E desde a
independência continuamos com uma bandeira e um hino. E um presidente com um
avião, um palácio, uma frota de carros luxuosos e uma guarda presidencial.
Nós, população, não
temos culpa, nada a ver com os erros culposos e criminosos da governação da
república das couves.
O cavaleiro das duas
cores é chegado, anuncia-se:
- Epok, cavaleiro da triste
nomenclatura, findei aqui para
te enfrentar!
- Já sabes que
vais perder!
- Não, por causa da tua barriga. Já notaste que
o teu cavalo
não suporta o teu
peso? Retirarei todo
o liquido negro da tua barriga,
esse mesmo que
nos roubas, e com
o qual a enches, depois
vou-te aprisionar!
- Não temo! A prisão
não foi feita para cães. Fez-se para homens!
- Epok, as tuas prisões foram feitas
para cães como tu.
- Insolente! No fim da peleja
colocar-te-ás de joelhos, serás açoitado
e renovarás desculpas ao nosso rei e rainha. Onde está o teu
pajem? Quem
és tu?
- Não preciso de
pajem. Isso é serviço de barrigudos. Quem sou? Sou o cavaleiro do vosso
destino.
O cavaleiro vermelho e preto colocou um lenço com estas cores
na ponta da sua
lança. Estendeu-a na direcção da jovem princesa. Esta recolheu-o e guardou-o. Os reis mostram algum
mal-estar. Epok espelhou o seu símbolo à
sua rainha.
Mãe e filha
cumpliciam-se, enquanto que alguém da assistência
grita:
- Viva o cavaleiro
vermelho e preto!
Depois todas as
vozes temporais.
- Viva o defensor do nosso condado, que Deus
o proteja!
O rei sinaliza para a justa
começar. Os trombeteiros
levantam os instrumentos, esforçam-se
labiais. Como o troar de canhões
que recomeça. A multidão agita-se. A madeira da liça fende-se,
separa-se, desaba. Um republicano
convicto exclama:
- Deve ser a esquadra dos navios do La Fayette que
acostou.
Outro muito
entusiasmado grita.
- Finalmente
libertos, viva a liberdade!!!
Temendo novo saque,
o rei lamuria-se:
- Não posso sair do palácio. Estou rodeado de incompetentes.
Onde chego só
vejo arruaça e desorganização.
O arauto
interrompe-o para anunciar ao povo
que o rei
vai demitir o conde
de Viana. O rei comenta:
- Nem o arauto me deixa
falar!?.. Calem-me esta personagem.
Solícito interpõe-se o chefe
dos mosqueteiros.
- Ordene meu rei!
- Manda proclamar pelos arautos
do reino e vice-reinos, que sejam
desarmadas todas as trombetas. E que jamais enquanto for vivo,
não quero ouvir,
não falar, nem ver jamais tal instrumental. Prossigam com a justa, no
fim quero ver
quem é esse
cavaleiro.
- Honra a vossa
majestade e ao seu reino.
Ordenarei improvisar umas latas, dessas que trazem os produtos
que importamos, batucar nelas e reavivar
o torneio.
O rei cansado faz um
sinal com
a mão indicando que o guardião se retirasse.
Assim que
o barulho da lataria tiniu ferrugento,
Epok acelerou de surpresa no seu cavalo a fundo.
O cavaleiro vermelho
e preto não
esperava, não estava preparado para tal deselegância habitual. A multidão
compadecida previne-o:
- Conde! Olha o Epok!!!
O cavaleiro, surpreso pela audácia do antagonista aparelhou-se devidamente. Atacou a sua
montada de lança empunhada. A meio do caminho entrechocaram-se. As lanças
repartiram-se no encontro dos escudos protectores. Nenhum
abandonou os cavalos. Desceram a custo devido ao
peso das armaduras. Desembainharam as
espadas, ergueram-nas ao céu druídico e
os raios do sol
beijaram os seus gumes.
Como clarões
enviados por
Deus para que se fizesse justiça
na terra. Mas
quem sairia vencedor?
Epok destaca-se com
ferocidade, como vulgar brutamontes. O outro resiste-lhe. Epok desfere-lhe
golpes com raiva e força bruta, convencido
de que assim aniquila o adversário. Era como a força
bruta contra
a inteligência. O cavaleiro
vermelho e preto
sabe que as banhas
do adversário não
resistem muito tempo.
E acontece, Epok sem forças desfalece, ajoelha-se. O cavaleiro
vencedor encosta a ponta da espada na sua garganta. Ouvem-se duas exclamações:
a primeira da rainha, seguida da princesa.
- Cavaleiro de vermelho e
preto aiué… você é demais!
- Meu herói da nova república!
O rei lança-lhes olhar leonino. Elas
tapam as bocas com
as mãos. Arrependidas reconsideram:
- Viva o nosso
rei!
A multidão descompassada grita desgovernada. - Viva o nosso rei vermelho e preto.
O rei gesticula, dedilha no ar. Comparecem alguns
mosqueteiros, libertam Epok e apontam as suas
espadas para
o cavaleiro lidador. Descobrem-lhe o elmo
para desvendar o seu rosto.
A assistência reconhece-o, afinal é
muito popular. Levantam-se todos e de
receios perdidos berram:
- Viva! Viva o nosso cavaleiro La
Padep!!!
A princesa encerra o
rosto nas mãos. Não
consente que a choradeira se fine. O rei
pergunta-lhe:
- Filha, o que se
passa?
Ela de pranto
fingido, finge insalubre desconsolo:
- Ai!.. Ai!.. meu
pai que desgostoso. O nosso Epok assim varrido…
… Não meu
beija-flor, nunca somos vencidos. Verás o castigo
que espera esse insolente.
- Pai, por favor, omite-lhe a maledicência.
- Muito bem! Serei
benévolo mas, não escapa
a uns bons açoites.
A rainha encontra os olhos
aguados da filha, conflitua, acena pisca
olho ao que a princesa condescende. O seu amado cavaleiro por enquanto não será personagem dantesca.
Epok apoiado pelos
mosqueteiros obriga La Padep
a ajoelhar-se. Dá-lhe uns bons pontapés no traseiro.
Aproveitando a distracção da guarda La
Padep consegue levantar a cabeça e gritar:
- Viva a república!!!
A multidão impressiona-se, ovaciona:
- Viva a república!
Viva a república!
Epok ordena aos
mosqueteiros para que
levantem La Padep
e sentencia-lhe:
- Vá, roga
alvíssaras reais!
- Nunca um La Padep fará isso!!!
Como defensiva, Epok martela-lhe
tremendo soco no rosto,
acto imitado pelos mosqueteiros que lhe socaram, pontapearam por todo o corpo,
abandonando-o às moscas e ratos, aliás
como é hábito no reino Jingola.
A princesa
atentou-se. Alentou-se com a rainha antes que os ratos, que os havia e há de todas as espécies,
incluindo humanos que eram os mais perigosos degustassem o corpo.
Enviou uma aia de confiança que o resgatou para local
seguro. A casa
de um primo adepto
da república.
O paladino Divad sempre com as mãos livres,
grande republicano, faz-se acompanhar por vários
embaixadores e jornalistas partidários da república na deslocação ao condado do
Bom Jesus para observarem a gigantesca
cavalariça e estábulos
que o rei
mandou construir. Servirá para
receber modernos cavalos
voadores. Muito
bem cerceado por mosqueteiros, deles é enviado um com
uma mensagem para
o rei.
Parte com o seu cavalo
mais veloz
que o vento. Chega à estação
de muda de cavalos
do Morro da Maianga. Não está ninguém,
de certeza foram para o torneio da maratona. Abandona o cavalo
para que este descanse. Mas alguém
esfomeado espreita como um rato. Apodera-se do animal
cansado e leva-o. Uma criança contenta-se, hoje a fome se ludibriará:
- Pai, hoje
trincharemos boa carne cavalar.
O mensageiro arrasta um cavalo bem
fresquinho e prossegue a montaria. Por onde passa
parece um furacão.
Vai alarmando:
- Caminho livre! Caminho livre! Mensageiro do rei!
Como habitualmente
as criaturas nas ruas assustam-se.
Ouvem-se, sentem-se as habituais preocupações:
- Quando trotam assim significa que
vamos ter problemas.
- Oh!
Andam sempre bêbados.
- Deve ser por causa do dinheiro do líquido negro.
- Já roubaram, já corromperam mais
bufunfa.
- Não é nada
disso, vão mas é lixar
a vida de alguém.
O mensageiro chega
ao palácio. Entra a cavalgar, não
pára nos guardas sentinelas. Estes em pânico alarmam-se e soam o alarme palaciano. O
mensageiro estafado consegue desembargar a voz.
- Mensagem para o rei!
Chega o chefe
da guarda, interpela-o:
- Mensagem para o rei (?)
- Sim, muito urgente.
- Guardas!
Prendam-no. É um espião
republicano. Ponham-no a ferros com as bolas
mais pesadas.
O desgraçado quer
mostrar a sua
inocência, em
resposta soltam-lhe uma chuvada de socos. Arrastam-no para uma masmorra
especialmente construída e só para republicanos. Fica incomunicável.
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