segunda-feira, 2 de abril de 2012

O CAVALEIRO DO REINO PETROLÍFERO (02)



E desde a independência continuamos com uma bandeira e um hino. E um presidente com um avião, um palácio, uma frota de carros luxuosos e uma guarda presidencial.
Nós, população, não temos culpa, nada a ver com os erros culposos e criminosos da governação da república das couves.

O cavaleiro das duas cores é chegado, anuncia-se:
- Epok, cavaleiro da triste nomenclatura, findei aqui para te enfrentar!
- Já sabes que vais perder!
- Não, por causa da tua barriga. Já notaste que o teu cavalo não suporta o teu peso? Retirarei todo o liquido negro da tua barriga, esse mesmo que nos roubas, e com o qual a enches, depois vou-te aprisionar!
- Não temo! A prisão não foi feita para cães. Fez-se para homens!
- Epok, as tuas prisões foram feitas para cães como tu.
- Insolente! No fim da peleja colocar-te-ás de joelhos, serás açoitado e renovarás desculpas ao nosso rei e rainha. Onde está o teu pajem? Quem és tu?
- Não preciso de pajem. Isso é serviço de barrigudos. Quem sou? Sou o cavaleiro do vosso destino.
O cavaleiro vermelho e preto colocou um lenço com estas cores na ponta da sua lança. Estendeu-a na direcção da jovem princesa. Esta recolheu-o e guardou-o. Os reis mostram algum mal-estar. Epok espelhou o seu símbolo à sua rainha. Mãe e filha cumpliciam-se, enquanto que alguém da assistência grita:
- Viva o cavaleiro vermelho e preto!
Depois todas as vozes temporais.
- Viva o defensor do nosso condado, que Deus o proteja!
O rei sinaliza para a justa começar. Os trombeteiros levantam os instrumentos, esforçam-se labiais. Como o troar de canhões que recomeça. A multidão agita-se. A madeira da liça fende-se, separa-se, desaba. Um republicano convicto exclama:
- Deve ser a esquadra dos navios do La Fayette que acostou.
Outro muito entusiasmado grita.
- Finalmente libertos, viva a liberdade!!!
Temendo novo saque, o rei lamuria-se:
- Não posso sair do palácio. Estou rodeado de incompetentes. Onde chego só vejo arruaça e desorganização.
O arauto interrompe-o para anunciar ao povo que o rei vai demitir o conde de Viana. O rei comenta:
- Nem o arauto me deixa falar!?.. Calem-me esta personagem.
Solícito interpõe-se o chefe dos mosqueteiros.
- Ordene meu rei!
- Manda proclamar pelos arautos do reino e vice-reinos, que sejam desarmadas todas as trombetas. E que jamais enquanto for vivo, não quero ouvir, não falar, nem ver jamais tal instrumental. Prossigam com a justa, no fim quero ver quem é esse cavaleiro.
- Honra a vossa majestade e ao seu reino. Ordenarei improvisar umas latas, dessas que trazem os produtos que importamos, batucar nelas e reavivar o torneio.
O rei cansado faz um sinal com a mão indicando que o guardião se retirasse.
Assim que o barulho da lataria tiniu ferrugento, Epok acelerou de surpresa no seu cavalo a fundo. O cavaleiro vermelho e preto não esperava, não estava preparado para tal deselegância habitual. A multidão compadecida previne-o:
- Conde! Olha o Epok!!!
O cavaleiro, surpreso pela audácia do antagonista aparelhou-se devidamente. Atacou a sua montada de lança empunhada. A meio do caminho entrechocaram-se. As lanças repartiram-se no encontro dos escudos protectores. Nenhum abandonou os cavalos. Desceram a custo devido ao peso das armaduras. Desembainharam as espadas, ergueram-nas ao céu druídico e os raios do sol beijaram os seus gumes. Como clarões enviados por Deus para que se fizesse justiça na terra. Mas quem sairia vencedor?
Epok destaca-se com ferocidade, como vulgar brutamontes. O outro resiste-lhe. Epok desfere-lhe golpes com raiva e força bruta, convencido de que assim aniquila o adversário. Era como a força bruta contra a inteligência. O cavaleiro vermelho e preto sabe que as banhas do adversário não resistem muito tempo. E acontece, Epok sem forças desfalece, ajoelha-se. O cavaleiro vencedor encosta a ponta da espada na sua garganta. Ouvem-se duas exclamações: a primeira da rainha, seguida da princesa.
- Cavaleiro de vermelho e preto aiué… você é demais!
- Meu herói da nova república!
O rei lança-lhes olhar leonino. Elas tapam as bocas com as mãos. Arrependidas reconsideram:
- Viva o nosso rei!
A multidão descompassada grita desgovernada. - Viva o nosso rei vermelho e preto.
O rei gesticula, dedilha no ar. Comparecem alguns mosqueteiros, libertam Epok e apontam as suas espadas para o cavaleiro lidador. Descobrem-lhe o elmo para desvendar o seu rosto. A assistência reconhece-o, afinal é muito popular. Levantam-se todos e de receios perdidos berram:
- Viva! Viva o nosso cavaleiro La Padep!!!
A princesa encerra o rosto nas mãos. Não consente que a choradeira se fine. O rei pergunta-lhe:
- Filha, o que se passa?
Ela de pranto fingido, finge insalubre desconsolo:
- Ai!.. Ai!.. meu pai que desgostoso. O nosso Epok assim varrido…
… Não meu beija-flor, nunca somos vencidos. Verás o castigo que espera esse insolente.
- Pai, por favor, omite-lhe a maledicência.
- Muito bem! Serei benévolo mas, não escapa a uns bons açoites.
A rainha encontra os olhos aguados da filha, conflitua, acena pisca olho ao que a princesa condescende. O seu amado cavaleiro por enquanto não será personagem dantesca.
Epok apoiado pelos mosqueteiros obriga La Padep a ajoelhar-se. Dá-lhe uns bons pontapés no traseiro. Aproveitando a distracção da guarda La Padep consegue levantar a cabeça e gritar:
- Viva a república!!!
A multidão impressiona-se, ovaciona:
- Viva a república! Viva a república!
Epok ordena aos mosqueteiros para que levantem La Padep e sentencia-lhe:
- Vá, roga alvíssaras reais!
- Nunca um La Padep fará isso!!!
Como defensiva, Epok martela-lhe tremendo soco no rosto, acto imitado pelos mosqueteiros que lhe socaram, pontapearam por todo o corpo, abandonando-o às moscas e ratos, aliás como é hábito no reino Jingola.
A princesa atentou-se. Alentou-se com a rainha antes que os ratos, que os havia e há de todas as espécies, incluindo humanos que eram os mais perigosos degustassem o corpo. Enviou uma aia de confiança que o resgatou para local seguro. A casa de um primo adepto da república.
O paladino Divad sempre com as mãos livres, grande republicano, faz-se acompanhar por vários embaixadores e jornalistas partidários da república na deslocação ao condado do Bom Jesus para observarem a gigantesca cavalariça e estábulos que o rei mandou construir. Servirá para receber modernos cavalos voadores. Muito bem cerceado por mosqueteiros, deles é enviado um com uma mensagem para o rei.
Parte com o seu cavalo mais veloz que o vento. Chega à estação de muda de cavalos do Morro da Maianga. Não está ninguém, de certeza foram para o torneio da maratona. Abandona o cavalo para que este descanse. Mas alguém esfomeado espreita como um rato. Apodera-se do animal cansado e leva-o. Uma criança contenta-se, hoje a fome se ludibriará:
- Pai, hoje trincharemos boa carne cavalar.
O mensageiro arrasta um cavalo bem fresquinho e prossegue a montaria. Por onde passa parece um furacão. Vai alarmando:
- Caminho livre! Caminho livre! Mensageiro do rei!
Como habitualmente as criaturas nas ruas assustam-se. Ouvem-se, sentem-se as habituais preocupações:
- Quando trotam assim significa que vamos ter problemas.
- Oh! Andam sempre bêbados.
- Deve ser por causa do dinheiro do líquido negro.
- Já roubaram, já corromperam mais bufunfa.
- Não é nada disso, vão mas é lixar a vida de alguém.
O mensageiro chega ao palácio. Entra a cavalgar, não pára nos guardas sentinelas. Estes em pânico alarmam-se e soam o alarme palaciano. O mensageiro estafado consegue desembargar a voz.
- Mensagem para o rei!
Chega o chefe da guarda, interpela-o:
- Mensagem para o rei (?)
- Sim, muito urgente.
- Guardas! Prendam-no. É um espião republicano. Ponham-no a ferros com as bolas mais pesadas.
O desgraçado quer mostrar a sua inocência, em resposta soltam-lhe uma chuvada de socos. Arrastam-no para uma masmorra especialmente construída e só para republicanos. Fica incomunicável.

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