Por causa do direito de sucessão ao trono Jingola,
pretexta-se outro fraccionismo? Com o reino fatalmente nas mãos de uma família,
as coisas vão ficar muito complicadas. Será a sucessão à Rei Salomão que
liquidou os opositores?
Ainda não conseguimos desenvolver o turismo.
Apesar dos locais
serem obras-primas da natureza, o que temos
feito até agora
foi praticamente reconstruir os hotéis que existiam. Foram entregues
a rapinadores que praticam preços que só uma minoria suporta… quer dizer que investimos para as minorias. A única indústria que
funciona é o líquido negro. Chega e sobra-nos muito
bem. Além das
pedras filosofais que funcionam mais ou menos não necessitamos de mais
nada.
A nossa justiça
funciona muito lentamente. Quero dizer que
os magistrados andam a pé. Isto é para evitar que a nossa justiça corra. A juventude
tem o melhor que
há no reino. Devemos investir
mais nas maratonas.
Nada de livros,
para que não sejam desviados dos nobres
objectivos que pretendemos. As obras do reino
e a urbanização estão melhores que nunca. Basta passear nas ruas e observar a sua beleza de autor psicadélico.
No planeamento lembram-nos sempre que faltam os planos.
Podemos afirmar que
vivemos num reino de líquido
negro e que infelizmente não chega para todos. Ainda ninguém conseguiu descobrir
porquê. Acredito que
um dia
isso será possível.
Na reinserção social, apesar do controlo estrangeiro,
não conseguimos reinserir
ninguém. Nunca
ninguém me
explicou porquê. Nas relações com os
outros reinos apenas
conseguimos obter más relações.
Ninguém gosta
de nós. Temos que
mudar os dinossauros
das embaixadas, e colocar
gente jovem.
Mas que
não sejam republicanos.
A saúde está muito
bem como está. No reino
todos nascem doentes.
Para quê construir hospitais se todos
procuram curandeiros e feiticeiros? Os transportes
não são
necessários para
ninguém. Exceptuando a nobreza, a quem mais
servirão se não temos estradas e não produzimos nada?! Em
relação à habitação,
limitamo-nos a partirmos os casebres que
a plebe constrói. Em
cima das árvores
podemos fazer belas casas, regressar às nossas tradições. Sigamos, reforcemos o exemplo
do reino do Zimbabué. Partir
tudo o que é casebre.
Os nossos juízes do nosso Tribunal
Supremo são as pessoas
competentes para
nos julgarem. Não
entendo porque não
o fazem. A população está cansada, martirizada do vermelho
e preto. Mas
com a ajuda
chinesa o nosso vulnerável líquido negro
vai longe, venerado. Nos próximos tempos
no nosso reino um salmo
chinês será cantado.
Que viva para
sempre a tristeza.
A nossa felicidade
é ver toda a gente triste.
De vez em
quando nas vossas intervenções
públicas digam assim: a nossa luta
actual é acabar com
a fome. Isso
agrada à comunidade
internacional. A bandeira
do nosso coração
saiu, caiu… está no pau.
Nobres, declaro abertas as Cortes Reais!
O Rei senta-se, monta a
compostura, mostra semblante sério, muito preocupado. Afinal os destinos do
reino e da escumalha populacional fenecem nas suas mãos. Tudo e todos dele
dependem. De repente fica como ouvidos de lebre, atenta-se, intriga-se,
pergunta aeriforme:
- Que gritos
são estes?!
- É lá fora.
São as arruaceiras que
estão a kizombar. Só sabem fazer isso e mexer o rabo. – Esclareceu a rainha.
- Meu rei, escorraço-as? –
Lambeu-se Epok.
- Deixem-nas em paz senão
invadem-nos o Castelo.
O Rei cilindrou com o olhar a assistência.
Depois mirou para uma montanha de folhas de papel. Parece
atrapalhar-se, recompõe-se, pega em
algumas e esclarece solenemente:
- Devido às suas
funções prementes daremos primazia aos exércitos.
Tem a palavra o marquês
do Exército do Ar.
- Grato meu
rei! Com os pés
bem assentes
no chão felicito-o pela construção
das grandes cavalariças que permitirão a descida
dos cavalos voadores.
Seremos um punhal
cravado na África Austral e quiçá em toda a África Negra. Viva
o rei! Viva
o rei! Viva
o rei! Viva…
- Basta marquês!
Tem a palavra o marquês
do Exército do Mar.
- Sim meu
rei. Com
a compra do porta
cavalos real que
mais tarde
se poderá adaptar a porta-aviões, os
mosqueteiros do Mar Real controlarão todo
o nosso mar.
- Nada de exageros, os reinos fronteiriços vão ficar
desconfiados.
- Não meu
rei. Será camuflado, faremos dele um casino marinha flutuante.
- Tem a palavra o marquês do Exército
de Terra.
- Viva o rei! Viva o rei! Viva
o rei! Viva o…
- Está com a cabeça
no ar. Estou a pensar
em nomeá-lo vice-marquês do Ar… tem a palavra o marquês
do Desemprego.
- Obrigado meu
rei. Conseguimos, cumprimos inteiramente com
as nossas tarefas. Não há empregos para ninguém, só
para estrangeiros.
- Tem a palavra o marquês dos Vice-reinos.
- Meu rei.
Os Vice-reinos dizem que estamos a
colonizá-los.
- Tem a palavra o marquês das Terras.
- Meu rei, os planos cumpriram-se. As melhores
terras estão com
a nossa nobreza e com os nossos amigos estrangeiros. Resta para os nacionais a
terra para os aterrar.
- Tem a palavra o marquês dos Peixes.
- Majestade! O nosso mar está infestado de peixe mas a população
passa fome.
Ainda não
conseguimos deportar os pescadores
do viscondado da Ilha. Gastámos muito dinheiro na importação
de peixe.
- O quê?!
- Na importação de milhares de piranhas.
- Ah! Tem a palavra o marquês das Sobras
da Guerra.
- Obrigado. As sobras da guerra
são piores
do que ela.
Temos sobras a mais.
Sinceramente não
sei o que fazer
com elas… com eles.
- Tem a palavra o marquês Sem Ciência.
- Esforço-me por adquirir
a tal ciência.
Levá-la aos locais mais
escondidos do reino. Mas há sempre alguém que mo
impede. Tem um gosto
mórbido pelo
analfabetismo.
- Tem a palavra o marquês das Cantinas.
- Muito grato.
As cantinas, mercearias,
bares, restaurantes,
todo o comércio estão nas mãos dos estrangeiros.
Plano cumprido a cem
por cento.
- Tem a palavra o marquês dos Pasquins.
- Gratíssimo. A rádio dos
republicanos sofre de uma teimosa doença. Além do
reino, pretende ser escutada nos
vice-reinos. Já os ameaçámos com a prisão. Mesmo assim não desistem. Aconselhamos aumentar
a importação de piranhas porque há aqui muita comida.
Na imprensa real do reino
existe uma forte disciplina.
Só noticiam conforme os nossos pedidos.
Os privados são
genuínos pasquins.
Só sabem é dizer
mal de nós.
Acho que assim
ficam entretidos e não nos incomodam. São
agentes do republicanismo internacional. De qualquer
modo é uma subversão
que lhes serve de passatempo. E isso não nos
incomoda muito. Viva
o rei! Viva o seu
reino de mil
anos!
- Tem a palavra o marquês dos Estábulos.
- Com a devida
vénia. Temos a obrigação de dar
uma percentagem do que
ganhamos e do valor de certos bens para ajudar a combater a fome!
- Adepto do republicanismo?!
-Não… da nobreza! Alguns estábulos passaram a hotéis. Não
conseguimos atrair turistas. Apenas
vários estrangeiros disfarçados de
turistas para conseguirem apanhar
alguns diamantes e lavarem dinheiro.
Turistas diamantíferos e petrolíferos… turismo sexual.
- Tem a palavra o marquês das Roças.
- Meu rei! Não
foi possível até
agora como no reino
das Palmeiras, transformar
roças em
indústrias. No curto, a médio
e longos prazos, isso será obtido,
garantido.
- Tem a palavra o marquês do Santo
Ofício.
- Muito obrigado meu bom rei. Acabo de ensinar aos novos discípulos
do trânsito dos coches para
respeitarem a plebe e não aceitarem tentativas de corrupção. A violência destrói o que
ela pretende defender:
a dignidade da vida,
a liberdade do ser
humano. Como nos ensinou João Paulo II.
- Será possível?
Um republicano? Vou atirar-lhe com uma casca
de banana. Por
outras palavras o marquês
quer dizer…
- Magnânimo, referia-me à violência verbal
dos republicanos.
- Ah! Sacana. Este
é esperto, vou mantê-lo sob vigilância.
- Pode falar marquês
da Corrupção.
- Obrigado grande entre os maiores.
Estou à espera que
inventem um aparelho
de medida infinito para
medir a nossa
corrupção. Com
os meios que
dispomos não é possível.
- Marquês dos Jovens Frustrados.
- Caridoso rei.
Já tentei mil
e um artifícios
para convencer a juventude. Eles não vão na conversa. Não
conseguimos tirá-los do abismo em que os colocámos. E depois com as promessas dos
empregos…
- Marquês Parte
Casas.
- Magnifico, benevolente! Continuamos com a única coisa que sabemos
fazer… partir casebres. Estão todas reduzidas a pó.
Ainda temos muito trabalho de destruição. Saiu uma poluição que parecia as cinzas
de um imenso
vulcão. O nosso Hércules tentou e não conseguiu, ninguém
consegue afastar esta poeira que nos aflige.
Imagem: sobraldeprima.blogspot.com
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