devido às suas funções prementes daremos primazia aos exércitos. Tem a palavra o marquês do Exército do Ar.
- Grato meu rei! Com os pés bem assentes no chão felicito-o pela construção das grandes cavalariças que permitirão a descida dos cavalos voadores. Seremos um punhal cravado na África Austral e quiçá em toda a África Negra. Viva o rei! Viva o rei! Viva o rei! Viva…
- Basta marquês! Tem a palavra o marquês do Exército do Mar.
- Sim meu rei. Com a compra do porta cavalos real que mais tarde se poderá adaptar a porta-aviões, os mosqueteiros do Mar Real controlarão todo o nosso mar.
- Nada de exageros, os reinos fronteiriços vão ficar desconfiados.
- Não meu rei. Será camuflado, faremos dele um casino marinha flutuante.
- Tem a palavra o marquês do Exército de Terra.
- Viva o rei! Viva o rei! Viva o rei! Viva o…
- Está com a cabeça no ar. Estou a pensar em nomeá-lo vice-marquês do Ar… tem a palavra o marquês do Desemprego.
- Obrigado meu rei. Conseguimos, cumprimos inteiramente com as nossas tarefas. Não há empregos para ninguém, só para estrangeiros.
- Tem a palavra o marquês dos Vice-reinos.
- Meu rei. Os Vice-reinos dizem que estamos a colonizá-los.
- Tem a palavra o marquês das Terras.
- Meu rei, os planos cumpriram-se. As melhores terras estão com a nossa nobreza e com os nossos amigos estrangeiros. Resta para os nacionais a terra para os aterrar.
- Tem a palavra o marquês dos Peixes.
- Majestade! O nosso mar está infestado de peixe mas a população passa fome. Ainda não conseguimos deportar os pescadores do viscondado da Ilha. Gastámos muito dinheiro na importação de peixe.
- O quê?!
- Na importação de milhares de piranhas.
- Ah! Tem a palavra o marquês das Sobras da Guerra.
- Obrigado. As sobras da guerra são piores do que ela. Temos sobras a mais. Sinceramente não sei o que fazer com elas… com eles.
- Tem a palavra o marquês Sem Ciência.
- Esforço-me por adquirir a tal ciência. Levá-la aos locais mais escondidos do reino. Mas há sempre alguém que mo impede. Tem um gosto mórbido pelo analfabetismo.
- Tem a palavra o marquês das Cantinas.
- Muito grato. As cantinas, mercearias, bares, restaurantes, todo o comércio estão nas mãos dos estrangeiros. Plano cumprido a cem por cento.
- Tem a palavra o marquês dos Pasquins.
- Gratíssimo. A rádio dos republicanos sofre de uma teimosa doença. Além do reino, pretende ser escutada nos vice-reinos. Já os ameaçámos com a prisão. Mesmo assim não desistem. Aconselhamos aumentar a importação de piranhas porque há aqui muita comida. Na imprensa real do reino existe uma forte disciplina. Só noticiam conforme os nossos pedidos. Os privados são genuínos pasquins. Só sabem é dizer mal de nós. Acho que assim ficam entretidos e não nos incomodam. São agentes do republicanismo internacional. De qualquer modo é uma subversão que lhes serve de passatempo. E isso não nos incomoda muito. Viva o rei! Viva o seu reino de mil anos!
- Tem a palavra o marquês dos Estábulos.
- Com a devida vénia. Temos a obrigação de dar uma percentagem do que ganhamos e do valor de certos bens para ajudar a combater a fome!
- Adepto do republicanismo?!
-Não… da nobreza! Alguns estábulos passaram a hotéis. Não conseguimos atrair turistas. Apenas vários estrangeiros disfarçados de turistas para conseguirem apanhar alguns diamantes e lavarem dinheiro. Turistas diamantíferos e petrolíferos… turismo sexual.
- Tem a palavra o marquês das Roças.
- Meu rei! Não foi possível até agora como no reino das Palmeiras, transformar roças em indústrias. No curto, a médio e longos prazos, isso será obtido, garantido.
- Tem a palavra o marquês do Santo Ofício.
- Muito obrigado meu bom rei. Acabo de ensinar aos novos discípulos do trânsito dos coches para respeitarem a plebe e não aceitarem tentativas de corrupção. A violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida, a liberdade do ser humano. Como nos ensinou João Paulo II.
- Será possível? Um republicano? Vou atirar-lhe com uma casca de banana. Por outras palavras o marquês quer dizer…
- Magnânimo, referia-me à violência verbal dos republicanos.
- Ah! Sacana. Este é esperto, vou mantê-lo sob vigilância.
- Pode falar marquês da Corrupção.
- Obrigado grande entre os maiores. Estou à espera que inventem um aparelho de medida infinito para medir a nossa corrupção. Com os meios que dispomos não é possível.
- Marquês dos Jovens Frustrados.
- Caridoso rei. Já tentei mil e um artifícios para convencer a juventude. Eles não vão na conversa. Não conseguimos tirá-los do abismo em que os colocámos. E depois com as promessas dos empregos…
- Marquês Parte Casas.
- Magnifico, benevolente! Continuamos com a única coisa que sabemos fazer… partir casebres. Estão todas reduzidas a pó. Ainda temos muito trabalho de destruição. Saiu uma poluição que parecia as cinzas de um imenso vulcão. O nosso Hércules tentou e não conseguiu, ninguém consegue afastar esta poeira que nos aflige.
Imagem: sobraldeprima.blogspot.com


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